"Penso com frequ�ncia sobre a morte e lamento deixar este mundo e n�o poder mais trabalhar porque tenho grande prazer trabalhando", afirmou em entrevista � quando completou 80 anos.
Botero nasceu em 19 de abril de 1932 em Medell�n, a segunda maior cidade da Col�mbia, localizada nos Andes do noroeste do pa�s. Filho de um modesto trabalhador do com�rcio, iniciou na arte precocemente e contra a vontade da fam�lia. Aos 15 anos, vendia desenhos com temas de touradas na entrada da Plaza de Toros La Macarena.
"Quando comecei, era uma profiss�o incomum na Col�mbia. N�o era aceita e n�o tinha nenhuma perspectiva. Quando disse � minha fam�lia que iria me dedicar � pintura responderam: 'Bom, est� bem, mas n�o vamos apoi�-lo'. Felizmente, fiz assim mesmo", contou.
Ap�s uma primeira exposi��o em Bogot� nos anos 1950, partiu para a Europa, passando por Espanha, Fran�a e It�lia, onde descobriu a arte cl�ssica. Sua obra tamb�m foi influenciada pelo muralismo do M�xico, onde mais tarde se estabeleceu.
Sua carreira decolou nos anos 1970, ap�s conhecer Dietrich Malov, diretor do Museu Alem�o, em Nova York, com quem organizou exposi��es de sucesso.
"Passei de um completo desconhecido, que n�o tinha sequer uma galeria em Nova York, a ser requisitado pelos maiores 'marchands' do mundo", contou Botero.
As formas dilatadas de sua arte, sua marca registrada, apareceram como uma revela��o em 1957, por acaso, quando ao pintar um bandolim fez uma boca pequena demais para o instrumento e "entre o pequeno detalhe e a generosidade da linha exterior, criou-se uma nova dimens�o, mais volum�trica, mais monumental, mais extravagante", disse.
Botero n�o aceitava que suas figuras fossem classificadas como "gordas". Apaixonado pelo Renascimento Italiano, apresentava-se como "defensor do volume" na arte moderna. Sua escultura, tamb�m marcada pelo gigantismo, ocupou um espa�o muito importante em sua carreira, em boa parte desenvolvida em Pietrasanta (Toscana, It�lia).
Botero se estabeleceu ali, embora nos �ltimos anos tenha vivido entre M�naco e Nova York, onde tinha resid�ncias, e retornava a cada janeiro � sua fazenda nos arredores de Medell�n.
"Gostaria de morrer sem perceber. Em um avi�o seria ideal", confessou � revista Diners, em uma entrevista por seu anivers�rio de 90 anos.
Segundo a imprensa local, morreu por uma pneumonia.
- Arte a c�u aberto e para todos -
O artista, que dizia que nunca sabia o que pintaria no dia seguinte, inspirou-se na beleza, mas tamb�m nos problemas de seu pa�s, afetado por um conflito armado de mais de meio s�culo. Assim, sua obra mostra cenas de guerrilhas, atentados e matan�as.
Em 1995, uma bomba no centro de Medell�n matou 23 pessoas e destruiu parcialmente uma de suas esculturas, "El P�jaro", cujos restos permanecem no local.
Ele afirmava que a pol�tica "n�o � trabalho do pintor", embora tenha feito uma exce��o em uma s�rie sobre agentes da pris�o americana de Abu Ghraib, no Iraque.
Artista latino-americano mais vendido em vida, Botero bateu seu pr�prio recorde em 2022, quando sua escultura "Hombre a Caballo" alcan�ou US$ 4,3 milh�es (R$ 22,43 milh�es na cota��o da �poca), em um leil�o da casa Christie's.
Tamb�m foi um importante patrocinador da arte, com doa��es estimadas em mais de US$ 200 milh�es (mais de US$ 1 bilh�o). O artista doou muitas de suas obras para museus de Medell�n e Bogot�, que em 2012 foram declarados bens de interesse cultural pelo governo.
Foi "o pintor das nossas tradi��es e imperfei��es, o pintor das nossas virtudes. O pintor da nossa viol�ncia e da paz", escreveu o presidente Gustavo Petro na rede social X, antigo Twitter.
Muitas das obras de Botero decoram parques e pra�as, j� que o artista afirmava que as exposi��es ao ar livre s�o uma "aproxima��o revolucion�ria" entre a arte e seu p�blico. Uma ideia que estreou em 1992 em Paris, com uma exposi��o na Champs-�lys�es, e que mais tarde levou ao grande canal de Veneza e para as pir�mides do Egito. Seus personagens com curvas imensas tamb�m desembarcaram na China em 2015, um sonho realizado, segundo comentou.
Casado tr�s vezes e vi�vo da �ltima esposa, a escultora grega Sophia Vari, que morreu em maio, Botero enfrentou o luto pela morte de um dos filhos, de apenas quatro anos, ap�s um acidente de tr�nsito. Mais tarde, outro filho se envolveu em um esc�ndalo de corrup��o.
Seu legado, que inclui mais de 3.000 pinturas e 300 esculturas, foi pautado por sua insaci�vel sede de cria��o. Nos �ltimos anos, trabalhou 10 horas por dia.
A mera ideia de abandonar os pinc�is "me aterroriza mais do que a morte", disse ele.
MEDELL�N