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Estado de Minas GRAY HORSE

Novo filme de Scorcese revive trag�dia dos nativos Osage dos EUA


13/10/2023 16:58
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O vento sopra pelo cemit�rio Grey Horse, nas terras do povo nativo americano Osage, no norte de Oklahoma. Enquanto as �guias voam pelo c�u, Margie Burkhart aponta os t�mulos de seus ancestrais assassinados h� um s�culo.

A trag�dia que afetou sua fam�lia constitui o argumento do novo filme de Martin Scorcese, "Assassinos da Lua das Flores", baseado no bestseller hom�nimo.

Mollie Burkhart, a av� de Margie, interpretada nas telonas pela atriz nativa americana Lily Gladstone, viu como v�rios membros de sua fam�lia (sua m�e, suas irm�s, seu cunhado) foram assassinados, um ap�s o outro, nos anos 1920.

"Escolheram metodicamente quem matar", disse Margie Burkhart � AFP.

Os respons�veis pelos crimes foram o pr�prio marido de Mollie, Erne Burkhart, interpretado no filme por Leonardo DiCaprio, e seu tio William Hale (Robert De Niro), dois colonos brancos que ambicionavam assumir os t�tulos de explora��o petrol�fera desta fam�lia nativa.

- "Ambi��o" -

No in�cio do s�culo XX, as torres de perfura��o cobriam as pastagens da regi�o por dezenas de quil�metros depois que uma das maiores reservas petrol�feras dos Estados Unidos foi descoberta.

Os Osage detinham a exclusividade da explora��o dessa riqueza inesperada. Os direitos n�o poderiam ser transmitidos ou vendidos, apenas herdados.

"Os Osage eram considerados o povo mais rico do mundo", disse Kathryn Red Corn na casa constru�da por seu bisav� Osage em Pawhuska, a sede do atual governo tribal.

Chegaram forasteiros � regi�o, especialmente colonos brancos, com a inten��o de se casar com integrantes desta tribo apenas por seu dinheiro, continua esta octagen�ria de cabelo preto azeviche, olhos penetrantes, rosto quadrado e brincos de prata nas orelhas.

"Assassinavam e depois herdavam suas posses", acrescenta, sentada em sua sala decorada com arte Osage e fotografias em preto e branco de seus antepassados.

Seu av�, Raymond Red Corne pai, tamb�m Osage, suspeitava que sua segunda esposa, uma mulher branca, o estava envenenando. Morreu no come�o dos anos 1920 durante a madrugada.

Quando assistiu a uma exibi��o privada do filme de Scorcese, no ver�o (inverno no Brasil), Margie Burkhart n�o conseguiu evitar reviver com for�a a indigna��o que a acompanha desde sempre.

"Tiraram de mim minhas tias-av�s. Poderia ter tido uma grande fam�lia. Poderia ter tido muitos primos, sobrinhas, sobrinhos, mas cresci sem eles", disse com a voz embargada.

"William n�o precisava ter feito o que fez. Era um dos homens mais ricos do condado de Osage. Tinha muito gado. Muito dinheiro", afirma ela. Assassinou "por simples ambi��o", acrescenta.

- Sem justi�a para os "pisoteados" -

"Simplesmente porque eram nativos americanos, suas vidas tinham menos valor", resume com amargura Jim Gray, cujo bisav� Henry Roan foi assassinado em 1923. Um crime tamb�m orquestrado por William Hale para cobrar um seguro de vida.

Apenas 5% dos assassinatos cometidos em Osage durante a d�cada de 1920 foram objeto de investiga��o federal, estimou Jim Gray, que serviu como chefe da Na��o Osage entre 2002 e 2010.

"N�o houve justi�a para essas fam�lias", disse em Skiatook, ao norte de Tulsa, admitindo que quando ficou sabendo que Hollywood estava interessado neste doloroso passado ficou tomado pela ansiedade.

"Ser�amos coadjuvantes em nossa pr�pria hist�ria? Imagine nossa surpresa quando Scorsese nos contatou, conversou conosco, nos ouviu e reescreveu grande parte do roteiro."

Inicialmente, o roteiro iria se centrar na investiga��o federal, mas acabou passando a se focar no casal Mollie-Ernest.

"Quando virem o filme sentir�o a influ�ncia dos Osage", afirma Gray. Ele espera que a estreia do longa-metragem gere consci�ncia sobre "as pessoas que foram pisoteadas" para que os Estados Unidos se tornassem "o que � hoje".

"Provavelmente, as pessoas n�o querem falar disso. N�o est� em nossos livros de hist�ria, mas devemos conhecer nosso passado, especialmente seus erros, para n�o repeti-los", argumenta.

Margie Burkhart tamb�m espera que o drama vivido pelos Osage n�o seja esquecido. "Dentro de dois ou tr�s anos, quando o filme j� n�o for mais not�cia, espero que as pessoas sigam falando dele", conclui.


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