Nesse pa�s muito religioso, com mais de 90% da popula��o mu�ulmana, a homossexualidade � frequentemente considerada um "desvio". A lei pune com penas de um a cinco anos de pris�o atos denominados "contra a natureza com pessoa do mesmo sexo".
A dupla viol�ncia que teria sido cometida no fim de semana em Kaolack (centro) foi vista por muitos como um atentado ao respeito pelos mortos.
Quatro pessoas suspeitas de "serem os autores intelectuais" foram detidas na segunda-feira (31), em Kaolack, disse um oficial da pol�cia local � AFP, sob condi��o de anonimato.
A Justi�a anunciou no domingo a abertura de uma investiga��o para identificar e punir os autores desta "barb�rie".
Segundo a Promotoria, os respons�veis foram na noite de s�bado (28) ao cemit�rio L�ona Niass�ne, bairro de Kaolack, em busca do t�mulo de um homem enterrado na v�spera. Desenterraram o corpo, retiraram-no da cova e queimaram-no, disseram as autoridades.
De acordo com a imprensa local, os atos foram motivados pela homossexualidade do falecido, um aspecto que a acusa��o n�o menciona e que a AFP n�o conseguiu corroborar.
V�deos amplamente divulgados na imprensa e nas redes sociais mostram um grupo de dezenas de pessoas em torno de um enorme fogo, algumas delas gravando a cena com seus celulares.
Embora seja um acontecimento raro, n�o � a primeira vez que o corpo de uma pessoa apresentada como homossexual � exumado no Senegal. Em 2008 e 2009, foram documentados dois casos no centro e oeste do pa�s.
O romancista senegal�s Mohamed Mbougar Sarr, vencedor do Pr�mio liter�rio franc�s Goncourt de 2021, narra uma cena parecida em sua obra "De purs hommes" ("Homens puros", em tradu��o literal).
A AFP n�o encontrou vest�gios de recentes crema��es p�blicas.
- "Justi�a popular" -
A r�dio RFM, muito ouvida, falou na segunda-feira de uma "como��o" no pa�s.
A se��o local da Anistia Internacional, a ONG Rencontre Africaine pour la Defense des Droits de l'Homme e a Liga Senegalesa para os Direitos Humanos "condenaram firmemente este ato que atenta contra a dignidade do falecido e de sua fam�lia".
A Anistia e outras organiza��es criticam a situa��o dos homossexuais no Senegal, for�ados a se esconder, ou a se exilar. Al�m disso, denunciam uma deteriora��o da sua situa��o nos �ltimos anos.
A homossexualidade � malvista no pa�s, com manifesta��es regulares para pedir uma lei mais dura, e � considerada contr�ria � cultura nacional. Alguns veem-no como um instrumento do Ocidente para impor seus valores.
De acordo com diferentes ve�culos de comunica��o, ap�s a morte do falecido na semana passada, seus familiares tentaram enterr�-lo na cidade santa de Touba, a cerca de dois quil�metros daqui. A informa��o sobre sua homossexualidade chegou at� l�, e as autoridades negaram a permiss�o para enterr�-lo.
A fam�lia tentou, ent�o, que ele descansasse perto de sua casa, mas a vizinhan�a se op�s. Finalmente, enterraram-no em L�ona Niass�ne.
V�rios l�deres religiosos denunciaram o que aconteceu em Kaolack.
Serigne Cheikh Tidiane Khalifa Niasse, principal respons�vel por um bra�o local da influente irmandade religiosa dos Tidianes, manifestou sua "profunda indigna��o e (sua) condena��o categ�rica do ato repreens�vel que foi cometido contra um indiv�duo de quem n�o temos qualquer responsabilidade sobre sua vida privada".
"Este ato n�o pode, sob nenhuma circunst�ncia, ser justificado, ou tolerado", disse, em um comunicado.
Um l�der do coletivo And Samm Jikko Yi ("Juntos pela Salvaguarda dos Valores", em tradu��o literal), que luta para criminalizar a homossexualidade e endurecer as penas, tamb�m considerou "lament�vel" essa justi�a popular. Mas culpou o Estado, que daria aos senegaleses a "sensa��o" de superproteger os homossexuais.
Em dezembro de 2021, o grupo apresentou um projeto de lei que puniria a homossexualidade com entre cinco e dez anos de pris�o. O texto foi rejeitado pela Assembleia Nacional, que considerou que a legisla��o existente j� � bastante severa.
DACAR