
Ap�s semanas de manifesta��es favor�veis ao governo de Jair Bolsonaro nas ruas do pa�s, cresce a mobiliza��o entre grupos de oposi��o ao presidente com a convoca��o de atos simult�neos em diversas cidades para este domingo (07/06). A preocupa��o com o cont�gio do coronav�rus e poss�veis conflitos violentos envolvendo opositores e apoiadores do presidente, no entanto, podem limitar o alcance dessa articula��o.
Em S�o Paulo, por exemplo, ainda n�o houve acordo entre a Secretaria de Serguran�a P�blica do Estado e lideran�as que est�o organizados atos pr� e contra Bolsonaro para que os protestos n�o ocorram ao mesmo tempo na Avenida Paulista.
O presidente, por sua vez, recomendou na manh� desta sexta-feira (05/06) que seus apoiadores n�o saiam �s ruas e instou as pol�cias a reprimiram os protestos contra seu governo. Ele tamb�m sugeriu que pode acionar a For�a Nacional de Seguran�a.
"O outro lado, que luta por democracia, que quer o governo funcionando, quer um Brasil melhor e preza por sua liberdade, que n�o compare�am �s ruas nestes dias para que as for�as de seguran�a, n�o s� estaduais, bem como a nossa, federal, fa�am seu devido trabalho porventura estes marginais extrapolem os limites da lei", disse Bolsonaro.
O Minist�rio P�blico do Distrito Federal e Territ�rio (MPDTF) se manifestou em seguida, por meio de nota, dizendo ter tomado conhecimento "de den�ncias sobre o incentivo, por parte de integrantes da Pol�cia Militar, ao uso de for�a excessiva contra os manifestantes". O comunicado diz que o �rg�o acompanha com aten��o a atua��o das pol�cias e recomendou que manifestantes denunciem eventuais abusos pelos canais da ouvidoria do MPDFT. "� importante que o cidad�o entenda seus direitos e deveres no ato de protestar e que a pol�cia atue dentro desses limites", diz ainda a nota.
Apesar da continuidade da pandemia, a mobiliza��o contra o governo ganhou f�lego depois que integrantes de torcidas organizadas compareceram � Avenida Paulista, em S�o Paulo, no domingo passado, para protestar em favor da democracia e contra posicionamentos autorit�rios de Bolsonaro e de parte dos seus apoiadores.
Desde mar�o, manifesta��es bolsonaristas se tornaram frequentes no pa�s com pedidos pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. O presidente costuma comparecer a esses atos em Bras�lia, sem repudiar as reivindica��es antidemocr�ticas.
Os atos de oposi��o foram convocados para domingo em cidades como S�o Paulo, Rio de Janeiro, Bras�lia, Belo Horizonte, Manaus, Bel�m, Florian�polis e Salvador. H� duas bandeiras principais: o antifascismo, de oposi��o ao governo Bolsonaro, e o antirracismo, com o mote "Vidas Negras Importam", em rea��o ao assassinato de pessoas negras pela pol�cia nas periferias brasileiras. Essa agenda tamb�m ganhou f�lego sob influ�ncia dos intensos protestos iniciados nos Estados Unidos ap�s a morte do negro George Floyd por um policial, em Minneapolis.
A mobiliza��o est� sendo liderada por movimentos de periferia, ativistas negros, integrantes de torcidas organizadas, estudantes secundaristas, grupos antifascistas e a frente Povo Sem Medo, da qual faz parte o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e outras organiza��es. Lideran�as ouvidas pela reportagem disseram que os atos ser�o pac�ficos e que os manifestantes dever�o manter distanciamento entre si e usar m�scaras.
"Ficamos muito revoltados vendo manifesta��es com apologia � ditadura, que ridicularizavam nosso luto (pelas mortes da covid-19)", explicou � BBC News Brasil Danilo P�ssaro, integrante da Gavi�es da Fiel, torcida organizada do Corinthians que liderou o protesto do domingo anterior e estar� presente no pr�ximo.
"A grande maioria (dos integrantes da torcida) � da periferia. Eu sou de Brasil�ndia, o bairro com mais mortes por coronav�rus (em S�o Paulo). Rovolta voc� ver as mortes do seu lado se tornando piada nessas manifesta��es (bolsonaristas)", disse ainda.

No Rio de Janeiro, o principal ato uma marcha prevista para come�ar 15h na est�tua de Zumbi dos Palmares, no Centro tem como tema central a defesa das vidas negras, mas tamb�m marcar� oposi��o ao governador do Estado, Wilson Witzel, e ao presidente Bolsonaro, afirma o ator Brenner Oliveira, militante do Movimento Negro Perifa Zumbi, um dos envolvidos na organiza��o do ato no Rio.
Ser� o segundo domingo de protesto ap�s a morte de Jo�o Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, em sua casa, em uma comunidade de S�o Gon�alo (RJ), durante uma opera��o policial. Os organizadores justificam o ato em meio � pandemia destacando que "est�o sendo mortos dentro de casa".
"Temos v�rias organiza��es na periferia que est�o ajudando com distribui��o de kits de alimentos, de higiene, com m�scaras. Estamos fazendo tudo que o Estado n�o faz", disse Oliveira.
"E o que o Estado quer fazer? Quer invadir a favela, meter tiro na nossa juventude, matar e oprimir. Nossa reivindica��o � que nem de tiro, nem de fome, nem de covid nosso povo vai morrer", completa ele.
- Pandemia trar� desordem social tamb�m ao Brasil, prev� 'guru' da desigualdade
- O que � o movimento 'Somos 70%' e outras iniciativas da sociedade civil contra o governo Bolsonaro?
Pandemia e temor de 'golpe' em rea��o a atos
Alguns fatores, por�m, podem limitar a ades�o aos protestos. Parte dos opositores do governo t�m divergido da convoca��o de atos no momento devido � pandemia e tamb�m por ver o risco de conflitos entre manifestantes de oposi��o e apoiadores de Bolsonaro, que poderiam ser usados como motivo para rea��es autorit�rias.
Os dois argumentos foram citados pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Eliziane Gama (Cidadania-MA), Weverton Rocha (PDT-MA), Jaques Wagner (PT-BA), Veneziano Vital do R�go (PSB-PB) e Otto Alencar (PSD-BA), em uma carta conjunta pedindo o adiamento dos protestos.
"Nosso pedido parte da avalia��o de que, n�o tendo o pa�s ainda superado a pandemia, que agora avan�a em dire��o ao Brasil profundo, saindo das capitais e agravando nos interiores, precisamos redobrar os cuidados sanit�rios e ampliar a comunica��o com a sociedade em prol do distanciamento social", diz um trecho do documento.
J� a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, soltou depois uma nota manifestando apoio do partido aos protestos e orientando "que os participantes das manifesta��es observem da melhor maneira poss�vel, as medidas recomendadas pela OMS, como uso de m�scaras e o distanciamento social".
Segundo Carmen Foro, secret�ria-geral da Central �nica dos Trabalhadores (CUT), a maior central sindical do pa�s apoia os atos, mas n�o far� convoca��es de sua base devido � crise do coronav�rus. Pelo mesmo motivo, tamb�m n�o est�o ocorrendo mobiliza��es em Parais�polis, uma das maiores favelas de S�o Paulo, disse � reportagem Gilson Rodrigues, uma das lideran�as da comunidade.
"Nas periferias, a situa��o da pandemia � mais grave e est�o morrendo pessoas. Apoiamos iniciativas populares de organiza��o democr�tica e pac�fica, mas nesse momento estamos muito focados em ajudar a popula��o que est� desempregada, passando fome."
J� o antrop�logo Luiz Eduardo Soares fez um apelo em suas redes sociais para que as pessoas descontentes com o governo federal n�o saiam �s ruas nesse domingo. Ele disse temer que eventuais conflitos violentos durante as manifesta��es possam servir de pretexto para o presidente desencadear um "golpe", acionando as For�as Armadas e apoiadores do governo nas pol�cias estaduais.
"Companheiras e companheiros, voc�s n�o percebem que Bolsonaro est� armando uma armadilha? Voc�s acham que ter�o condi��es de impedir que (apoiadores do governo) infiltrados promovam quebra-quebra? N�o ter�o. N�o subestimem os fascistas", escreveu em sua conta no Facebook.
"Se voc�s forem �s ruas, e eu adoraria que fossem e eu estaria junto com voc�s, em condi��es normais, n�o s� v�o ajudar a propagar o v�rus em nossos grupos, como v�o oferecer a oportunidade que os fascistas aguardam, ansiosamente, e que t�m sistematicamente estimulado", disse tamb�m.

Nas redes sociais bolsonaristas, circulam v�deos e mensagens convocando apoiadores do presidente a comparecer � Avenida Paulista no domingo � tarde, mesmo local e hor�rio previsto para o protesto convocado contra o governo.
O governador de S�o Paulo, Jo�o Doria, disse no in�cio da semana que n�o ser�o permitidos "manifesta��es de duas partes ao mesmo tempo" na Avenida Paulista. No entanto, ainda n�o houve acordo entre lideran�as dos dois lados.
No in�cio da tarde desta sexta-feira, o secret�rio de Seguran�a P�blica de S�o Paulo, general Jo�o Camilo Campos, afirmou que a pol�cia revistar� as pessoas que pretendam participar das manifesta��es para evitar que portem objetos perigosos. Al�m disso, o governo estadual marcou nova reuni�o, �s 15h30, para tentar novamente convencer os grupos a se manifestarem em dias diferentes - com um ato no s�bado e outro no domingo.
'Terroristas e marginais', reage Bolsonaro

Na quarta-feira, Bolsonaro chamou de "marginais" e "terroristas" grupos antifascistas que est�o mobilizando atos contra seu governo.
O presidente voltou a dizer que n�o pode ocorrer no Brasil o mesmo que no Chile, onde uma onda forte de protestos sacudiu o pa�s no final de 2019. Um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, chegou a afirmar no ano passado que poderia haver um "novo AI-5" caso um cen�rio chileno se repetisse aqui, em refer�ncia ao ato institucional adotado em 1968 que recrudesceu ainda mais a ditadura militar brasileira.
"N�o podemos deixar que o Brasil se transforme no que foi h� pouco tempo o Chile. N�o podemos admitir isso da�. Isso n�o � democracia nem liberdade de express�o. Isso, no meu entender, � terrorismo. A gente espera que este movimento n�o cres�a, porque o que a gente menos quer � entrar em confronto com quem quer que seja", disse Bolsonaro nesta quarta, ao comentar os atos convocados para domingo.
'Amea�as'
Guilherme Boulos, lideran�a do MTST e do PSOL, manteve a convoca��o para ato de domingo ap�s o apelo de Luiz Eduardo Soares. Na vis�o dele, � preciso ir �s ruas justamente para se contrapor �s amea�as autorit�rias.
"Se normalizamos gente defendendo AI-5 e agredindo opositores, jornalistas e enfermeiras em pra�a p�blica, daqui a pouco n�o teremos condi��es de dar as caras", escreveu na sua conta no Facebook.
� BBC News Brasil, Boulos disse que haver� na Avenida Paulista uma "brigada de sa�de" da frente Povo Sem Medo com mais de cem pessoas orientando o p�blico a manter distanciamento uns dos outros e oferecendo �lcool em gel. Al�m disso, ser�o distribu�das quatro mil m�scaras feitas por cooperativas de costureiras do MTST.
"Conversamos com as torcidas organizadas e com o movimento negro. Nossa primeira preocupa��o � fazer a manifesta��o sem ser um vetor de transmiss�o do coronav�rus", disse.
"E a segunda preocupa��o � com o objetivo pac�fico. Para n�s, n�o interessa o conflito. S� para Bolsonaro interessa uma escalada de viol�ncia", acrescentou.
Ele contou ainda que far� um registro na Pol�cia Civil nesta sexta ap�s ter sido alvo de amea�as em grupos bolsonaristas, que circularam a seguinte mensagem. "Guilherme Boulos mora numa casa no bairro do Campo Limpo, no sul de S�o Paulo. Domingo vamos atirar em todo o bairro at� acertar ele."
Diverg�ncias ideol�gicas
Al�m da pandemia e do receio sobre conflitos, diverg�ncias ideol�gicas tamb�m dificultam uma uni�o maior de grupos opositores do governo nas ruas e mesmo por meio de manifestos.
O Movimento Brasil Livre (MBL), que protagonizou grandes manifesta��es pelo impeachment de Dilma Rousseff, pretende ir �s ruas tamb�m contra Bolsonaro ap�s a pandemia. No entanto, n�o vai se unir em atos com torcidas organizadas e grupos antifascistas, por considerar esses grupos violentos.
"Atos com Gavi�es da Fiel e antifa? Nunca. Acho inclusive um tiro no p�", respondeu � reportagem Renan Santos, um dos l�deres o MBL.
"N�s temos um estilo e uma forma (de protestar). Usar badernagem como instrumento de guerra pol�tica n�o faz parte do nosso repert�rio. Se eles querem fazer, eles que fa�am", disse ainda.
Danilo P�ssaro, da Gavi�es da Fiel, repudiou as cr�ticas do MBL e disse que a atua��o da torcida nos protestos pol�ticos � pac�fica.
"As torcidas s�o um extrato da nossa sociedade, que � uma sociedade violenta. Eu acredito que � educando que a gente consegue buscar esse tipo de transforma��o e tamb�m cooperando com o poder p�blico", defendeu.
A dificuldade de reunir lideran�as de diferentes correntes ideol�gicas em uma frente ampla contra o governo Bolsonaro ficou clara esta semana tamb�m na tentativa de ampliar apoios a manifestos pela democracia.
O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, principal lideran�a do PT e da esquerda brasileira, se recusou a assinar o manifesto do Movimento Estamos Juntos, que teve o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), do governador do Maranh�o, Fl�vio Dino (PCdoB), do ex-prefeito de S�o Paulo Fernando Haddad (PT), do ex-governador do Esp�rito Santo Paulo Hartung (MDB), entre outras lideran�as pol�ticas e tamb�m da classe art�stica e intelectual.
Segundo Lula, o texto "tem pouca coisa de interesse da classe trabalhadora".
"Tem muita gente de bem que assinou. E tem muita gente que � respons�vel pelo Bolsonaro. O PT tem que discutir com muita profundidade, para a gente n�o entrar numa coisa em que outra vez a elite sai por cima da carne seca, e o povo trabalhador n�o sai na fotografia", criticou ainda, o ex-presidente.
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
