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Estado de Minas

'Se minha m�e pegar covid-19, n�o sei se terei leito para intern�-la', diz m�dico sobre caos na sa�de em Manaus

M�dicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem relatam momentos de tristeza, dor e desesperan�a com o aumento dos casos e das mortes por covid-19 na capital do Estado do Amazonas


14/01/2021 18:50

O Estado do Amazonas contabiliza até o momento 219.544 casos e 5.879 mortes por covid-19.(foto: Reuters)
O Estado do Amazonas contabiliza at� o momento 219.544 casos e 5.879 mortes por covid-19. (foto: Reuters)

"Pensa no pior cen�rio poss�vel. A situa��o aqui est� dez vezes pior."

Essa foi a resposta que o m�dico Daniel Fonseca deu � reportagem da BBC News Brasil na ter�a-feira (12/01), quando perguntado sobre o atual est�gio da pandemia em Manaus.

Diretor t�cnico do Grupo Samel, organiza��o que controla cinco hospitais e centros m�dicos particulares da capital amazonense, Fonseca antecipou em alguns dias um cen�rio que estava prestes a eclodir: o colapso total do sistema de sa�de manauara.

"Se minha pr�pria m�e pegar covid-19, eu n�o sei se terei um leito para intern�-la", conta.

Nas �ltimas horas, relatos de falta de oxig�nio nos hospitais come�aram a circular pelas redes sociais. Diversos ve�culos de imprensa confirmaram a situa��o desesperadora em muitos dos hospitais da cidade.

Os cilindros com esse g�s s�o essenciais para manter e estabilizar os pacientes com covid-19 grave - al�m de pacientes com outras enfermidades. Sem esse insumo b�sico, muitos indiv�duos hospitalizados v�o acabar morrendo.

Nos �ltimos dias, a BBC News Brasil conversou com profissionais da sa�de que atuam na linha de frente da pandemia em Manaus. Os relatos revelam a dor, o cansa�o e a desesperan�a de quem precisa lidar com uma demanda que s� cresce e parece n�o ter fim.

Falta de tempo e amea�as

Das dezenas de m�dicos, fisioterapeutas, enfermeiros e auxiliares de enfermagem contatados pela reportagem, a maioria preferiu n�o se manifestar.

Foram dois os motivos principais para a recusa. Primeiro, uma absoluta falta de tempo para outra coisa que n�o seja o trabalho.

"Estou dormindo apenas quatro horas por dia, quando durmo", contou, por meio de mensagem de texto, o pneumologista David Luniere, que atua em Manaus.

"Al�m disso, n�s enfrentamos a precariza��o do nosso trabalho. H� contrata��es sendo feitas por sal�rios baix�ssimos. Existe um projeto de explora��o de m�o de obra em curso", aponta Darlisom Sousa Ferreira, presidente da Associa��o Brasileira de Enfermagem - Se��o Amazonas.

"N�s vivemos num cen�rio de exposi��o e com alto risco �s nossas pr�prias vidas. N�o queremos aplausos. Queremos reconhecimento, trabalho digno e melhores condi��es", completa o especialista, que tamb�m � professor da Universidade do Estado do Amazonas.

A segunda raz�o para a recusa em conversar com a imprensa envolve um medo de se expor e correr o risco de perder o emprego ou at� ser perseguido.

"O pessoal que atua na linha de frente n�o est� autorizado a falar. Eles sofrem amea�as de demiss�o caso isso aconte�a", revelou Claudia* (nome fict�cio), por meio de mensagem nas redes sociais.

Os relatos revelam dor, cansaço e desesperança(foto: Reuters)
Os relatos revelam dor, cansa�o e desesperan�a (foto: Reuters)

Sentimentos amb�guos

Ao longo dos �ltimos meses, o enfermeiro J�lio C�zar Fagundes trabalhou em diversas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de Manaus.

Ele admite que a pandemia mexeu com o pr�prio distanciamento profissional exigido na rela��o com os pacientes.

"Eu n�o posso me envolver sentimentalmente no processo de morte de outra pessoa. S� que, com esse grande n�mero de casos, isso � praticamente imposs�vel. Comecei a ter medo, dor, desesperan�a e cansa�o", conta Fagundes, que tamb�m � professor no Centro de Ensino Literatus.

"O problema n�o � nem o cansa�o f�sico. O pior � o cansa�o mental, de ficar pensando no rosto do paciente, nas �ltimas palavras que ele me disse antes de ser intubado", continua.

Fagundes diz que, momentos antes da intuba��o muitas vezes inevit�vel, a maioria dos indiv�duos com covid-19 mostra medo e n�o quer passar pelo procedimento. Outros simplesmente pedem para avisar aos seus familiares o quanto os amam.

Se por um lado a sensa��o � de completo desespero, por outro, os profissionais da sa�de tamb�m relatam um sentimento de uni�o, garra e for�a, mesmo diante de todas as adversidades.

"Estamos colocando a vida dos pacientes em primeiro lugar", afirma Fagundes.

"Sinto que h� uma compreens�o geral entre m�dicos, fisioterapeutas, enfermeiros e toda a equipe que n�o � hora de desanimar ou desistir. Tem muita gente precisando do nosso esfor�o agora", aponta a m�dica Uildeia Galv�o, que trabalha no Pronto-Socorro 28 de Agosto, na capital do Amazonas.

Como chegou at� aqui?

Manaus foi uma das cidades do mundo mais acometidas pela pandemia de covid-19 no primeiro semestre de 2020.

Fotos com os hospitais e os cemit�rios da cidade lotados rodaram o mundo.

Por�m, com o passar do tempo, as curvas de novos casos e mortes pela doen�a come�aram a cair embora nunca tenham zerado completamente.

"Junto a isso, l� em agosto tivemos a massiva divulga��o de um estudo cient�fico que anunciava que Manaus havia alcan�ado a imunidade de rebanho", relembra o epidemiologista Jesem Orellana, da FioCruz Amaz�nia.

Com isso, a popula��o voltou �s ruas e os cuidados com uso de m�scara, lavagem de m�os e distanciamento f�sico foram aos poucos sendo deixados para tr�s.

"Se n�s tiv�ssemos reduzido a curva de cont�gio drasticamente nos meses de setembro e outubro, provavelmente n�o estar�amos vivendo uma situa��o t�o problem�tica agora", completa Orellana.

Para fechar 2020, ainda tivemos elei��es municipais e as festas de final de ano. Esses eventos causaram grandes aglomera��es, criando o cen�rio perfeito para transmiss�o do coronav�rus.

"Foi uma sucess�o de acontecimentos, com um aumento gradativo de casos e interna��es. N�s estamos sofrendo agora pelo que aconteceu h� 15 ou 20 dias", analisa Marcellus Camp�lo, secret�rio de Estado da Sa�de do Amazonas

Na tarde de hoje (14/01), o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), anunciou medidas mais restritivas, como toque de recolher e fechamento de todos os estabelecimentos comerciais (menos as farm�cias) entre 19h e 6h.

Um ingrediente extra

Diversos especialistas observam que essa nova explos�o de casos na cidade de Manaus parece ter algumas caracter�sticas diferentes do ocorrido no primeiro semestre de 2020.

"A gente recebe agora fam�lias inteiras com comprometimento pulmonar que necessitam de interna��o de uma s� vez. H� tamb�m um alto n�mero de pacientes jovens acometidos", diz Galv�o.

Fonseca tamb�m nota esse fen�meno. "Parece que o v�rus come�ou a se comportar de forma completamente diferente. N�o tenho dados cient�ficos para corroborar isso, mas d� a sensa��o que ele est� mais transmiss�vel".

Na �ltima quarta-feira, um grupo de pesquisadores de dez institui��es nacionais e internacionais confirmou a circula��o de uma nova linhagem de coronav�rus em Manaus.

Essa cepa foi detectada em 13 amostras de pacientes com covid-19 coletadas durante o m�s de dezembro.

O que chamou a aten��o dos especialistas foram muta��es nos genes da esp�cula, a estrutura que fica na superf�cie do v�rus e permite que ele invada nossas c�lulas.

No entanto, ainda n�o � poss�vel cravar que a observa��o de uma maior virul�ncia feita pelos profissionais da linha de frente esteja relacionada a essa vers�o atualizada do coronav�rus encontrada nos experimentos.

Mas o fato de as duas informa��es aparecerem no mesmo momento gera curiosidade e precisar� ser investigada mais a fundo nos pr�ximos dias.

"Parece que o v�rus come�ou a se comportar de forma completamente diferente. N�o tenho dados cient�ficos para corroborar isso, mas d� a sensa��o que ele est� mais transmiss�vel" (foto: Reuters)

O que fazer agora?

Com uma demanda por oxig�nio e outros suprimentos que parece n�o ter fim, Manaus precisa urgente da ajuda de outras cidades, estados e, claro, do Governo Federal.

Nas �ltimas horas, 235 pacientes come�aram a ser transferidos para hospitais de Goi�s, Piau�, Maranh�o, Bras�lia, Para�ba e Rio Grande do Norte.

"Ao longo de 2020, n�s conseguimos ampliar a capacidade da rede de sa�de com a cria��o de novos leitos e unidades de UTI. Mas o aumento dos n�meros pressiona demais o sistema", analisa Camp�lo.

Enquanto a��es emergenciais s�o tomadas, os especialistas tamb�m dizem que a popula��o pode e deve contribuir.

"Em primeiro lugar, � importante que as pessoas fiquem em casa e s� procurem o pronto-socorro caso estejam com algum sintoma mais grave", orienta Fonseca.

"Tamb�m vale refor�ar as orienta��es para lidar com esse inimigo invis�vel. Todos precisamos nos conscientizar de que � hora de fazer isolamento social e tomar todas as medidas de preven��o, como uso de m�scaras e limpeza das m�os", complementa Ferreira.

De acordo com os �ltimos n�meros do boletim do Conselho Nacional de Secret�rios da Sa�de (Conass), o Estado do Amazonas contabiliza at� o momento 219.544 casos e 5.879 mortes por covid-19.


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