
O vacin�metro do governo federal apresentava dois n�meros na manh� de 21 de abril: 53,7 milh�es de doses distribu�das e 33,8 milh�es aplicadas, sendo 24,8 milh�es de primeira dose e 9 milh�es de segunda dose.
"Sabe onde o RS est� estocando vacinas? Nos bra�os dos ga�chos! Somos o estado com o maior percentual da popula��o vacinada com a primeira dose", rebateu Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, em uma postagem no Twitter.
A propor��o de doses aplicadas varia bastante de um estado para outro, de 48% no Rio de Janeiro a 96% em Roraima, segundo dados do Minist�rio da Sa�de.
A discrep�ncia levou a Procuradoria-Geral da Rep�blica a pedir oficialmente explica��es aos 27 governadores.
A BBC News Brasil procurou todos os estados e o Distrito Federal para esclarecer a diferen�a num�rica entre doses distribu�das aos governos estaduais e aplicadas pelos munic�pios.
H� diversas explica��es, entre elas:
- Doses reservadas para a segunda aplica��o, mesmo com a mudan�a de orienta��o do Minist�rio da Sa�de para n�o realizar mais reservas
- Demora no tr�nsito da vacina, do envio do governo federal, passando pela distribui��o dos estados e at� chegar a unidades de sa�de dos 5.570 munic�pios
- Demora na aplica��o das vacinas nos munic�pios
- N�meros desatualizados de cidades que aplicaram as doses, mas ainda n�o inseriram os dados no sistema
- Vacinas reservadas para eventuais perdas em caso de acidentes ou falta de energia el�trica, por exemplo
H� estados, inclusive, que adotaram medidas para acelerar a vacina��o, como a Bahia. Segundo a Secretaria de Sa�de do estado, os munic�pios s� recebem novas remessas de vacina caso tenham aplicado 85% das doses entregues antes. "Isto foi fundamental para estimular os gestores municipais a vacinarem rapidamente, tendo em vista o receio de ficarem sem acesso as doses das novas remessas."
O governo do Rio de Janeiro, por outro lado, fala em atraso na notifica��o das vacinas aplicadas e diz que n�o adota medidas punitivas contra munic�pios para estimular a acelera��o da vacina��o ou o registro das aplica��es.
O Paran� lan�ou duas campanhas para incentivar os munic�pios, uma de vacina��o inclusive aos finais de semana e outra at� meia-noite. No Maranh�o, o governo estadual ampliou as equipes de vacina��o em munic�pios com menos de 50 mil habitantes.
Minas Gerais, por outro lado, decidiu abrir m�o da reserva de 5% das doses para casos de perdas e ampliar a oferta nos munic�pios.
Reserva para segunda dose
No fim de fevereiro, ainda na gest�o Pazuello, o Minist�rio da Sa�de divulgou uma orienta��o para estados e munic�pios reservarem as doses referentes � segunda aplica��o do imunizante Coronavac. O objetivo era evitar problemas em caso de atrasos na produ��o pelo Instituto Butantan, feita a partir de insumos importados da China.
Um m�s depois, a pasta decidiu mudar a orienta��o e liberou a aplica��o de todas as doses distribu�das, sem necessidade de reserva para a segunda aplica��o. A mudan�a ocorreu por causa de uma "garantia da estabilidade na entrega semanal de doses produzidas no Brasil".
Mas nem todos os estados seguiram a nova orienta��o.
O governador do Piau� e presidente do F�rum de Governadores do Nordeste, Wellington Dias (PT), tem afirmado que os gestores temem a falta de imunizantes para a segunda aplica��o, dado que o n�mero de doses previstas para abril � menor do que o de mar�o.
Em of�cio enviado ao ministro da Sa�de em 08/04, ele afirma que pretendia "expor preocupa��o" sobre o cronograma de entregas. "Estaremos juntos por mais vacinas para a primeira dose, mas � importante completar a imuniza��o com aplica��o da segunda dose." Estudo divulgado recentemente no Chile apontou que a efic�cia da primeira dose da Coronavac contra mortes por covid � de 40%. Com as duas doses, passa a 80%.
O intervalo entre a aplica��o das duas doses da Coronavac pode variar de 14 a 28 dias, e da AstraZeneca-Oxford, de 4 a 12 semanas.

No caso do Esp�rito Santo, o governo estadual decidiu s� enviar os imunizantes pouco antes de cada aplica��o correspondente. A estrat�gia visa "garantir tempo oportuno da imuniza��o da popula��o e a organiza��o das a��es de vacina��o das cidades", enviando aos 78 munic�pios capixabas o quantitativo referente � segunda dose na terceira semana para a Coronavac e na 11ª semana, para Covishield (AstraZeneca-Oxford). O Par� adota estrat�gia semelhante.
Para o governo baiano, o risco de aplicar o que tiver dispon�vel sem fazer reservas � ter que come�ar tudo de novo. Com a mudan�a, "o Minist�rio da Sa�de tem a obriga��o de garantir a segunda dose em tempo h�bil, sob risco de reduzir ou anular o efeito da primeira dose e ter que imunizar novamente o mesmo p�blico."
O Rio Grande do Sul afirmou seguir � risca as orienta��es do Minist�rio da Sa�de, que determina a cada envio de vacinas para os estados a quantidade que deve ser aplicada como primeira dose e reservada para segunda dose.
Dados diferentes e desatualizados
Atualmente, � poss�vel encontrar pelo menos cinco n�meros diferentes sobre o andamento da vacina��o em cada estado brasileiro sem que nenhuma dessas fontes de informa��o esteja exatamente correta por causa de atrasos no registro e na transmiss�o dos dados.
Como afirma a secretaria estadual de sa�de de Mato Grosso, "existe um descompasso entre a realidade da aplica��o da vacina e a alimenta��o do sistema de vacina��o com os registros oficiais".
Peguemos o exemplo do Paran�.
O boletim do governo do estado apontava na manh� de 20/04 o montante de 2.433.979 doses distribu�das para os munic�pios e 1.984.273 doses aplicadas (81,5% do total).
No mesmo hor�rio, o painel de vacinas do Minist�rio da Sa�de informava 2.840.551 doses distribu�das aos munic�pios e 1.785.042 aplicadas (62,8% do total).
O cons�rcio de ve�culos jornal�sticos, criado em 2020 quando o governo federal mudou a divulga��o de dados da pandemia, indicava 1.911.296 vacinados no Paran� (sem informar o total distribu�do).
O projeto independente Covid-19 no Brasil, coordenado por Wesley Cota, f�sico e pesquisador da Universidade Federal de Vi�osa (UFV), falava em 1.911.510 doses aplicadas no estado (tamb�m sem informar o total distribu�do).
Por fim, a Secretaria de Sa�de do Paran� informou � reportagem da BBC News Brasil em 19/04 ter recebido at� agora 2.858.690 doses de vacinas do governo federal.
E quando eu vou ser vacinado?
No papel, o cronograma atual do Minist�rio da Sa�de prev� 563 milh�es de doses, e a entrega de 154 milh�es delas no primeiro semestre de 2021, considerando apenas vacinas aprovadas pela Anvisa: Coronavac, AstraZeneca-Oxford e Pfizer.
Isso seria suficiente para imunizar o grupo priorit�rio inteiro, mas n�o significa que todas essas 78 milh�es de pessoas estariam vacinadas antes de julho.
Mas os constantes atrasos em importa��es de insumos e vacinas, al�m de problemas na produ��o em territ�rio nacional e a n�o aprova��o de outros imunizantes por parte da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) fazem com que esse cronograma seja cada vez mais dif�cil de ser atingido.
Um estudo recente da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) apontou que que Brasil precisa vacinar 2 milh�es por dia para controlar a pandemia em at� um ano. E atualmente o pa�s mal tem conseguido passar de 1 milh�o por dia.
Se essa propor��o de vacinas distribu�das/aplicadas se mantiver ao longo do ano, a imuniza��o dos grupos priorit�rios pode se estender at� setembro de 2021 no Brasil.
A tend�ncia, at� o momento, � que o in�cio da vacina��o dos adultos n�o priorit�rios deva acontecer pelo menos em meados do segundo semestre de 2021, enquanto a de jovens com menos de 25 anos deve acontecer s� em 2022.
A situa��o dos menores de idade � ainda mais incerta.
Para tentar contornar tanta incerteza, um grupo de volunt�rios montou o site chamado Quando Vou Ser Vacinado, que tenta calcular, a partir dos dados atuais de vacina��o, quando diferentes faixas et�rias devem ser vacinadas no pa�s. Por essa estimativa que vai sendo atualizada constantemente, um morador de S�o Paulo de 18 anos que n�o pertence a nenhum grupo priorit�rio deve receber sua primeira dose em maio de 2022.
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