/imgs.em.com.br/bbc/bbcnews.jpg)
Na sequ�ncia, o profissional de 38 anos vai at� a garagem que converteu em home office para encarar um dia inteiro de trabalho como gerente de projeto s�nior na Origin Energy.
- Os perigos de transformar a cama em local de trabalho, mesmo sem sentir dores
- � melhor deixar o laptop ligado na tomada ou us�-lo na bateria?
Entre as videochamadas com sua equipe de 20 pessoas, ele passeia pela propriedade de 50 acres para arejar a cabe�a — e pode at� terminar o dia de trabalho mergulhando com a esposa em busca de abalones, um tipo de molusco, para o jantar.
� muito diferente da vida que ele tinha em Sydney ao longo da d�cada que antecedeu a pandemia de covid-19, na qual precisava estar presencialmente no escrit�rio de 9h �s 5h.
"Estou muito mais focado no meu trabalho aqui, muito mais produtivo", diz ele sobre a mudan�a para Bruny Island em outubro.
"Quando eu quero fazer uma pausa, eu sinto que estou realmente fazendo uma pausa em que posso desligar. Ent�o, eu tenho muito mais clareza mental."
Para quem est� na situa��o de Scott, a mudan�a repentina para trabalhar de casa foi uma experi�ncia muito positiva.
Mas para aqueles com condi��es de vida diferentes, tem sido um desafio muito maior.
Um estudo recente da Universidade de Stanford, nos EUA, por exemplo, mostrou que apenas 49% dos profissionais americanos fazem login remotamente de um espa�o dedicado ao trabalho, enquanto os 51% restantes trabalham no quarto ou em uma �rea comum da casa.
O tamanho e a localiza��o do espa�o — assim como com quem voc� p compartilha — desempenham um papel significativo para determinar qu�o bem voc� � capaz de trabalhar de casa durante a pandemia.
E isso ajuda a explicar por que as percep��es da experi�ncia de trabalho remoto como uma op��o desej�vel agora variam amplamente de acordo com a idade, sexo e classe socioecon�mica — e pode ajudar a moldar nosso futuro de trabalho h�brido.
Espa�o � um luxo
No esfor�o inicial para migrar para o trabalho remoto, nos voltamos para os problemas imediatos — como trabalhar sem uma mesa adequada, colocar um laptop na altura certa, inserir empresas inteiras no Zoom.
Esses problemas de curto prazo talvez estejam resolvidos, mas pensar em fatores mais amplos leva mais tempo; como, por exemplo, a qualidade do nosso ambiente de trabalho determina o qu�o bem nos sentimos e a chance de querermos continuar assim.
Tiffany Philippou, 32, que mora no norte de Londres, tem uma experi�ncia de home office muito diferente da de Scott na Tasm�nia.
A estrategista de comunica��o e marcas tem se esfor�ado para atender liga��es de clientes e gravar seu podcast, Is This Working, do pequeno apartamento de dois quartos que ela divide com uma colega que trabalha com publicidade.
O wi-fi s� � forte o suficiente para fazer chamadas de v�deo na sala e em um dos quartos, ent�o a dupla tem que fazer uma dan�a das cadeiras di�ria, trabalhando na mesa da cozinha ou nas escrivaninhas dobr�veis %u200B%u200Bem seus quartos de paredes finas, � medida que se adaptam �s agendas imprevis�veis uma da outra.
"Ter que se mover em um espa�o pequeno e lidar com outras pessoas neste tipo de ambiente falso de escrit�rio em sua casa � muito exaustivo", diz ela.
"Seu c�rebro s� consegue lidar com um certo n�mero de decis�es todos os dias, e quanto mais voc� precisa, menos energia e capacidade ele tem para outras coisas."
Philippou diz que observou uma crescente desconex�o entre profissionais mais jovens e mais velhos.
"Acho que h� essa lacuna, em que os gerentes e chefes que t�m um bom escrit�rio em casa n�o est�o percebendo como isso � mentalmente desafiador para as pessoas mais jovens ou menos abastadas que precisam compartilhar espa�o neste novo contexto de trabalho."
A gera��o dos millennials � historicamente vista como a mais entusiasmada com o trabalho remoto. No entanto, pesquisas recentes sugerem que eles podem estar enfrentando atualmente mais dificuldade do que as gera��es anteriores.
Um estudo global com 12 mil funcion�rios, gerentes, l�deres de RH e executivos de n�vel C da empresa de tecnologia Oracle mostrou que 89% das pessoas com idade entre 22 e 25 anos e 83% das pessoas com idades entre 26 e 37 anos disseram que tiveram mais estresse e ansiedade neste ano do que antes, � medida que os problemas de trabalho se estenderam para a vida pessoal devido � falta de barreiras.
Isso se compara a apenas 62% das pessoas com de 55 a 74 anos.
Outro estudo com 2,3 mil funcion�rios americanos remotos do Gensler Research Institute mostrou que, apesar da prepara��o tecnol�gica para o trabalho m�vel, a Gera��o Z e os profissionais millennials eram muito menos propensos do que os baby boomers a ter uma sensa��o de dever cumprido no fim do dia, ou at� mesmo completar tarefas di�rias.
Cerca de 50% dos profissionais da Gera��o Z e da gera��o Y acharam mais dif�cil evitar distra��es (em compara��o com 33% dos baby boomers), enquanto 37% tiveram dificuldade para manter um equil�brio entre a vida profissional e pessoal (em compara��o com 25% dos baby boomers).
"� um problema real para os profissionais mais jovens que n�o t�m sossego em casa porque os gestores apenas esperam que voc� v� em frente, mas se voc� n�o tem nenhum espa�o, como pode trabalhar?" questiona Nicholas Bloom, professor de economia da Universidade de Stanford.
No ano passado, ele conduziu uma pesquisa com 2,5 mil profissionais americanos para ver com que frequ�ncia eles gostariam de trabalhar de casa depois que a pandemia acabar.
"Cerca de um quarto das pessoas realmente n�o quer trabalhar de casa na era p�s-pandemia, e s�o em sua maioria jovens e solteiros em apartamentos pequenos", explica.
"Outro um quarto quer trabalhar para sempre de casa; eles tendem a ser mais velhos, casados, com filhos e a morar em casas."
O papel do som
Kati Peditto, psic�loga de design ambiental da Academia da For�a A�rea dos Estados Unidos, afirma que, independentemente da idade, h� uma s�rie de fatores ambientais importantes — tanto comportamentais quanto f�sicos — que podem desempenhar um papel importante na performance e na satisfa��o com o trabalho.
"O som � importante porque realmente destaca muitas das desigualdades que vemos em termos de trabalho remoto e produtividade", diz ela, observando que indiv�duos n�o brancos e de classe socioecon�mica mais baixa vivem desproporcionalmente em locais com n�veis de ru�do mais altos.
O som tamb�m entra em cena quando h� crian�as envolvidas. Ter filhos em casa pode levar ao que Peditto chama de "distra��o da responsabilidade", que estudos mostram impactar muito mais as mulheres do que os homens que trabalham de casa.
"Indiv�duos que t�m o luxo de ter escrit�rios separados com portas que podem fechar, ou aqueles que podem pagar uma creche ou uma bab�, v�o se sair melhor em termos de produtividade", diz ela.
Criar um espa�o de trabalho separado foi a solu��o que funcionou para Jo van Riemsdijk, cofundadora da ag�ncia de recrutamento CX Talent, que mora em Hertfordshire, na Inglaterra, com o marido e dois filhos.
Quando a pandemia obrigou todos a trabalhar e estudar na mesma casa, com c�modos integrados, eles constru�ram um escrit�rio de 3,9 metros quadrados no jardim com isolamento ac�stico e piso aquecido.
"Para mim, esses cinco passos at� o escrit�rio realmente ajudam a criar uma fronteira entre o trabalho e a casa", explica a profissional de 48 anos.
"Minha produtividade e concentra��o s�o muito maiores do que na minha casa porque h� muita luz natural, � acusticamente agrad�vel e n�o h� distra��es, exceto, talvez, um passarinho voando."
Invas�o de espa�o
Tamb�m pode haver uma vantagem psicol�gica em ter um espa�o de trabalho dedicado, separado do seu espa�o pessoal.
Antes da pandemia, o escrit�rio funcionava como uma �rea neutra com uma est�tica uniforme em que todos tinham acesso aos mesmos recursos.
Mas agora o processo de 'convidar' colegas para entrar em sua casa por meio de videochamadas pode permitir que voc� analise seu pr�prio ambiente f�sico, o que pode ser dif�cil para quem n�o tem uma estante perfeitamente organizada para colocar atr�s da webcam.
"Em vez de sermos julgados por nossa apar�ncia f�sica e profissionalismo — as roupas que vestimos, o qu�o bem cuidados estamos — de repente, vira 'que equipamento voc� tem, qual � a defini��o da sua c�mera, qual a clareza do seu microfone , como � a ilumina��o do seu escrit�rio, e voc� sequer tem um escrit�rio em casa'", explica Peditto.
A videoconfer�ncia tamb�m quebra as barreiras de longa data entre a vida profissional e pessoal, tornando os trabalhadores vulner�veis %u200B%u200Ba compara��es expl�citas e impl�citas de seus espa�os de trabalho — algo que voc� pode sentir mais intensamente trabalhando do quarto do que de um escrit�rio no jardim.
Bloom, de Stanford, destaca que antes da pandemia, quem trabalhava de casa optava por isso — e diz que quest�es em rela��o � privacidade, espa�o, escolha e filhos s�o os quatro principais fatores que tornam �nica a atual experi�ncia de trabalho remoto.
Com uma grande parcela da for�a de trabalho global for�ada a trabalhar de casa, ele acredita que ainda h� muito a aprender sobre as condi��es dom�sticas que fazem alguns prosperarem e outros fracassarem.
"Quando converso com as empresas sobre quem est� voltando para o escrit�rio, um dos grandes fatores �: 'Qual ambiente dom�stico � o mais problem�tico?'", afirma.
"Antes da covid, a regra costumava ser que voc� teria que ter seu pr�prio espa�o exclusivo durante o dia, ent�o voc� n�o deveria trabalhar do quarto porque os empregadores sabiam que era um problema para a sa�de mental. Agora, isso j� era e estamos vendo as consequ�ncias."
Bloom visualiza o modelo de trabalho p�s-pandemia mais como um plano h�brido, em que aqueles que podem trabalhar de casa o far�o cerca de dois dias por semana, nos mesmos dias que outros membros de sua equipe.
� basicamente uma concess�o — um meio-termo feliz para agradar aqueles que gostaram da experi�ncia de trabalho remoto e aqueles que est�o contando os dias para verem sua baia novamente.
- Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Work Life.
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
