A programa��o matinal da TV Globo come�ou um pouco diferente nesta segunda-feira (5/7). Ana Maria Braga n�o comandou o programa Mais Voc� e teve que ir para o hospital ap�s um teste confirmar que ela est� com covid-19.
A apresentadora de 72 anos fez uma chamada de v�deo e entrou ao vivo por alguns minutos no programa. Ela disse que estava sentindo alguns inc�modos nos �ltimos quatro dias, como dor de garganta e cansa�o, mas pensou que tinha um resfriado ou uma gripe mais leve.
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Ao passar pelo exame de rotina nos est�dios da emissora, por�m, ficou constatado que o causador de todos aqueles sintomas era mesmo o coronav�rus. Braga relatou que est� se sentindo relativamente bem e vai permanecer em observa��o e isolamento pelos pr�ximos dias.
Um aspecto que chama a aten��o � o fato de a apresentadora j� estar vacinada desde mar�o, segundo publica��es feitas nas redes sociais.
Sim, testei positivo para COVID-19. J� tinha tomado as duas doses. Estava com sintomas de gripe desde quinta, mas hoje de manh� perdi meu olfato.
— Ana Maria Braga (@ANAMARIABRAGA) July 5, 2021
Tirando o mal estar, passo bem. Obrigada pelo carinho de todos! N�o estou no programa pelo bem estar e sa�de de todos!
Ap�s o an�ncio no programa matinal, n�o demorou muito para que fossem lan�adas mais uma vez na internet d�vidas sobre a efic�cia e a seguran�a dos imunizantes. Segundo essa linha de racioc�nio, o que aconteceu com a artista seria "a prova" de que esses produtos n�o funcionam.
Mas a realidade mostra justamente o contr�rio: os estudos cient�ficos j� nos apontam h� meses que as vacinas contra a covid-19 t�m uma boa efic�cia para barrar os casos mais graves da doen�a. � claro que elas n�o s�o 100% eficazes como, ali�s, nenhum imunizante �, mesmo aqueles que est�o dispon�veis h� d�cadas para outras enfermidades, como sarampo, gripe e catapora.
Outro ensinamento importante dessa experi�ncia � que todos devem continuar se cuidando com o distanciamento f�sico e o uso de m�scaras, at� que uma grande porcentagem da popula��o esteja vacinada e a pandemia fique controlada, com n�meros de casos e mortes bem baixos.
"Enquanto n�o tivermos uma boa parcela imunizada, n�o d� pra relaxar nas medidas preventivas", recomenda a m�dica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm).
Uma resposta bastante complicada
Independentemente do tipo de tecnologia usada, as vacinas t�m um objetivo principal: fazer com que nosso sistema imune seja exposto com seguran�a a um v�rus ou a uma bact�ria (ou pedacinhos espec�ficos deles).
A partir desse primeiro contato, que n�o vai prejudicar a sa�de, nossas c�lulas de defesa geram uma resposta, capaz de deixar o organismo preparado caso o agente infeccioso de verdade resolva aparecer.
Acontece que esse processo imunol�gico � extremamente complicado e envolve um enorme batalh�o de c�lulas e anticorpos. A resposta imune, portanto, pode variar consideravelmente segundo o tipo de v�rus, a capacidade de muta��es que ele tem, a forma como � desenvolvida a vacina, as condi��es de sa�de da pessoa
No meio de todos esses processos, portanto, � muito dif�cil desenvolver um imunizante que seja capaz de evitar a infec��o em si, ou seja, bloquear a entrada do causador da doen�a nas nossas c�lulas.
"Mesmo nos casos em que a vacina n�o consegue prevenir a infec��o, muitas vezes a resposta imune criada a partir dali pode tornar os sintomas menos graves nas pessoas que foram imunizadas, prevenindo assim doen�as mais severas e �bitos", diz a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas, nos Estados Unidos.
Isso ocorre, por exemplo, com as vacinas contra o rotav�rus e a gripe: quem as toma pode at� se infectar, mas o risco de desenvolver formas mais graves da doen�a � reduzido consideravelmente.
Ou seja, elas aprimoram e modificam alguns aspectos do sistema imune que n�o chegam a bloquear a a��o do v�rus no organismo, mas ao menos impedem que ele se replique numa velocidade muito alta e cause estragos que afetam a sa�de de forma preocupante.
E esse poderio � valios�ssimo quando pensamos em termos de sa�de p�blica. Desde 2006, o uso amplo e sistem�tico do imunizante contra o rotav�rus nos Estados Unidos, por exemplo, reduziu em 90% a necessidade de levar crian�as ao hospital para tratar infec��es relacionadas a esse agente.
Tal racioc�nio tamb�m se aplica nas campanhas contra a gripe. As pessoas que tomam a dose anual podem at� pegar o influenza (o v�rus causador dessa doen�a), mas a probabilidade de desenvolver complica��es que exigem interna��o cai consideravelmente.
E isso � bom para o indiv�duo, que n�o desenvolve esses problemas, e para o sistema de sa�de, que n�o fica abarrotado de pacientes no outono e no inverno.
Como est� a situa��o na pandemia atual?
Todos os imunizantes contra a covid-19 j� dispon�veis foram testados para medir a capacidade de evitar os casos graves, que est�o relacionados ao risco maior de hospitaliza��o, intuba��o e morte.
Os produtos que ganharam o aval das ag�ncias regulat�rias foram bem-sucedidos nos estudos feitos ao longo de 2020 e 2021. Podemos dizer que eles reduzem significativamente a chance de desenvolver os sintomas mais graves, que exigem tratamentos intensivos.

Alguns, como os da Pfizer/BioNTech e da Moderna, v�o al�m e previnem at� a transmiss�o do v�rus, como mostram as campanhas de vacina��o em Israel e nos Estados Unidos.
Mas � preciso refor�ar aqui o termo "redu��o de riscos": nenhuma vacina � 100% eficaz, e algumas pessoas que recebem as doses podem, infelizmente, desenvolver as formas mais graves da doen�a. E esse risco � ainda maior em meio ao descontrole pand�mico. Quanto mais o v�rus circula numa comunidade, maior o risco de as pessoas j� vacinadas entrarem em contato com ele e eventualmente se infectarem.
E foi isso o que provavelmente aconteceu com Ana Maria Braga e muitos dos brasileiros que j� receberam as duas doses mas, mesmo assim, pegaram a covid-19. Como a transmiss�o do v�rus continua alt�ssima em todo o pa�s, o risco de epis�dios como esses s� aumenta.
E esses acontecimentos refor�am dois pontos cruciais no atual momento: � necess�rio continuar tomando todos os cuidados preventivos e precisamos urgentemente acelerar o ritmo de vacina��o.
Ganho individual ou um bem coletivo?
Quando tomamos uma vacina, sempre pensamos em nossa pr�pria sa�de: na maioria das vezes, o objetivo � diminuir o risco de pegar determinada doen�a infecciosa. Mas precisamos ter em mente que o benef�cio da vacina��o vai muito al�m de n�s mesmos. Quando nos protegemos, estamos beneficiando por tabela toda a sociedade.
Afinal, o imunizante pode quebrar as cadeias de transmiss�o de um v�rus (quando ele � capaz de prevenir a infec��o) ou diminuir o risco de superlota��o dos leitos hospitalares (quando ele minimiza as chances de evolu��o para os quadros mais graves).
Mas h� um detalhe importante nessa hist�ria. Esses efeitos positivos s� costumam ser sentidos quando uma parcela consider�vel da popula��o est� efetivamente imunizada.
Esse � o cen�rio que se avizinha em locais como Israel, Estados Unidos e Reino Unido, que j� aplicaram as vacinas contra a covid-19 em praticamente metade dos cidad�os: os registros de �bitos, hospitaliza��es e at� de casos nesses locais v�m caindo consideravelmente e j� � poss�vel falar de um controle da pandemia, apesar de as novas variantes do coronav�rus representarem uma amea�a a essa poss�vel luz no fim do t�nel.
"A vacina �, principalmente, um bem coletivo. E esse impacto individual, de prote��o contra determinada doen�a ou suas formas mais graves, cresce � medida que uma maior parte da popula��o � vacinada", explica Garrett.
Fica f�cil entender isso quando analisamos o que aconteceu com outras doen�as. O Brasil s� eliminou o sarampo, por exemplo, quando ultrapassou e mantive a marca de 95% da popula��o imunizada por alguns anos. "Bastou essa cobertura vacinal ca�sse um pouco para que essa doen�a voltasse com tudo em 2017 e 2018", lembra Ballalai.

No caso da covid-19, nosso pa�s est� ainda muito longe de obter qualquer avan�o significativo no controle de casos e mortes. Por ora, cerca de 12% da popula��o est� imunizada contra a covid-19, o que � muito pouco do ponto de vista coletivo. "Ainda temos muito ch�o pela frente para come�armos a observar uma melhora nesse cen�rio", destaca a vice-presidente da SBIm.
S� quando essa taxa de vacinados subir muitos e muitos pontos percentuais (o que s� deve acontecer l� para o final de 2021 e in�cio de 2022), � que ser� poss�vel aventar a possibilidade de uma imunidade coletiva.
Isso, claro, depende n�o apenas da entrega de novos lotes dos imunizantes, mas tamb�m da participa��o ativa de todos os brasileiros, que precisam ir aos postos de sa�de para tomar a primeira e a segunda dose quando forem convocados.
Al�m disso, estamos num momento bastante delicado da pandemia, e todos n�s (vacinados e n�o vacinados) devemos continuar a respeitar aquelas medidas n�o farmacol�gicas, como o distanciamento f�sico, o uso de m�scaras (de prefer�ncia a PFF2 ou a N95), a lavagem de m�os e a aten��o extra com a circula��o de ar pelos ambientes fechados.
Diante de todos os fatos e evid�ncias, o que aconteceu com Ana Maria Braga, portanto, n�o deve ser encarado como motivo para desconfiar ou negar as vacinas, muito pelo contr�rio. O epis�dio s� refor�a e confirma a necessidade de que cada um fa�a a sua parte para que a pandemia seja controlada e possa virar, em breve, um assunto restrito �s mem�rias e aos livros de hist�ria.
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