
Em 2020 na ONU, Bolsonaro atribuiu os inc�ndios florestais a "�ndios e caboclos", disse que eles aconteceram em �reas j� desmatadas e baseou o discurso em elogios ao setor agropecu�rio.
Internamente, Bolsonaro j� minimizou inc�ndios florestais, prometeu que os ind�genas n�o teriam "nem mais um cent�metro de terra", diminuiu a fiscaliza��o ambiental e o combate ao desmatamento e enfraqueceu entidades ambientais do governo federal. Chegou a dizer que o presidente americano, Joe Biden, era "obcecado" com o meio-ambiente e que isso "atrapalha um pouquinho" a rela��o.
J� em seu discurso na ONU em 2021, o presidente elogiou a legisla��o ambiental brasileira e o C�digo Florestal; enalteceu a Amaz�nia e nossas reservas ind�genas; falou sobre neutralidade clim�tica e afirmou que o "futuro do emprego verde est� no Brasil" com "energia renov�vel, agricultura sustent�vel e ind�stria de baixa emiss�o".
Tamb�m fez diversas afirma��es inver�dicas sobre a �rea ambiental: disse que o desmatamento caiu e que 84% da Amaz�nia est� intacta.

Para pesquisadores ambientais e de ci�ncia pol�tica, a dist�ncia entre o atual discurso e quase tr�s anos de gest�o com p�ssimos �ndices de preserva��o ambiental � t�o grande que falas como a feita na ONU s�o totalmente in�cuas.
"N�o � um discurso de dez minutos que muda uma realidade devastada", diz Marcio Astrini, secret�rio-executivo do Observat�rio do Clima (entidade que re�ne 43 organiza��es ambientalistas). "Ele fala que o Brasil tem uma legisla��o ambiental para proteger o ambiente, ele elogia a vegeta��o da Amaz�nia. Tudo isso � verdade, mas nada foi feito por ele. A legisla��o n�o foi feita pela base dele no Congresso, n�o foi ele que plantou a Amaz�nia. O problema n�o � o que o Brasil tem, � o que ele quer destruir."
"Bolsonaro faz propaganda justamente daquilo que ele est� destruindo", afirma Astrini.
O cientista pol�tico Creomar de Souza, professor da Funda��o Dom Cabral e fundador da consultoria pol�tica Dharma, com essa diferen�a em rela��o aos discursos anteriores, Bolsonaro tenta fazer acenos para investidores internacionais, pois percebeu as consequ�ncias negativas de um discurso agressivo em rela��o ao ambiente no cen�rio mundial. No entanto, seu discurso s� atinge seus pr�prios seguidores.
"Ele faz uso extremo de eufemismos e usa informa��es que n�o tem rela��o nenhuma com a realidade. Quando ele tenta vender uma realidade que n�o existe, acaba falando apenas a um grupo pequeno de apoiadores", analisa Souza. "Ele fala para um grupo cada vez menor de pessoas."
Astrini diz que � imposs�vel para Bolsonaro conseguir recuperar sua imagem internacionalmente no quesito ambiental.
"A �nica coisa que ele poderia dizer para mudar a imagem do Brasil � 'aqui est� minha carta de ren�ncia'", afirma o pesquisador do Observat�rio do Clima
Mentiras na tribuna

Astrini aponta para o grande n�mero de dados distorcidos sobre meio-ambiente usados pelo presidente em seu discurso.
Bolsonaro afirmou que "somente no bioma amaz�nico, 84% da floresta est� intacta".
"� uma mentira enorme, um dado produzido por negacionistas a pedido do governo", aponta Astrini.
Imagens registradas pelos sat�lites
Landsat desde 1985 mostram que o Brasil perdeu 18% da Amaz�nia entre 1985 e 2017, segundo an�lise do projeto Mapbiomas - parceria entre universidades, ONGs e institui��es nacionais.
Al�m disso, pelo menos outros 20% da floresta est�o degradados, com presen�a da garimpo, grileiros e madeireiros ilegais, aponta o Observat�rio do Clima.
"A gente s� tem a outra metade da floresta preservada porque o Bolsonaro s� tem um mandato. Se ele estivesse h� 20 anos no poder, a gente n�o tinha mais nada da Amaz�nia", afirma Astrini.
Bolsonaro tamb�m usou de dados distorcidos para afirmar que o desmatamento caiu, o que n�o � verdade.
"Na Amaz�nia, tivemos uma redu��o de 32% do desmatamento no m�s de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior", disse ele.
A compara��o de um m�s com outro do ano anterior n�o d� a dimens�o correta. O desmatamento aumentou por dois anos consecutivos de governo Bolsonaro (2019 e 2020), e deve se manter alta em 2021, cujos dados s� ser�o consolidados no fim do ano.
Segundo o Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais), a m�dia de desmatamento na Amaz�nia foi de 6.719 km² por m�s nos cinco anos anteriores ao governo Bolsonaro e de 10.490 km² por m�s nos dois primeiros anos de seu governo, um aumento de 56%. O pr�prio vice-presidente Hamilton Mour�o j� admitiu que o patamar deve se manter o mesmo em 2021.
O presidente tamb�m enalteceu as reservas ind�genas - nenhuma criada ou favorecida de alguma forma durante seu governo, que diminuiu a fiscaliza��o sobre invas�es e durante o qual o garimpo avan�ou como nunca para dentro da floresta .
Bolsonaro disse na ONU que os "�ndios vivem em liberdade e cada vez mais desejam utilizar suas terras para a agricultura e outras atividades", algo que contradiz totalmente a manifesta��o da grande maioria das entidades ind�genas organizadas.

"O que ele vem tentando fazer � for�ar a abertura das terras ind�genas para a agricultura de terceiro, e n�o para a agricultura dos pr�prios �ndios e para as atividades tradicionais que mant�m a floresta", afirma Adriana Ramos, coordenadora de Pol�tica e Direito do Instituto Socioambiental (ISA).
"As grandes mobiliza��es das articula��es ind�genas justamente contrap�em essa ideia de que a agricultura tem que produzir para quem est� fora", afirma. "A exce��o s�o duas dezenas de ind�genas bancados pelo pr�prio governo para defender isso."
O presidente tamb�m afirmou que "antecipamos, de 2060 para 2050, o objetivo de alcan�ar a neutralidade clim�tica. Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos �rg�os ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal."
"Isso � uma fal�cia, o governo n�o tem a��o nenhuma para neutralizar transmiss�es. Eles protocolaram na ONU o objetivo de alcan�ar at� 2060 a depender de investimento internacional, mas n�o t�m tomado nenhuma atitude em rela��o ", aponta Astrini. "Se depender do seu governo, as transmiss�es v�o dobrar."
O governo Bolsonaro tamb�m n�o fortaleceu os �rg�os ambientais, pelo contr�rio: em sua gest�o as verbas para entidades como o Ibama e o ICMBio ca�ram, as multas do Ibama foram praticamente nulas e a fiscaliza��o ambiental e as opera��es de campo foram paralisadas. O Fundo Amaz�nia, com quase R$ 3 bilh�es para a prote��o florestal em caixa, est� parado desde 2019.

Adriana Ramos, do ISA, afirma que o governo tamb�m manipula dados para favorecer o que eles querem mostrar. "O esfor�o do governo � alterar a legisla��o para que mais modalidades de desmatamento sejam consideradas legais. Ou seja, ele pode at� reduzir o desmatamento ilegal at� 2030, mas vai ser porque ele legalizou o desmatamento."
Ramos tamb�m aponta que o C�digo Florestal (uma legisla��o para proteger matas nativas), elogiado por Bolsonaro no discurso, se dependesse dele e de sua base, j� teria sido totalmente flexibilizado.
Apesar de elogiar a legisla��o - inclusive considerada insuficiente por muitos ambientalistas, incluindo o ISA - o governo tem fragilizado sua implementa��o.
"E a base de Bolsonaro no Congresso apresenta muitas propostas para mud�-lo, o esfor�o de altera��o � enorme", diz Ramos.
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