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Estado de Minas

'Sobrevivi a essa trama macabra': quem � o paciente da Prevent Senior que dep�s � CPI

Advogado foi ouvido ap�s ficar internado em hospital da operadora no in�cio do ano. Ele diz que chegaram a propor que recebesse indevidamente cuidados como se fosse um paciente terminal.


13/10/2021 12:43 - atualizado 13/10/2021 13:03

Tadeu Frederico de Andrade
Tadeu Frederico de Andrade dep�s na CPI ap�s relatar que operadora queria trat�-lo como um paciente terminal (foto: Arquivo pessoal)

Na quinta-feira (07/10), o advogado Tadeu Frederico de Andrade, de 65 anos, dep�s na Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da Covid-19. Ele detalhou, diante dos parlamentares, o que passou enquanto esteve internado em uma unidade da Prevent Senior.

"Sou um sobrevivente dessa trama macabra. Isso � uma coisa horr�vel", diz Tadeu � BBC News Brasil.

Ele foi convocado � CPI para ser ouvido como testemunha. A comiss�o passou a investigar a operadora de sa�de ap�s den�ncias de m�dicos que trabalharam na empresa durante a pandemia.

Um dossi� feito por 15 m�dicos acusa a empresa de ocultar mortes pela covid-19, pressionar profissionais de sa�de para a prescri��o de rem�dios sem efic�cia comprovada contra a doen�a e usar seus hospitais como "laborat�rios" para estudos com medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doen�a (leia mais aqui). A Prevent Senior nega as acusa��es.

Tadeu afirma ter sido uma das v�timas da Prevent Senior. Ele conta que chegou a ser medicado com flutamida, rem�dio usado contra o c�ncer de pr�stata e que n�o tem efic�cia contra a Covid-19. O advogado diz que, ap�s um m�s de interna��o, a equipe do hospital indicou que ele passasse a receber somente cuidados paliativos, sob o argumento de que ele era um paciente em estado terminal.

Os cuidados paliativos, adotados para aliviar dores e outros sintomas, t�m o objetivo de melhorar a qualidade de vida de pacientes com doen�as graves, incluindo aqueles com possibilidades de cura ou em fase terminal (leia mais aqui).

No caso de Tadeu, segundo a fam�lia dele, uma m�dica informou que n�o havia mais alternativas para cur�-lo. Por isso, de acordo com o relato, encaminh�-lo para cuidados paliativos implicaria em deix�-lo sedado, com os aparelhos desligados e sem possibilidade de reanima��o se houvesse uma parada card�aca.

"O aspecto disso tudo � financeiro, n�o � m�dico ou muito menos humanit�rio", diz o advogado.

O que diz a Prevent Senior

Sobre o caso de Tadeu, a Prevent Senior diz, em nota � BBC News Brasil, que n�o pode comentar especificamente sobre o atendimento prestado a ele "por raz�es legais". Por�m, afirma que "todas as condutas m�dicas foram e continuam sendo tratadas com o paciente ou a fam�lia". A empresa argumenta que "jamais o paciente foi submetido a qualquer tratamento para evitar custos".

Desde que as acusa��es contra a operadora vieram � tona, a Prevent Senior tem negado que tenha cometido qualquer irregularidade nos atendimentos durante a pandemia. Os respons�veis pela Prevent alegam que o dossi� feito por m�dicos contra a operadora de sa�de � fruto de dados roubados e manipulados.

Em nota no fim de setembro, a empresa afirmou que as den�ncias s�o "sistem�ticas e mentirosas" e disse que pediu que o caso seja investigado pela Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR).

O caso do Tadeu

Os primeiros sintomas de Covid-19 de Tadeu apareceram em 24 de dezembro passado, segundo ele.

No dia seguinte, fez uma teleconsulta pela Prevent Senior, plano do qual � cliente h� cerca de oito anos.

"Essa teleconsulta durou uns 10 minutos. Eu falei o que tinha, e a m�dica disse que iria me mandar um protocolo preventivo. E depois eu recebi o 'kit covid' por um motoboy", relata o advogado.

Nesse "kit covid", segundo ele, havia medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina, sem efic�cia comprovada contra a doen�a, al�m de vitaminas e prote�nas.

"Me receitaram esses rem�dios mesmo sem diagn�stico preciso. Fiz o exame e tive resultado positivo para a Covid-19 quando eu j� estava tomando esses rem�dios", diz Tadeu.

Tadeu Frederico de Andrade
Advogado conseguiu se recuperar ap�s meses internado em decorr�ncia da Covid-19 (foto: Arquivo pessoal)

Ele diz que n�o viu resultados positivos com o uso dos medicamentos do "kit covid". "Eu s� estava piorando", afirma.

Em 30 de dezembro, no quinto dia em que estava consumindo os rem�dios, ele foi a um hospital da rede Sancta Maggiore, da Prevent Senior, em S�o Paulo (SP).

Tadeu passou por exames que apontaram que, al�m da doen�a causada pelo coronav�rus, ele estava com uma pneumonia bacteriana associada � Covid-19.

O advogado foi internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e logo foi intubado.

"Quando cheguei ao hospital, j� estava com cerca de 50% da capacidade pulmonar comprometida, segundo a m�dica", conta.

"Alguns m�dicos me disseram depois que se eu tivesse sido internado desde o in�cio, se na primeira teleconsulta tivessem me dito para procurar um pronto-socorro e verificassem a pneumonia, talvez eu pudesse at� ser tratado com antibi�tico em casa", diz o advogado.

Ele alega que foi alvo de tratamento experimental, sem autoriza��o da sua fam�lia, com flutamida enquanto estava na UTI.

Conforme m�dicos que atuaram na Prevent Senior, o uso desse rem�dio contra a Covid-19 foi cobrado por m�dicos da dire��o da operadora.

O dossi� elaborado pelos m�dicos que atuaram na operadora diz que tratamentos por meio da flutamida, ozonioterapia, heparina inalat�rio e o "kit covid" eram experimentos nos quais os pacientes com Covid-19 teriam sido usados como "cobaias humanas", mesmo sem terem consentido com essa pr�tica.

A acusa��o de uso indevido de medicamentos sem comprova��o cient�fica contra a Covid-19 na Prevent Senior faz parte de uma das investiga��es do Minist�rio P�blico de S�o Paulo (MP-SP), que criou uma for�a-tarefa para investigar os relatos contra a operadora de sa�de.

Desde que o caso veio � tona, a Prevent Senior tem negado as acusa��es. A empresa afirma que "d� aos m�dicos a prerrogativa de adotar os procedimentos que julgarem necess�rios, com toda a seguran�a e efici�ncia e sempre de acordo com os marcos legais, notadamente seguindo as diretrizes do Conselho Federal de Medicina".

Os familiares de Tadeu detalham que em 28 de janeiro, quando havia quase um m�s que ele estava na UTI, um m�dico ligou para eles e informou que o paciente apresentava melhoras.

Mas em 30 de janeiro, segundo os familiares do advogado, uma m�dica informou que o paciente estava em estado grav�ssimo e n�o apresentava melhoras. Em raz�o disso, passaria a receber cuidados paliativos para "proporcionar mais conforto e dignidade" e disse que "o �bito aconteceria em alguns dias".

"A minha filha n�o concordou. Ela n�o sabia muito bem o que eram cuidados paliativos, mas quando disseram que o �bito aconteceria em poucos dias, ela acendeu um sinal vermelho e n�o aceitou. Ela pediu pra falar com os meus outros dois filhos, mas naquele momento n�o aceitaria", conta Tadeu.

Os filhos do advogado dizem que a permiss�o para cuidados paliativos foi colocada no prontu�rio sem o consentimento deles.

Ainda na tarde do dia 30, a fam�lia de Tadeu fez uma reuni�o com m�dicos da Prevent Senior.

Nesse momento, segundo os parentes, os filhos frisaram que n�o autorizariam o tratamento paliativo proposto pela empresa e disseram que procurariam a Justi�a caso o paciente n�o continuasse na UTI.

Durante a reuni�o, dizem os familiares de Tadeu, os m�dicos concordaram que ele permaneceria na UTI com todo o suporte necess�rio.

Na mesma data, a fam�lia dele contratou um m�dico particular para supervisionar os procedimentos feitos pela Prevent Senior.

"Fizeram isso por medida de seguran�a, depois de tudo", justifica Tadeu.

Esse m�dico, conforme o advogado, apontou que n�o havia qualquer motivo que justificasse que o paciente fosse avaliado como uma pessoa em fase terminal.

Tadeu conta que ficou internado no hospital da Prevent Senior por quatro meses - sendo cerca de dois meses na UTI e os outros em uma cl�nica para recupera��o das sequelas da doen�a.

"Fiz fisioterapia porque n�o conseguia andar e, aos poucos, fui me recuperando", diz.

Comprimidos de hidroxicloroquina
M�dicos alegaram press�o para o uso de medicamentos sem comprova��o cient�fica na Prevent Senior; empresa nega acusa��es. (foto: Getty Images)

Ele ficou mais 90 dias em tratamento em casa. Hoje, diz que se considera recuperado e que a vida voltou ao normal.

"Fiz exames recentes e n�o tenho sequelas nos pulm�es. Na �poca da Covid, cheguei a fazer mais de 10 hemodi�lises, mas agora n�o tenho mais nenhuma sequela nos rins. Agora j� consigo caminhar, fazer esteira, dirigir e trabalhar", comenta.

O depoimento na CPI

Tadeu foi ouvido pela CPI da Covid-19 como cliente da Prevent Senior. Ele diz que chegou � comiss�o ap�s contar ao senador Otto Alencar (PSD-BA), membro da CPI, o que vivenciou com a operadora.

"No princ�pio, eu n�o sabia se poderia falar sobre o meu caso na CPI. Mas quando o senador Otto Alencar falou sobre cuidados paliativos em rela��o � Prevent Senior, tomei vontade e falei que era a hora. A minha filha escreveu sobre a minha hist�ria para ele, uma assessora dele me respondeu e come�amos a conversar", conta. "Me coloquei � disposi��o para falar sobre o meu caso", completa o advogado.

Tadeu considera que esse � apenas um dos passos que tomar� para atribuir responsabilidade � Prevent Senior.

O advogado conta que denunciou o caso ao MP-SP e encaminhou os documentos da sua interna��o para a for�a-tarefa do Minist�rio P�blico que apura as suspeitas sobre a Prevent Senior. Ele ainda n�o teve resposta oficial do �rg�o.

Al�m da CPI no Senado e do MP-SP, a operadora de sa�de tamb�m � alvo de apura��es da Ag�ncia Nacional de Sa�de Suplementar (ANS) - que regula o setor de planos de sa�de - e do Conselho Regional de Medicina do Estado de S�o Paulo (Cremesp).

Tadeu espera que as apura��es apontem se outras pessoas tamb�m foram v�timas de situa��es semelhantes � sua.

"Acho que muita gente pode ter morrido desnecessariamente. E o pior, morreu com a fam�lia achando que estava fazendo o certo, porque ligam falando que v�o dar uma morte mais tranquila e dignidade com os tratamentos paliativos. Te matam porque querem economizar dinheiro", diz.

"A sensa��o que me deu, quando eu me recuperei e soube o que aconteceu, foi de que iriam me matar porque eu estava dando preju�zo. Me viram como um problema para o plano", afirma.

Ele diz que entrou no portal da Prevent Senior, ap�s se recuperar, e descobriu a alt�ssima quantidade de exames a que foi submetido enquanto esteve internado.

"Isso fora procedimentos como intuba��o e hemodi�lise. Olha o preju�zo que � um paciente ficar pelo menos 30 dias na UTI. Ent�o, a� vem a minha conclus�o: o paciente nessa pandemia foi visto como uma vari�vel de alto risco para o plano. Mas banalizar os cuidados paliativos foi uma total falta de �tica", declara Tadeu.

Na nota enviada � BBC News Brasil, a Prevent Senior afirma que "jamais o paciente foi submetido a qualquer tratamento para evitar custos".


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