(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas BBC

Invas�o da Ucr�nia: o que Putin quer com a ofensiva russa?

A expans�o da Otan em pa�ses vizinhos � R�ssia, no Leste Europeu, est� entre os motivos


24/02/2022 19:28 - atualizado 24/02/2022 19:28

Aeronave ucraniana derrubada em durante o primeiro dia de ofensiva russa
Aeronave militar ucraniana derrubada nas proximidades da capital Kiev em durante o primeiro dia de ofensiva russa (foto: BBC)
"Os eventos de hoje est�o ligados n�o ao desejo de violar os interesses da Ucr�nia e do povo ucraniano. Eles est�o ligados aos interesses da pr�pria R�ssia em rela��o �queles que fizeram a Ucr�nia ref�m e tentam us�-la contra nosso pa�s e seu povo. Repito, nossas a��es correspondem � autodefesa de amea�as que criam para n�s e de um desastre maior do que estamos vendo atualmente."

 

Essa declara��o faz parte do discurso feito pelo presidente russo, Vladimir Putin, anunciando a invas�o da Ucr�nia nesta quinta-feira (24/02).

 

Mas o que, afinal, Putin pretende com a ofensiva militar em larga escala? As raz�es por completo n�o s�o t�o claras, mas h� cinco pontos por tr�s da invas�o que v�m sendo levantados pela R�ssia, pela Ucr�nia e seus aliados, e por especialistas em defesa e pol�tica internacional.

 

S�o eles: 1. a expans�o da Otan (alian�a militar liderada pelos Estados Unidos) em pa�ses vizinhos � R�ssia no Leste Europeu, 2. o conflito entre o governo da Ucr�nia e regi�es separatistas ucranianas pr�-R�ssia; 3. a queda do presidente ucraniano pr�-R�ssia em 2014; 4. os profundos la�os hist�ricos entre R�ssia e Ucr�nia, ambos ex-integrantes da Uni�o Sovi�tica; 5. o legado que Putin quer deixar como l�der na hist�ria da R�ssia.

 

Putin acusa frequentemente a Ucr�nia de ser tomada por extremistas (chamados por ele de nazistas em algumas ocasi�es), desde que o ent�o presidente ucraniano Viktor Yanukovych, pr�-R�ssia, foi deposto em 2014, ap�s meses de protestos contra seu governo.

 

A R�ssia ent�o retaliou anexando a Crimeia e desencadeando uma rebeli�o no leste ucraniano liderada por separatistas apoiados pelo Kremlin — o confronto contra as for�as ucranianas j� custou 14 mil vidas.

 

Al�m disso, no ano passado, Putin escreveu um longo texto descrevendo russos e ucranianos como "uma na��o", e descreveu o colapso da Uni�o Sovi�tica em 1991 como a "desintegra��o da R�ssia hist�rica".

 

Para ele, a Ucr�nia moderna foi inteiramente criada pela R�ssia comunista e agora � um Estado fantoche, controlado principalmente pelos Estados Unidos, que representa um risco � seguran�a de seu pa�s.

 

"A R�ssia n�o pode se sentir em seguran�a, se desenvolver e existir com uma amea�a constante que vem do territ�rio da Ucr�nia moderna", disse o presidente russo nesta quinta.

 

"Tudo isso deixa claro que o ataque de Putin n�o � principalmente sobre Otan ou seguran�a. � tudo sobre sua no��o xen�foba, imperialista e distorcida de que a Ucr�nia era inerentemente um ap�ndice da R�ssia, sua independ�ncia foi um acaso hist�rico e seus governantes uns usurpadores. Seu reconhecimento de Estados separatistas na Ucr�nia se estendeu n�o apenas a enclaves controlados por for�as pr�-russas, mas tamb�m a prov�ncias inteiras", escreveu o jornal americano The New York Times em editorial ap�s a invas�o.


mapa com relatos de explosões em cidades ucranianas
(foto: BBC)

Avan�o da Otan no Leste Europeu

O principal ponto levantado por autoridades e especialistas em torno da invas�o da Ucr�nia � o avan�o da Otan, alian�a militar formada em 1949 por 12 pa�ses, incluindo EUA, Canad�, Reino Unido e Fran�a.

 

Os membros concordam em ajudar uns aos outros no caso de um ataque armado contra qualquer Estado-membro. Seu objetivo era originalmente combater a amea�a da expans�o russa durante o p�s-guerra na Europa.

Ap�s o colapso da Uni�o Sovi�tica em 1991, 14 pa�ses do antigo Pacto de Vars�via se tornaram membros da Otan. A alian�a agora conta com 30 membros.

 

A Ucr�nia n�o � um membro da Otan, e embora pleiteie entrada no grupo, n�o h� qualquer previs�o de que isso ocorra num futuro pr�ximo. Atualmente, � um "pa�s parceiro" — isso significa que h� um entendimento de que pode ser autorizado a ingressar na alian�a em algum momento no futuro.

 

Putin afirma que as pot�ncias ocidentais est�o usando a alian�a para cercar a R�ssia e quer que a Otan cesse suas atividades militares na Europa Oriental. Ele argumenta h� muito tempo que os EUA n�o cumpriram com uma garantia feita em 1990 de que a Otan n�o se expandiria para o leste.


Mapa mostra expansão da Otan desde 1997
(foto: BBC)

A movimenta��o de tropas russas na fronteira foi vista como uma tentativa de for�ar a Otan a negar a entrada da Ucr�nia na alian�a militar.

 

"Para n�s, � absolutamente obrigat�rio garantir que a Ucr�nia nunca, jamais se torne um membro da Otan", disse o vice-ministro das Rela��es Exteriores russo, Sergei Ryabkov.

 

Mas a Otan negou peremptoriamente um veto a sua pol�tica de portas abertas a qualquer membro que queira aderir � organiza��o.

 

"Para os EUA e seus aliados, � a chamada pol�tica de deten��o da R�ssia, e de �bvios dividendos pol�ticos. E para nosso pa�s, � uma quest�o de vida ou morte, � uma quest�o do nosso futuro hist�rico como povo. E n�o � um exagero. � assim mesmo. � uma amea�a real n�o s� aos nossos interesses, mas � pr�pria exist�ncia do nosso Estado e � soberania dele. � justamente a linha vermelha tantas vezes citada por mim. Eles a ultrapassaram", disse Putin, em seu discurso televisionado nesta quinta-feira.

 

Segundo a Sputnik, ag�ncia estatal de not�cias da R�ssia, "para Moscou, a considera��o de uma ades�o da Ucr�nia � alian�a ocidental ultrapassa todos os limites aceit�veis, amea�ando gravemente a seguran�a russa". E completa:

 

"Apesar dos diversos apelos diplom�ticos feitos pelo Kremlin na tentativa de que os Estados Unidos e seus aliados europeus levassem em conta as preocupa��es russas ligadas a esse avan�o da organiza��o militar liderada por Washington, n�o foram registrados progressos nas negocia��es".

 

Outras demandas russas s�o: limita��es �s tropas e armas que podem ser implantadas nos pa�ses que aderiram a essa alian�a ap�s a queda da Uni�o Sovi�tica (URSS) e a retirada da infraestrutura militar instalada nos Estados do Leste Europeu ap�s 1997.

 

"Eles realmente querem retornar �s fronteiras existentes na Europa Oriental durante a Guerra Fria", disse � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC) George Friedman, fundador da empresa internacional de previs�o e an�lise Geopolitical Futures, resumindo as demandas de Moscou.

Queda de presidente pr�-R�ssia e conflito Ucr�nia x separatistas

"Estamos vendo que as for�as, que em 2014 realizaram o golpe de Estado na Ucr�nia, tomaram o poder e o seguram com, de fato, procedimentos de elei��es decorativas, finalmente se recusaram da solu��o pac�fica do conflito. Oito anos, oito anos infinitamente longos em que temos feito todo o poss�vel para que a situa��o fosse resolvida por meios pac�ficos e pol�ticos. Tudo em v�o", disse Putin ao anunciar a invas�o da Ucr�nia.

 

Segundo ele, a ofensiva militar contra o pa�s vizinho visa "defender as pessoas que durante oito anos t�m sido submetidas a intimida��o e genoc�dio pelo regime de Kiev. E para isso, vamos tentar alcan�ar a desmilitariza��o e desnazifica��o da Ucr�nia. E levar � Justi�a aqueles que realizaram m�ltiplos crimes sangrentos contra civis, incluindo cidad�os da Federa��o Russa".

 

O l�der russo se refere �s mudan�as pol�ticas na Ucr�nia em 2014, quando o ent�o presidente Viktor Yanukovych, bastante pr�ximo da R�ssia, caiu do cargo em meio a enormes protestos no pa�s.

 

O movimento teve origem justamente na recusa do ent�o mandat�rio em assinar um tratado com a Uni�o Europeia.

 

Parte majorit�ria dos ucranianos defendia a integra��o com o bloco europeu; mas outra parte, por�m, fala russo e prefere estar sob a esfera de influ�ncia de Moscou. Muitos deles estava na Crimeia e na regi�o de Donbas.

 

A crise levou � invas�o da regi�o da Crimeia em 2014 pela R�ssia, que anexou o territ�rio, alegando la�os hist�ricos. Al�m disso, rebeldes apoiados por Moscou declararam a independ�ncia das prov�ncias de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucr�nia, conhecidas conjuntamente como a regi�o de Donbas, o que n�o foi reconhecido pela comunidade internacional desde ent�o. Mas a R�ssia, pouco antes da invas�o em 2022, reconheceu ambas como independentes.

 

"Os principais pa�ses da Otan, para alcan�ar seus objetivos, apoiam em tudo na Ucr�nia os nacionalistas radicais e neonazistas, que, por sua vez, nunca v�o perdoar os moradores da Crimeia e de Sebastopol por terem decidido ser livres para se reunificar com a R�ssia. Eles com certeza v�o para a Crimeia, e assim como em Donbas, com guerra, para matar, como mataram pessoas indefesas os justiceiros de gangues de nacionalistas ucranianos, c�mplices de Hitler durante a Grande Guerra pela P�tria", disse Putin nesta quinta.

 

Em seu discurso de posse, o atual presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, afirmou que sua prioridade seria colocar um fim � insurg�ncia apoiada pela R�ssia nas prov�ncias de Donetsk e Luhansk. O confronto na regi�o deixou mais de 14 mil mortos nos �ltimos anos.

La�os hist�ricos entre R�ssia e Ucr�nia

Em 12 de julho de 2021, em um longo artigo sobre as rela��es com a Ucr�nia, o presidente russo, Vladimir Putin, denunciou que a na��o vizinha estava caindo em um jogo perigoso destinado a transform�-la em uma barreira entre a Europa e a R�ssia, em um trampolim contra Moscou.

 

Putin n�o se referia apenas � dimens�o de seguran�a e geopol�tica, mas sobretudo aos la�os hist�ricos, culturais e religiosos entre a R�ssia e a Ucr�nia, e sobre os quais escreveu extensivamente.

 

O presidente russo relembrou, entre outras coisas, o antigo povo rus, considerado o ancestral comum de russos, bielorrussos e ucranianos, e destacou os muitos marcos da hist�ria comum para defender sua vis�o de que russos e ucranianos s�o "um s� povo".

 

Gerard Toal, professor de rela��es internacionais da Universidade Virginia Tech (EUA), destaca que v�rios elementos que misturam hist�ria, cultura e identidade est�o envolvidos nessa ideia.

 

"A R�ssia n�o v� a Ucr�nia como apenas mais um pa�s. A vis�o dominante do nacionalismo russo � que a Ucr�nia � uma na��o eslava irm� e, al�m disso, o cora��o da na��o russa. Essa � uma ideologia muito poderosa, que faz da Ucr�nia um elemento central da identidade russa", diz ele.

 

"Portanto, h� sentimentos muito fortes quando a Ucr�nia como na��o se define em oposi��o � R�ssia. Isso causa muita raiva e frustra��o na R�ssia, que se sente tra�da por um irm�o. E isso tem a ver com a incapacidade da vis�o dominante entre os russos de reconhecer a identidade nacional ucraniana como algo separado da R�ssia", acrescenta.

 

George Friedman, da Geopolitical Futures, ressalta a import�ncia que a Ucr�nia poderia ter para a R�ssia do ponto de vista cultural ou hist�rico, mas defende que a real preocupa��o de Moscou � geopol�tica.

 

"Sim, os dois pa�ses compartilham uma hist�ria comum. Historicamente, a Ucr�nia foi dominada e oprimida pelos russos. Durante o per�odo sovi�tico, eles sofreram uma grande fome, em que milh�es de pessoas morreram, porque a R�ssia queria exportar os gr�os que produziam. A grande unidade entre o povo russo e ucraniano � um absurdo", argumenta ele.

Legado de Putin

H� mais de duas d�cadas no poder, Putin se mostra mobilizado por revisionismos hist�ricos que remontam n�o s� ao fim da Uni�o Sovi�tica, mas � queda do Imp�rio Russo e at� mesmo � sua forma��o (s�culos atr�s), ressentimentos em rela��o aos Estados Unidos e pot�ncias europeias e preocupa��es com como seu per�odo � frente do governo russo entrar� para a hist�ria.

 

"�s v�speras de completar 70 anos, Putin est� certamente preocupado com seu legado, e um dos 'assuntos inacabados' de sua gest�o � justamente a rela��o com a Ucr�nia", afirmou � BBC News Brasil Brian Taylor, professor de Ci�ncia Pol�tica da Syracuse University e autor de The Code of Putinism (O C�digo do Putinismo, em tradu��o livre).


Presidente Putin anuncia ofensiva militar em pronunciamento televisionado
Presidente Putin anuncia ofensiva militar em pronunciamento televisionado (foto: Reuters)

Ao chegar ao poder, em 1999, Putin se mostrou bem mais do que um burocrata da KGB e passou a operar desde ent�o uma das m�quinas de guerra mais poderosas do mundo — atualizada para se tornar tamb�m a maior especialista em ciberseguran�a global — e a sustentar a economia russa em n�veis de crescimento constantes e robustos, compar�veis aos da China, embora pouco diversificada e dependente basicamente das ind�strias de petr�leo e minera��o.

Com isso, reconstruiu a autoestima russa, o que em parte explica sua popularidade, que ele parece querer colocar � prova com suas recentes a��es.

 

Em entrevista � BBC News Mundo em dezembro passado, Kadri Liik, analista-chefe do Conselho Europeu de Rela��es Exteriores especializado na R�ssia, disse que, em sua opini�o, a quest�o da Ucr�nia � aquela em que as pr�prias emo��es de Putin entram em jogo, ent�o, �s vezes, suas posi��es podem n�o parecer muito racionais.

 

Toal, da Universidade Virginia Tech, apontou � BBC News Mundo haver um argumento segundo o qual Putin foi pessoalmente humilhado pelo que aconteceu com a Ucr�nia durante seu mandato, quando seus esfor�os recorrentes para instalar l�deres pr�-russos em Kiev n�o renderam os frutos esperados. "O argumento geral � que ele est� lutando com esse problema h� algum tempo, sente que � um neg�cio inacabado que faz parte de seu legado e precisa ser corrigido de uma vez por todas."

 

*Com informa��es complementares dos rep�rteres Mariana Sanches (BBC News Brasil), �ngel Berm�dez (BBC News Mundo) e Paul Kirby (BBC News)

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)