Alemanha, �ustria, Reino Unido, China, Coreia do Sul Foram v�rios os pa�ses da Europa e da �sia que tiveram um aumento no n�mero de casos de covid-19 nos �ltimos dias.
A nova subida acontece ap�s uma queda vertiginosa nas infec��es pelo coronav�rus, registrada entre o final de janeiro e o in�cio de mar�o, momento em que a onda provocada pela variante �micron arrefeceu em boa parte do globo.
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Esse per�odo tamb�m foi marcado pelo fim da maioria das medidas preventivas, como o uso de m�scaras em lugares fechados, especialmente nas na��es europeias.
Alguns governos chegaram at� a decretar o fim da pandemia e anunciaram que a covid passaria a ser encarada como uma endemia.
Mas como explicar esse repique nos casos? O al�vio das restri��es � suficiente para justificar a retomada das curvas? E ser� que o Brasil, que passa por um momento de queda nas estat�sticas da pandemia, passar� por uma piora daqui a algumas semanas? A BBC News Brasil ouviu especialistas para entender esse cen�rio e encontrar poss�veis respostas para todos esses questionamentos.
Variante �micron, vers�o 2.0
O aumento de casos em alguns pa�ses europeus e asi�ticos acontece em um momento em que a BA.2, uma variante "prima-irm�" da �micron (a BA.1) come�a a se tornar dominante em muitos territ�rios.
Para ter ideia, a BA.2 apareceu em 68,6% das amostras que foram sequenciadas no Reino Unido entre os dias 27 de fevereiro e 6 de mar�o. A �micron "original" representou 31,1% dos casos no mesmo per�odo.
Esse mesmo padr�o de crescimento da linhagem BA.2, que substitui aos poucos a BA.1, pode ser observado em outros pa�ses, como �ustria, Coreia do Sul e Alemanha.
H� poucas semanas, a BA.1 reinava absoluta em muitos desses locais. Mas a variante perdeu a dianteira, de acordo com o Instituto Sorol�gico da Dinamarca, porque a BA.2 tem uma capacidade de transmiss�o 1,5 vez maior em compara��o com a BA.1. E a BA.1 j� era um dos v�rus mais contagiosos que surgiram no �ltimo s�culo.
"Todas as ondas que vimos nesta pandemia tiveram um componente em comum: o surgimento de uma nova variante do v�rus", interpreta o m�dico Marcio Sommer Bittencourt, professor associado da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.
A boa not�cia � que a BA.2 n�o parece estar relacionada a um quadro mais grave do que o observado at� agora com a BA.1.
"As an�lises preliminares n�o encontraram evid�ncias de um risco maior de hospitaliza��o ap�s a infec��o com a BA.2, em compara��o com a BA.1", escreve a Ag�ncia de Seguran�a em Sa�de do Reino Unido num relat�rio publicado no dia 11 de mar�o de 2022.
Vale lembrar que probabilidade de sofrer complica��es da covid tamb�m est� relacionada � quantidade de vacinas que um indiv�duo tomou ou �s infec��es pr�vias.
Ou seja: quem tem pouca ou nenhuma imunidade contra o coronav�rus pode experimentar consequ�ncias muito piores do que algu�m que est� com as doses em dia, especialmente se considerarmos os grupos de risco (como idosos e portadores de doen�as cr�nicas).
Outro aspecto que traz uma perspectiva otimista para esse novo aumento de casos � que ele tende a subir e cair rapidamente, a exemplo do que ocorreu com a BA.1: em pa�ses onde a BA.2 virou dominante h� algumas semanas, como Dinamarca e Holanda, o registro di�rio de infec��es j� est� em queda novamente, como � poss�vel observar no gr�fico a seguir.
No entanto, uma eleva��o de casos tamb�m pode suscitar um aumento de hospitaliza��es e �bitos, ainda mais nos lugares com uma grande parcela da popula��o suscet�vel pela baixa cobertura vacinal ou pela aus�ncia de ondas maiores at� ent�o.
Ainda n�o se sabe se esse novo aumento de casos na Europa e na �sia est� acometendo apenas quem n�o teve covid recentemente e n�o foi vacinado, ou se tamb�m inclui uma propor��o de indiv�duos que se infectaram com a �micron "original" recentemente.
At� o momento, a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) aponta que "os estudos que avaliaram a taxa de reinfec��o em algumas popula��es sugerem que a infec��o com a BA.1 proporciona uma forte prote��o contra a BA.2, ao menos pelo curto per�odo em que os dados est�o dispon�veis".
"Isso � algo que ainda precisa ser estudado, mas vemos que esse aumento de casos � mais intenso nos pa�ses que n�o t�m uma taxa de vacina��o adequada ou n�o tiveram grandes ondas anteriormente, como a Alemanha", observa Bittencourt.
"J� Portugal, que est� com uma alta cobertura vacinal e teve mais casos de infec��o pr�via, parece possuir uma 'bagagem imunol�gica' maior e n�o experimenta um aumento de casos agora", compara o m�dico.
Liberou geral
Embora a alta transmissibilidade da BA.2 seja a principal explica��o para o cen�rio europeu atual, existe um segundo elemento que precisa ser considerado: o fim de quase todas as medidas restritivas que marcaram os �ltimos dois anos.
Em alguns pa�ses, o uso de m�scaras deixou de ser obrigat�rio em lugares abertos e fechados, n�o h� mais pol�ticas de testagem em massa, nem a recomenda��o de que pacientes infectados com o coronav�rus fiquem em isolamento.
A mudan�a nas pol�ticas p�blicas estimulou mais encontros e aglomera��es, contextos onde o v�rus consegue se espalhar em escala geom�trica e criar novas cadeias de transmiss�o. E isso, junto com a maior taxa de cont�gio da BA.2, ajuda a explicar essa nova subida de casos em algumas partes do mundo.
Passados dois anos desde o in�cio da pandemia, a pol�tica de "covid zero", seguida � risca em lugares como Coreia do Sul, Vietn�, Taiwan, Austr�lia e Nova Zel�ndia, foi abandonada na maioria dos pa�ses. O �nico local que continua apostando nessa estrat�gia � a China.
Mesmo entre os pesquisadores da �rea, soa quase como uma utopia a ideia de eliminar completamente a covid-19 de uma regi�o atrav�s de medidas como o lockdown no atual contexto.

"Do ponto de vista da sa�de p�blica, o fechamento total das atividades pode at� fazer sentido. Mas o custo de parar tudo tamb�m traz custos sociais e econ�micos muito grandes", pondera Bittencourt.
"No in�cio da pandemia, com o risco da doen�a muito alto, o fechamento era necess�rio, por mais caro e custoso que isso fosse", diferencia o m�dico. "Atualmente temos vacinas e muitas pessoas foram infectadas, ent�o o risco � menor, logo as medidas podem ser calibradas para essa situa��o."
Isso n�o significa que o extremo oposto dessa postura, a libera��o completa de todas as restri��es, fa�a sentido.
Para explicar esse ponto de vista, a m�dica Lucia Pellanda, professora de epidemiologia da Universidade Federal de Ci�ncias da Sa�de de Porto Alegre, faz um paralelo entre a covid-19 e o futebol.
"�s vezes, sinto que a pandemia se assemelha a uma partida, em que estamos ganhando de 1 a 0 e simplesmente abandonamos o campo antes de o juiz dar o apito final", compra.
"Quando as coisas come�am a melhorar um pouco, h� uma pressa para dizer que a covid n�o � mais um problema e podemos acabar com todas as medidas preventivas."
"E o que a experi�ncia nos mostra � que n�o existe uma solu��o simples para dar um fim de verdade � pandemia. Precisamos insistir com as vacinas, as m�scaras e o cuidado com as aglomera��es at� o final desta partida", conclui a especialista.
A m�dica e epidemiologista Eleonora D'Orsi, professora do Departamento de Sa�de P�blica da Universidade Federal de Santa Catarina, concorda. "Em muitos lugares, houve uma estagna��o na cobertura vacinal com duas ou tr�s doses e, para piorar, todos os cuidados preventivos foram deixados para tr�s."
"E estamos lidando com uma doen�a sobre a qual n�o conhecemos todos os efeitos de longo e m�dio prazo. V�rios estudos nos indicam que a covid n�o � simples e afeta outras partes do corpo al�m do sistema respirat�rio", alerta.
J� o bioinformata Marcel Ribeiro-Dantas, pesquisador na �rea de sa�de do Instituto Curie, na Fran�a, entende que muitos desses pa�ses fizeram tudo o que podiam e o relaxamento das medidas era um passo natural e razo�vel.
"Houve um esfor�o grande do governo e da popula��o de muitos pa�ses europeus para conter a pandemia. Os primeiros lockdowns aqui na Fran�a foram dr�sticos e todo mundo ficou trancado em casa", lembra o pesquisador.
"Com a estafa natural ap�s dois anos de restri��es e a ampla disponibilidade de vacinas e tratamentos efetivos, parece inevit�vel que alguns pa�ses diminuam as restri��es."
"A quest�o � conseguir transformar obriga��es da lei em recomenda��es que as pessoas sigam no dia a dia. Quando voc� consegue conscientizar a popula��o sobre a necessidade do uso de m�scaras em alguns ambientes, por exemplo, isso passa a fazer parte de uma nova cultura daquele local", completa o especialista.

Essa onda vai chegar ao Brasil?
Enquanto os casos sobem em partes da �sia e da Europa, o Brasil se encontra numa situa��o oposta: as m�dias m�veis de casos e mortes por covid seguem em queda desde janeiro, quando o pa�s registrou o pico da variante �micron.
Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que n�o d� pra dizer que esse mesmo cen�rio de agravamento em curso no exterior tamb�m se repetir� no pa�s.
Em outros momentos da pandemia, coisas que impactaram profundamente o Brasil como a variante gama n�o tiveram o mesmo efeito no cen�rio internacional.
E o inverso tamb�m aconteceu: embora tenha sido avassaladora na �ndia e nos Estados Unidos, a variante delta n�o foi t�o desastrosa do ponto de vista da mortalidade nas cidades brasileiras.
At� fevereiro, a BA.2 representava apenas 0,4% das amostras sequenciadas no Brasil, segundo a Rede Gen�mica da Funda��o Oswaldo Cruz (FioCruz). A BA.1, a �micron original, est� presente em praticamente 99% de todo o material analisado em laborat�rio nesse per�odo.
Bittencourt entende que, diante de uma situa��o mais est�vel da pandemia, "� hora de discutir algumas medidas e ajustar a intensidade delas".
"� claro que isso n�o significa abandonar completamente o uso de m�scaras. Elas s�o necess�rias no transporte p�blico, mas n�o precisam ser usadas em lugares abertos."
"Mas precisamos ter em mente tamb�m que o Brasil flexibilizou a maior parte das medidas h� tempos. Shoppings, restaurantes e casas noturnas est�o funcionando normalmente", completa.
Pellanda acredita que o desafio � fazer essa comunica��o sobre o manejo e a preven��o da covid de forma adequada e contextualizada. "As pessoas precisam avaliar o risco individual e de cada local em que elas estiverem", diz.
"� errado encarar as m�scaras como algo ruim e limitador. Elas precisam ser incorporadas em algumas situa��es, da mesma maneira que fizemos com o uso do cinto de seguran�a nos carros e com a proibi��o de fumar em estabelecimentos fechados", argumenta.
Entre o fim da pandemia e uma nova piora no n�mero de casos relacionada � BA.2 e ao relaxamento das medidas de preven��o, o caminho mais adequado e seguro em qualquer pa�s do mundo continua bem parecido: acompanhar o que est� acontecendo e adequar os cuidados � situa��o de momento.
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