“As vendas do medicamento da Pfizer para o tratamento da miocardite, Vyndamax, aumentaram 77% nos EUA. estrat�gia de venda cruzada forte, destr�i o cora��o das pessoas com seu vax e cura-o com sua outra droga” , indica uma das publica��es compartilhadas no Facebook ( 1, 2) e no Twitter ( 1, 2, 3).
Alega��es semelhantes tamb�m circularam em ingl�se franc�s.
De onde v�m os “77%”?
A cifra de 77%, extra�da de um comunicado de imprensa citado como fonte de alguma das publica��es viralizadas, � verdadeira.Em documentopublicado no site da Pfizer em 28 de julho de 2021, a farmac�utica informou que sua receita no segundo trimestre de 2021 atingiu 19 bilh�es de d�lares, um aumento de 92% em compara��o com o mesmo trimestre do ano anterior.
Esse crescimento se deu em raz�o do aumento das vendas de v�rios tratamentos, como indicou a Pfizer na p�gina cinco do documento, destacando um grande incremento de dois medicamentos em particular: Vyndamax e Vyndaqel.
“Vyndaqel/Vyndamax globalmente teve 77% de crescimento operacional, impulsionado principalmente devido � forte e cont�nua ado��o de sua prescri��o para cardiomiopatia amiloidose por transtirretina nos Estados Unidos, na Europa Ocidental e no Jap�o” , escreveu a Pfizer.
De acordo com os usu�rios que compartilharam as postagens viralizadas, essa demanda crescente por esses dois medicamentos da Pfizer se deve a um aumento nos casos de miocardite, uma inflama��o do m�sculo card�aco que est� entre os poss�veis eventos adversos decorrentes de vacinas contra a covid-19 com RNA mensageiro, das quais a Pfizer � uma das principais fabricantes.
O aumento do uso desses dois medicamentos, contudo, n�o pode ser associado � imuniza��o contra o novo coronav�rus, pois o Vyndaqel e o Vyndamax “n�o s�o indicados para miocardite” , confirmou a Pfizer � equipe de checagem da AFP em 27 de outubro de 2021, mas sim para uma doen�a card�aca completamente diferente.
“O Vyndaqel e o Vyndamax s�o indicados para o tratamento da cardiomiopatia causada por amiloidose por transtirretina de tipo selvagem ou heredit�ria (ATTR-CM)em adultos, a fim de reduzir a mortalidade cardiovascular e a hospitaliza��o por raz�es cardiovasculares” , continuou a Pfizer.
Entretanto, “essa doen�a card�aca rara n�o tem absolutamente nada a ver com a vacina��o contra a covid-19” , indicou � AFP Dariouch Dolatabadi, cardiologista do Hospital Universit�rio de Charleroi, na B�lgica, em 27 de outubro.
“Amiloidose e miocardite s�o duas condi��es completamente diferentes: a amiloidose card�aca por transtirretina � uma condi��o que n�o se deve � inflama��o do cora��o, como pericardite e miocardite, e n�o � derivada do uso de uma droga” , continuou.
Ao contr�rio da miocardite e da pericardite, que foram identificadas como efeitos colaterais muito raros nas vacinas de RNA mensageiro contra a covid-19 - como os imunizantes da Pfizer e da Moderna - pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), Ag�ncia Europeia de Medicamentos (EMA)e pelos Centros de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC)dos Estados Unidos, a amiloidose por transtirretina de tipo selvagem ou heredit�ria n�o foi relatada por nenhuma dessas autoridades de sa�de.
Portanto, n�o � poss�vel que a Pfizer tenha obtido lucro com a venda de Vyndaqel e Vyndamax devido aos casos de miocardite provocados pela vacina��o contra o novo coronav�rus.
Al�m disso, cardiologistas entrevistados pela equipe de checagem da AFP assinalam que os casos de miocardite p�s-vacina��o, detectados especialmente em adolescentes e jovens adultos, principalmente homens, s�o muito raros.
“O risco de miocardite devido � infec��o por covid-19 � muito maiordo que devido � vacina. Portanto, a rela��o benef�cio-risco da vacina��o anticovid em um pa�s onde o v�rus continua circulando se mant�m positiva” , afirmou Dariouch Dolatabadi.
Um estudopublicado em 30 de agosto de 2021 pelos CDC mostrou que os pacientes infectados por covid-19 entre mar�o de 2020 e janeiro de 2021 tinham em m�dia quase 16 vezes mais chance de desenvolver miocardite do que aqueles que n�o contra�ram o v�rus.
Na Fran�a, at� 30 de setembro de 2021, 377 casosde miocardite foram relatados pela Ag�ncia Nacional de Seguran�a de Medicamentos e Produtos de Sa�de (ANSM) para a vacina da Pfizer - “a grande maioria deles n�o graves e resolvidos” - e 106 casospara a vacina da Moderna.
De acordo com o �ltimo relat�rio de vigil�ncia das autoridades de sa�de francesas, publicado em 14 de outubro de 2021, 101.843 casos de eventos adversos foram relatados entre mais de 96 milh�es de doses desde o in�cio da vacina��o na Fran�a, 75% deles n�o graves.
No Brasil, a Anvisa est� investigandouma suspeita de rea��o adversa p�s-vacina��o com o imunizante da Pfizer em S�o Paulo, mas, at� o momento, os dados apresentados indicaram “a aus�ncia de rela��o causal entre a administra��o da vacina e o evento adverso” .
A amiloidose por transtirretina
O Vyndaqel e o Vyndamax, ambos produzidos pela Pfizer, s�o dois medicamentos semelhantes, pois cont�m a mesma mol�cula, tafamidis, em formas diferentes. O Vyndamax foi desenvolvido para maior conforto do paciente, pois sua formula��o permite a ingest�o de apenas uma c�psula por dia, em compara��o com os quatro comprimidos indicados para as pessoas tratadas com Vyndaqel.
Ambos medicamentos s�o usados para tratar a amiloidose card�aca por transtirretina, uma doen�a causada ou pela muta��o anormal de uma prote�na, a transtirretina, ou pelo ac�mulo de transtirretina em v�rios �rg�os.
“Nosso f�gado produz uma prote�na chamada transtirretina que, normalmente, � rapidamente degradada para que possa ser eliminada” , explicou � equipe de checagem da AFP no �ltimo dia 27 de outubro Th�o Pezel, cardiologista do Hospital Lariboisi�re, em Paris.
Na amiloidose card�aca, o cora��o do paciente pode tornar-se at� duas ou tr�s vezes mais espesso, correndo o risco de ter uma insufici�ncia card�aca. De acordo com um estudo, a expectativa de vida m�dia dos pacientes com amiloidose card�aca por transtirretina � de tr�s a cinco anos a partir do diagn�stico.
At� 2018, o tratamento( 1) para as formas mais severas de amiloidose heredit�ria era um transplante de f�gado, que, muitas vezes, tinha que ser associado a um transplante de cora��o.
“O alzheimer do cora��o”
Na Europa, a mol�cula da Pfizer � o �nico tratamento que obteve uma autoriza��ode comercializa��o para amiloidose TTR heredit�ria e de tipo selvagem.
Esse medicamento, contudo, � extremamente caro, estimado em 5 mil euros por paciente na Fran�a (mais de 32 mil reais na convers�o de 29 de outubro de 2021), e levou muito tempo para ser reembolsado pelo sistema de seguridade social do pa�s, e apenas em 65% do valor, desde maio de 2021.
Medicamentos que n�o somente estabilizam, mas podem bloquear a produ��o de transtirretina est�o em fase de testes cl�nicos, mas ainda n�o demonstraram efic�cia para obter a autoriza��o de comercializa��o.
Enquanto isso, o monop�lio do Vyndaqel e do Vyndamax � justamente o que explica o seu forte crescimento, como observaram os cardiologistas consultados pela AFP.
“Uma outra raz�o � que essa doen�a foi subdiagnosticada at� recentemente” , analisa Th�o Pezel. De fato, os sintomas da enfermidade, como fadiga, falta de ar ou edema nos membros, s�o muitas vezes tamb�m associados � velhice.
“Costumamos dizer que a ATTR-CM � o alzheimer do cora��o, porque h� dez anos pensava-se que era muito rara, e as formas vistas nos idosos eram atribu�das � idade, assim como o alzheimer era considerado uma forma de senilidade causada pela velhice. A compara��o entre as duas doen�as � at� biologicamente correta, j� que o alzheimer tamb�m se caracteriza por um ac�mulo anormal de prote�nas ligado a um problema na capacidade de elimin�-las, mas nos neur�nios” , observou Pezel.
Felizmente, enquanto h� dez anos era necess�ria uma bi�psia card�aca invasiva para diagnosticar a amiloidose, houve um grande progresso desde ent�o.
“Hoje, gra�as �s t�cnicas de imagem n�o invasivas, o diagn�stico da amiloidose de transtirretina � muito mais f�cil e nos permitiu observar o n�mero de casos ligados a essa patologia e cuidar dos pacientes mais rapidamente” , continuou o cardiologista.
O AFP Checamos j� verificou ( 1, 2, 3) outras alega��es associando doen�as �s vacinas desenvolvidas contra o novo coronav�rus.