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Da Escandin�via aos EUA, as pessoas est�o encontrando liberdade e senso de comunidade vivendo em casas flutuantes sobre a �gua.
H� algo de rebelde e individualista em trocar uma vida vivida dentro de tijolos e argamassa por uma exist�ncia mais simples e menos convencional numa casa flutuante. Os moradores de barcos sentem uma sensa��o de aventura e, se estiverem em um local remoto e rural, est�o totalmente em sintonia com a natureza.
A capa do um novo livro de Portland Mitchell, Making Waves: Floating Homes and Life on the Water (Fazendo ondas: casas flutuantes e a vida na �gua, em tradu��o livre) captura a liberdade que muitos associam a casas transportadas pela �gua. Vistos atrav�s de uma janela redonda de vidro, dois cisnes deslizam sobre um lago v�treo. Em primeiro plano h� um vislumbre menos distinto do interior de uma casa flutuante.
No entanto, viver em barcos nem sempre � f�cil. Afinal, as casas flutuantes s�o frequentemente afetadas pelos elementos e as que s�o remotas podem estar totalmente desconectadas da rede el�trica - algo que exige um tempo para que a pessoa se acostume.
Mas as casas flutuantes tamb�m s�o frequentemente atracadas uma ao lado da outra nos cais da cidade, dando aos ocupantes um forte senso de comunidade. Em termos de design, as casas flutuantes variam estilisticamente e estruturalmente, e muitos moradores de barcos levam a s�rio a vida e o design sustent�veis. “Eles est�o trazendo de tudo, desde um cont�iner resgatado at� uma casa flutuante constru�da com materiais reciclados, para os cursos de �gua do mundo”, diz Mitchell � BBC Culture.Agora, com as mudan�as clim�ticas gerando a subida do n�vel do mar, a conveni�ncia tamb�m est� a impulsiona a vida na �gua. “Com base nas previs�es clim�ticas, a habita��o em barcos pode revelar-se uma alternativa prudente, e at� mesmo necess�ria, � vida em terra, essencial para a sobreviv�ncia humana”, acrescenta Mitchell.
A BBC Culture analisa oito casas flutuantes fascinantes em todo o mundo - uma delas no Brasil.
Reetainer, Reino Unido
A casa de Max McMurdo � um exemplo da grande variedade de casas flutuantes que surgiram na �ltima d�cada. Cerca de sete anos atr�s, ele converteu um cont�iner de metal de 12 metros por 2 metros que comprou por US$ 2,5 mil (R$ 12 mil) em uma propriedade industrial de Londres e criou sua nova casa, que agora flutua no rio Ouse, em North Yorkshire, no Reino Unido.
Isso lhe permitiu garantir uma casa sem financiamento. Anteriormente, ele morou em uma casa de campo em Bedford, que renovou – aumentando seu valor – e depois vendeu. Depois que o cont�iner danificado, que viajou pelo mundo, foi recondicionado e transformado em sua casa-barco, McMurdo tamb�m realizou um antigo sonho.
"Sempre sonhei em viver perto da �gua em uma casa min�scula", diz ele.
Ex-designer de autom�veis, McMurdo j� havia convertido cont�ineres em estruturas com diferentes usos, incluindo um escrit�rio para o jardim de sua casa. Hoje ele tem uma empresa que recicla cont�ineres, chamada Reetainer. Sua nova casa fica em uma base de concreto armado e um grande deck que oferece bastante espa�o ao ar livre. Uma p�rgula de madeira coroa o telhado e se projeta al�m dele para proporcionar uma �rea mais sombreada.
Id�ias inteligentes para economizar espa�o permitiram que ele incorporasse um banheironormal e um chuveiro. Ele tamb�m construiu um compartimento de armazenamento no topo do piso do cont�iner, que cont�m banheiro embutido, guarda-roupa, geladeira e uma mesa de jantar que sobe por uma abertura no ch�o da sala. A malha no ch�o do chuveiro desliza para revelar a banheira, enquanto a cama se divide ao meio, revelando os degraus do guarda-roupa.
Com o objetivo de reduzir o consumo de energia, McMurdo adicionou pain�is solares e planeja instalar aquecimento com efici�ncia energ�tica no teto da casa-barco.
Le Cid, Fran�a
Em 2018, Agn�s Combes Bernageau mudou-se do seu “apartamento acolhedor” em Paris para uma barca�a de transporte atracada no rio Sena – entre a Ponte Alexandre 3º e a Ponte de la Concorde. Moram com ela seus dois filhos e um buldogue franc�s.
O barco tem uma hist�ria pitoresca: foi constru�do em 1930 em Mainz, na Alemanha, e depois entregue � Fran�a como parte das repara��es p�s-Primeira Guerra Mundial impostas pelo Tratado de Versalhes de 1919. Durante a ocupa��o da Fran�a por Hitler, atendeu flotilhas de submarinos alem�s e, na d�cada de 1950, foi comprada pela British Petroleum.
Le Cid estava atracado no porto parisiense em 1980. “Eu estava entediada com a vida impessoal da Paris convencional”, diz Combes Bernageau, executiva s�nior de uma marca de luxo francesa, que comprou a barca�a seguindo “um pressentimento”.
A mudan�a teve efeitos psicol�gicos e f�sicos positivos sobre ela.
"Ganhei uma mente e um cora��o mais abertos - bem como uma comunidade com uma mentalidade comum de liberdade. Aprende-se muito em barcos - desde a amarra��o at� todo o material t�cnico. Eu n�o sabia nada sobre isso. Ganhei for�a muscular", diz ela.
H� uma forte vida comunit�ria e um comit� portu�rio do qual Combes Bernageau faz parte.
Combes Bernageau converteu o interior do Le Cid em uma elegante sala de estar em plano aberto, incorporando uma cozinha bem equipada e �rea para refei��es. H� tamb�m um banheiro monocrom�tico. O efeito geral, abaixo do conv�s, � elegante, organizado e espa�oso.
Mini, Argentina
H� 30 anos, Anibal Guiser Gleyzer achava a vida na cidade insatisfat�ria. “Ent�o comprei um veleiro e explorei o delta dos rios Paran� e Uruguai”, conta.
Mais tarde, ele vendeu o seu apartamento, adquiriu um terreno no delta e, ciente de que esta zona �mida � propensa a inunda��es, construiu uma casa flutuante.
Em vez de se conformar ao estilo arquitet�nico europeu de muitos edif�cios locais, optou por criar uma estrutura inspirada em barca�as de casco plano que tradicionalmente transportavam madeira atrav�s dos rios.
Ele queria que seu projeto – uma estrutura de dois andares – fosse feito com materiais ecologicamente corretos, por isso fabricou o casco em ferrocimento, que envolve a aplica��o de argamassa refor�ada ou gesso sobre uma armadura composta por malha met�lica, metal expandido ou fibras met�licas. As paredes da casa flutuante s�o feitas de madeira.
Desde ent�o, ele estabeleceu uma comunidade ecol�gica de casas semelhantes, baseadas na �gua, chamada Econ�utico Hipocampo, cujos ocupantes s�o igualmente atra�dos por viver perto da natureza.
Zazi Houseboat, Pa�ses Baixos
Durante anos, Jeanne de Kroon, que tem uma empresa de roupas vintage chamada Zazi Vintage, viajou pelo mundo, adquirindo tecidos e roupas feitas por artes�s.
Mas recentemente ela criou ra�zes alugando uma casa-barco num sub�rbio de Amsterd�. “Para os viajantes, uma casa flutuante � a melhor maneira de se sentir como se estivesse de f�rias em casa”, diz a extravagante de Kroon, que se veste com roupas hippies no estilo dos anos 1960.
A casa-barco de madeira data da d�cada de 1970. De Kroon adicionou cor ao seu interior, pintando as paredes de rosa-pink e pendurando vestidos em seus tons favoritos de amarelo a�afr�o e carmesim nas molduras das portas e nos m�veis. “Quando voc� mora em um barco nos canais de Amsterd�, a cor � importante para aquecer o espa�o”, diz ela.
De Kroon, que cresceu em Amsterd� e Nova York, se sente menos isolada aqui do que se morasse em um apartamento. "Eu cresci em cidades onde voc� nunca conhece seus vizinhos, mas a vida no barco une a comunidade — trocamos presentes e temos um clube de nata��o", diz.
Oldenburg, Dinamarca
Quando Lis e Ove Nilsson viram pela primeira vez a sua casa-barco, Oldenburg, constru�da em 1908, foram conquistados pelo seu tamanho – ideal para receber a fam�lia e amigos. A �rea da cabine, embora totalmente operacional, era pequena, mas o casal a expandiu para criar uma espa�osa �rea de jantar.
A casa-barco tamb�m cont�m uma cozinha, dois quartos, um banheiro e um guarda-roupa.
O interior do barco, com paredes brancas, piso claro e m�veis navais, � minimalista, mas confort�vel. H� um sof� espa�oso e assentos estofados na �rea de jantar, enquanto os quartos tem um clima mais quente com madeira envernizada tradicional nas paredes.
“N�o perdemos nada ao passar da terra para a �gua”, dizem eles.
Desde a aquisi��o de Oldenburg, o casal realizou muitas expedi��es � vela.
Soggybottom Shanty, EUA
Uma experi�ncia formativa para Siva Aiken, dona de uma casa-barco excentricamente chamada Soggybottom Shanty] , foi sua fixa��o pelo passeio tem�tico dos Piratas do Caribe na Disneyl�ndia, que sua fam�lia frequentava durante sua inf�ncia.
“Havia um boneco de um homem fumando cachimbo e balan�ando-se em uma cadeira na varanda da frente de uma cabana no p�ntano”, lembra ela. "Senti uma vontade de pular do barco e me mudar para aquela pequena cabana."
Mais tarde, ela se mudou para o sul dos EUA e ficou intrigada com a “rica hist�ria dos ribeirinhos na Am�rica”.
Como canais para o transporte de toras e carv�o, os rios ali na virada do s�culo 20 tornaram-se indesej�veis e polu�dos, povoados por uma comunidade empobrecida. “Eles constru�ram cabanas e barracos com sobras de madeira”, diz Aiken, que divide a casa barco com v�rios c�es.
Seu navio de 7 metros de comprimento foi feito com materiais reciclados e de demoli��o, com a ajuda de amigos, em 2019. As janelas foram recuperadas de uma casa que estava sendo reformada, enquanto seu motor de popa usado tem 30 anos.
Aiken atraca o barco amarrando-o a um cais. Ela embarca e desembarca usando uma prancha inclinada e, � noite, relaxa tocando banjo na varanda de sua casa, num eco do passeio Piratas do Caribe que a cativou quando crian�a.
Altar, Brasil
Para Rodrigo Martins, sua fam�lia e dois amigos, sua casa-barco de veraneio ancorada em uma b�ia no reservat�rio de Jaguari�na, duas horas ao norte de S�o Paulo, � um ref�gio de sonho.
A casa � compacta, mas espa�osa, ecol�gica e isolada. A estrutura quadrada e minimalista de 38 m² foi feita de materiais 100% recicl�veis de um sistema de habita��o pr�-fabricado chamado LilliHaus, do est�dio brasileiro de design sustent�vel sysHaus. Ele fica em um deck amplo e envolvente – apoiado por um catamar� – que adiciona mais 26 m² de espa�o. Nele h� espregui�adeiras, onde ap�s o p�r do sol a turma pode assistir a filmes projetados em uma parede externa que funciona como tela de cinema.
Usada para estadias de fim de semana e feriados, e alcan�ada por um bote, a casa-barco parece enganosamente pequena. No entanto, cont�m uma �rea de estar com �rea para refei��es e cozinha, um quarto duplo e um banheiro bem equipado. Um interior simples e chique, com paredes de madeira clara e m�veis discretos, faz com que o espa�o pare�a maior. A luz natural inunda o espa�o atrav�s de janelas e claraboias do ch�o ao teto.
As caracter�sticas ecol�gicas da LilliHaus incluem pain�is solares no telhado que geram eletricidade e ilumina��o com efici�ncia energ�tica, aberturas na estrutura que proporcionam ventila��o natural e sistemas de tratamento de �gua de �ltima gera��o.
Martins admite que sua fam�lia e amigos inicialmente experimentaram sintomas de abstin�ncia quando privados de wi-fi – mas logo ficaram felizes em socializar mais, nadar e remar em canoas.
De Walvisch, Reino Unido
O De Walvisch � um veleiro holand�s agora atracado em Wapping, no leste de Londres. Possui paredes de madeira em tons de mogno e uma infinidade de objetos navais, todos provenientes de seus ocupantes – os artistas Zatorski e Zatorski (um casal conhecido como Thomas e Angel pelos amigos).
Em 2000, a dupla comprou um barco estreito, o que os fez desenvolver o gosto por viver "um pouco fora do radar".
A decis�o de comprar o De Walvisch foi refor�ada pelo interesse na cidade de Wapping. “A hist�ria est� em cada esquina nesta parte da cidade”, dizem eles.
O casal restaurou o barco, equipando-o com pe�as recuperadas, incluindo uma pia de submarino. Uma janela com moldura de lat�o – resgatada do SS Transilv�nia, o navio de passageiros brit�nico afundado por um submarino alem�o em 1917 – agora enfeita o quarto (antiga cabine do capit�o).
O barco est� atracado na Hermitage Moorings, uma cooperativa que os artistas ajudaram a criar e que � partilhada com outros 17 barcos. Este ambiente inspira os artistas, que se interessam pelo potencial dos navios para simbolizar a descoberta e a aventura. Eles documentam sua vida a bordo do barco e o utilizam para encenar obras de arte e performances, al�m de hospedar eventos nos quais pessoas de diversas �reas s�o convidadas para discutir suas ideias.
