O Minist�rio P�blico de Goi�s denunciou � Justi�a sete policiais militares do estado pela morte de um homem, em Alvorada do Norte (GO), em fevereiro de 2010. A v�tima � uma das quatro pessoas desaparecidas na regi�o no mesmo fim de semana. A a��o � atribu�da ao grupo de exterm�nio formado por PMs, ent�o lotados em Formosa (GO), a 70km de Bras�lia.
Os sete militares denunciados � Justi�a est�o entre os 19 presos na Opera��o Sexto Mandamento, deflagrada pela Pol�cia Federal em 15 de fevereiro. Os acusados relacionados na den�ncia do MP goiano s�o o tenente-coronel Ricardo Rocha Batista e os subordinados Wanderley
Na den�ncia, os promotores de Justi�a afirmam que a v�tima, Higino Carlos Pereira de Jesus, conhecida como Gininho, morreu com uma “saraivada de disparos de arma de fogo”, em 24 de fevereiro de 2010, nas proximidades da Fazenda Modelo, zona rural de Alvorada do Norte. Antes da execu��o, os PMs estiveram na casa de familiares de Higino, na tentativa de localiz�-lo. Nos tr�s endere�os onde o procuraram, os militares “realizaram buscas sem autoriza��o judicial e de forma intimidat�ria”.
Na terceira resid�ncia revistada, eles encontraram a v�tima, que estava em um barraco nos fundos. O PM que o localizou, ao algem�-lo, chegou a afirmar: “Agora voc� vai pagar pelos erros que anda cometendo”. Os acusados colocaram Higino, algemado, em um dos ve�culos em que estavam e o levaram at� as imedia��es da fazenda onde acabou executado.
De acordo com o apurado nas investiga��es, a v�tima morreu porque estaria supostamente envolvida com furtos de gado ocorridos na regi�o, motivo pelo qual “passou a ser alvo do grupo de exterm�nio integrado pelos denunciados”. A den�ncia afirma que, como comandante do 16º Batalh�o da PM, sediado em Formosa, Ricardo Rocha participou de reuni�o em Flores de Goi�s, em janeiro de 2010, na qual ficou definido um patrulhamento ostensivo da zona rural para combater a ocorr�ncia de roubos e furtos de gado, tendo sido ajustado at� o pagamento em dinheiro por parte dos fazendeiros.
Os sete policiais militares acabaram denunciados por homic�dio duplamente qualificado (por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da v�tima), constrangimento ilegal, viola��o de domic�lio e forma��o de quadrilha.
Pistolagem
Al�m do sequestro e da execu��o de quatro moradores de Flores de Goi�s e Alvorada do Norte, a mais de 230km de Bras�lia, um grupo de oito policiais militares do 16º Batalh�o, liderado pelo ent�o major Ricardo Rocha, � investigado por matar 15 pessoas em menos de dois anos em Formosa. As v�timas eram jovens, a maioria viciada em algum tipo de droga. Todos morreram com tiros � queima-roupa, ao menos uma bala na nuca, sem demonstrar rea��o, de acordo com os laudos cadav�ricos revelados pelo Correio Braziliense em s�rie de reportagens publicadas desde maio de 2009.
Mesmo indiciado pela Corregedoria da corpora��o, respondendo a inqu�ritos por homic�dio e com a candidatura impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Ricardo Rocha disputou vaga na Assembleia Legislativa de Goi�s, mas acabou perdendo nas urnas.
O major e os outros sete PMs foram afastados do trabalho no come�o de mar�o de 2010, logo ap�s den�ncia da Comiss�o de Direitos Humanos (CDH), da Assembleia Legislativa de Goi�s. Duas semanas depois, tr�s soldados e um sargento da mesma unidade foram presos sob acusa��o de envolvimento em crime de pistolagem.
Eles seriam os autores do sequestro do fazendeiro Jos� Eduardo Ferreira, 56 anos, assassinado um ano antes. A morte teria sido encomendada por outro produtor rural, com quem a v�tima havia brigado por disputa de terras, segundo investiga��o da Pol�cia Civil goiana.
Chacina
Ricardo Rocha foi denunciado tamb�m pelo MPGO por participa��o em uma chacina com cinco mortes e por crime de pistolagem. Tudo ocorreu quando ele era o subcomandante da PM em Rio Verde, no sudoeste goiano. Ap�s as mortes em s�rie, Rocha foi transferido para Goi�nia, onde comandou a Rotam entre 2003 e 2005. �poca em que a PM mais matou na capital.
De 6 de mar�o de 2003 a 15 de maio de 2005, foram registrados 117 homic�dios em Goi�nia cuja autoria � atribu�da a policiais militares, a maioria da Rotam. Das 117 v�timas, 48,7% (57 pessoas) n�o tinham ficha criminal. Outras 60 (51,3%) eram foragidas da Justi�a ou acusadas de algum crime. Em meio � investiga��o do MPGO sobre esses casos, o major voltou a Rio de Verde. Em seguida, foi para Formosa, terra natal e base eleitoral do ent�o secret�rio de Seguran�a P�blica de Goi�s, Ernesto Roller, deputado estadual pelo PP e candidato a vice-governador na chapa de Vanderlan (PP).
Foi o pr�prio Roller quem nomeou Ricardo Rocha para assumir o 16º Batalh�o. Em solenidades e entrevistas � imprensa do estado, Roller n�o economizou elogios ao major. Declarou que ele diminuiu a viol�ncia, mas nunca apresentou as estat�sticas. Fazendeiros de Formosa tamb�m defendiam Rocha. Chegaram a fazer festa para ele ap�s s�rie de reportagens do Correio sobre a matan�a na regi�o. Sobre os recentes afastamentos e pris�es dos PMs que tanto elogiou, Roller n�o fala. Rocha ainda recebeu homenagem da PM, em Goi�nia, na despedida do cargo que deixou para disputar a elei��o.
Fora da jurisdi��o
O ent�o major Ricardo Rocha mandou dois militares, um deles do servi�o secreto do batalh�o de Formosa, “efetuar levantamentos da �rea rural de Flores de Goi�s no intuito de localizarem m�quinas e implementos agr�colas objetos de furtos”, de acordo com o Inqu�rito Policial Militar (IPM) ao qual o Correio teve acesso. Como destaca o inqu�rito, chama a aten��o o fato de o 16º Batalh�o, e, consequentemente, o major, n�o serem respons�veis pelo policiamento em Flores nem em Alvorada do Norte.