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Estado de Minas

Diretor da escola tenta evitar sa�da de alunos depois de massacre


postado em 11/04/2011 06:21 / atualizado em 11/04/2011 20:19

"Vamos convenc�-los de que n�o conseguiremos nos reerguer sem eles. Uma escola s� existe se tiver seus alunos e nossa inten��o � montar aqui um quartel-general, uma base de esperan�a", Luiz Marduk, diretor da Escola Municipal Tasso da Silveira (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

A aposentadoria prevista para o fim deste ano j� est� suspensa e o diretor da Escola Municipal Tasso da Silveira, Luiz Marduk, de 55 anos, assume agora um dos desafios mais importantes de sua vida: evitar o �xodo dos alunos aterrorizados pelo massacre na escola de Realengo, Zona Oeste do Rio. Pai de um menino de 12 anos que tamb�m estava no col�gio, amea�ado pela f�ria do atirador, Luiz diz que est� sendo muito dif�cil enfrentar essa dor, mas que encontra for�as no carinho que recebe da comunidade escolar. No domingo, o diretor recolheu cada mochila colorida e caderno rabiscado espalhados nas salas pelo desespero que tomou conta do col�gio na quinta-feira e participou de um novo abra�o � escola, que ser� reaberta no dia 18.

Antes que a unidade receba novamente os seus estudantes, Luiz Marduk far� uma repaginada no ambiente, que se tornou t�o frio e apavorante. Os muros da escola ganhar�o um cimento liso para que os alunos possam pintar mensagens de saudade, paz e otimismo. No lado de dentro, as paredes tamb�m v�o ganhar cor e as carteiras com nomes das crian�as ser�o trocadas.

"Vamos viver a dor at� ela acabar e vamos vencer a dor. O grande desafio vai ser afastar o fantasma do medo, que fatalmente essas crian�as ter�o, mesmo que sejam transferidas. A fuga n�o vai apagar esse terror que viveram. Estranho seria se n�o sentissem vontade de deixar a nossa escola, mas n�s vamos convenc�-los de que n�o conseguiremos nos reerguer sem eles. Uma escola s� existe se tiver seus alunos e nossa inten��o � montar aqui um quartel-general, uma base de esperan�a", afirmou o professor, com voz calma e segura.

Cada crian�a receber� tratamento psicol�gico em casa. Algumas fam�lias, segundo ele, est�o t�o traumatizadas que n�o querem conversar sobre o assunto. "Vamos precisar modificar o ambiente escolar, para diminuir as recorda��es. Quando a escola reabrir, ela n�o estar� s� limpa do sangue. Para isso, contamos com toda a comunidade, que gosta da escola. Aos pouquinhos, vamos conseguir."

H� 32 anos na mesma escola, o professor conta que as cenas de horror n�o saem da sua cabe�a. Seu filho, aluno do 7º ano, estava no segundo andar e precisou correr para o terceiro, onde se refugiou com colegas no audit�rio. O menino estava apavorado e at� levou bronca da professora, porque queria sair da sala e procurar o pai. Ele lembra que a maior preocupa��o era tirar as crian�as do pr�dio, no "momento de terror e tristeza" de passar pelo corpo do atirador e dos coleguinhas baleados.

"Naquele dia eu cheguei em casa bem tarde e n�o conseguia dormir. A �ltima vez que olhei o rel�gio eram 2h30 e antes das 5h eu j� estava de p�. Quando me olhei no espelho, me deparei com a realidade. Chorei, chorei, chorei, a ponto de a minha mulher levantar assustada. Fui para debaixo do chuveiro e continuei chorando. Mas respirei fundo e pensei: 'Sou o l�der daquela comunidade e n�o posso esmorecer'. Ainda chorei nos vel�rios, perdi alunos que tamb�m eram meus filhos e crian�as que eram minhas vizinhas e que participavam das nossas vidas. A for�a que tenho vem da confian�a que as pessoas est�o depositando em mim", disse ele.

Luiz n�o conheceu Wellington Menezes de Oliveira porque ficou afastado da escola, em outro projeto, entre 1986 e 2005, justamente no per�odo em que o atirador passou por l�. Ele afirma que o massacre aconteceu n�o por falta de seguran�a do col�gio, mas sabe que o crime b�rbaro vai trazer discuss�es importantes. "Somos preocupados com a seguran�a, temos port�o eletr�nico, c�meras nos corredores. N�o foi um relaxamento nosso, mas, claro, isso nos far� discutir quest�es como seguran�a e bullying. A escola, de uma maneira geral, precisa ser mais bem estruturada. Ter um setor de psicologia para detectar e encaminhar casos especiais, no sentido de minimizar esses efeitos que possam ser influenciados pelo bullying. O que aconteceu com a nossa escola marcar� uma era de paz e melhorias para todas as outras unidades."

O professor conta que tem conversado muito com o filho e garante que ele voltar� para a Tasso da Silveira. E s� se emociona quando encerra a entrevista: "S� saio daqui quando conseguir devolver a todos os alunos o orgulho de estudar na nossa escola".

Artista volta �s aulas


A abertura da escola no dia 18 contar� com a presen�a de alguns artistas do p�blico infantojuvenil. Um psic�logo tamb�m ficar� de plant�o na unidade, para todo tipo de atendimento. "N�o retomaremos as aulas de imediato. Vamos pensar em atividades de reintegra��o e ressocializa��o. Os artistas, por exemplo, entrar�o de m�os dadas, convidando nossos alunos a entrar tamb�m", contou o diretor Luiz Marduk. Na quarta-feira, um ato ecum�nico ser� realizado em Realengo. A secretaria ainda estuda se o evento ser� feito no p�tio do col�gio ou em uma pra�a do bairro. Uma missa com o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, estava prevista para esta data, mas foi suspensa. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) n�o autorizou que a celebra��o fosse feita dentro da escola. Hoje, uma equipe da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) far� a limpeza da escola. � tarde, os pais dos estudantes poder�o retirar o material escolar deixado para tr�s em meio ao desespero.


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