
O massacre executado por um atirador dentro da Escola Estadual Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, completa uma semana levantando debates de toda ordem. Plebiscito para uma nova consulta popular sobre a venda de armas, necessidade de detectores de metal nas portas das escolas, vota��o de projetos de seguran�a p�blica, realiza��o de uma campanha s�ria de desarmamento. Embora todas as iniciativas sejam v�lidas, o assassinato dos 12 meninos e meninas de Realengo aponta para um problema muito maior: a matan�a di�ria imposta pela viol�ncia a crian�as e adolescentes brasileiros. Enquanto a m�dia de homic�dios no pa�s � de quase 26 assassinatos por 100 mil habitantes, entre garotos de 17 a 19 anos a taxa chega a 59.
As informa��es mais atuais, retiradas do Mapa da Viol�ncia 2010, feito com base nas certid�es de �bito de todo o pa�s registradas em 2007, mostram ainda que o �ndice se torna alarmante a partir dos 14 anos, faixa et�ria em que morrem 9,4 meninos entre 100 mil — quase alcan�ando a taxa de 10 assassinatos por 100 mil habitantes, marca para a Organiza��o Mundial da Sa�de classificar a situa��o como uma epidemia de viol�ncia. O Distrito Federal, em quinto lugar no ranking de homic�dios na popula��o total, subiu uma posi��o no que diz respeito � morte de pessoas de zero a 19 anos. A taxa de 24,2 mortes por 100 mil habitantes s� � superada por Pernambuco, Alagoas e Esp�rito Santo.
Para Karina Figueiredo, uma das coordenadoras do Centro de Refer�ncia, Estudos e A��es sobre Crian�as e Adolescentes (Cecria) no Distrito Federal, as raz�es das altas taxas de mortalidade nessa popula��o t�m aspectos peculiares. “Enquanto no Rio de Janeiro vemos o problema do tr�fico influenciando muito fortemente os n�meros de homic�dios entre garotos e garotas, aqui no DF eu diria que o problema maior est� na cultura de gangues. Temos muitas que se odeiam, que se matam mesmo, sem nem saber a raz�o da rivalidade. E o acesso a armas � irrestrito, basta que a crian�a ou o adolescente tenha dinheiro para pagar”, afirma.
Coordenadora do programa de controle de armas do Instituto Sou da Paz, Alice Ribeiro destaca tamb�m a falta de habilidade para resolver conflitos. Com tal proposta, a entidade civil realiza, desde o ano passado, a��es relacionadas ao Dia do Desarmamento Infantil, comemorado em 15 de abril. “N�o sabemos como a data foi criada exatamente, mas ela j� existe h� alguns anos e nossa a��o j� estava programada, n�o foi em fun��o do triste epis�dio em Realengo”, explica Alice. Com a participa��o de 150 escolas da capital de S�o Paulo, o projeto, que come�ou na segunda e se estender� at� sexta-feira, recolheu 1,9 mil armas de brinquedo e 2,6 mil DVDs com conte�do violento. Fortaleza � outra cidade que participa da a��o, tendo recolhido mais de 30 mil armas de brinquedo desde a primeira campanha, em 2005.
Em Realengo, na missa de s�timo dia, realizada em um palco montado pr�ximo � escola, centenas de pessoas se reuniram para homenagear os mortos no ataque � escola. Ana Carolina Oliveira, m�e de Isabella Nardoni, morta em mar�o de 2008, compareceu � celebra��o para prestar solidariedade. Um helic�ptero da Pol�cia Civil jogou p�talas de rosas durante a cerim�nia.
Mais de 100 no DF
A Pol�cia Civil mapeou a exist�ncia de 100 gangues no Distrito Federal, mas 26 s�o consideradas, de fato, perigosas. Plano Piloto, Ceil�ndia, Guar�, S�o Sebasti�o e Planaltina s�o os principais locais de atua��o dos jovens. A idade dos integrantes das gangues varia muito — de crian�as a adultos jovens. O controle territorial e a picha��o marcam a rivalidade entre eles.