O Banco Central (BC) est� no encal�o dos ladr�es que levaram R$ 164 milh�es do cofre da institui��o em Fortaleza (CE) e protagonizaram o segundo maior assalto da hist�ria da humanidade. Ap�s o crime, ocorrido em agosto de 2005, o esquema de lavagem desse dinheiro envolveu tantas pessoas e empresas que at� nesta segunda-feira, quase seis anos depois, h� d�vidas sobre se todos os envolvidos foram identificados.
Dados obtidos com exclusividade pelo Correio mostram que o BC, com apoio da Pol�cia Federal e da Justi�a, listou 727 itens comprados com o dinheiro roubado. Entre eles, 188 ve�culos, 84 im�veis, joias, animais e investimentos financeiros. O desafio � obter autoriza��o judicial para leiloar os bens e separar inocentes das pessoas que ganharam para facilitar a “legaliza��o” da fortuna. At� agora, R$ 20 milh�es foram recuperados pela autoridade monet�ria.
Apenas um assalto a banco na Inglaterra foi maior. Em 12 de julho de 1987, dois homens invadiram o Knightsbridge Safe Deposit, em Londres, e levaram o equivalente a R$ 400 milh�es. Para n�o levantar suspeitas, a dupla colocou uma placa na porta da ag�ncia dizendo que estava fechada. No caso da capital cearense, oito homens escavaram um t�nel por tr�s meses para invadir a sede do BC, investindo quase R$ 1 milh�o na opera��o. A ca�ada aos criminosos come�ou logo ap�s a fuga. Quase todos foram presos. Mais de 30 pessoas estavam envolvidas diretamente e pelo menos 90, indiretamente.
O respons�vel pelo cerco ao esquema de lavagem do dinheiro roubado � Isaac Ferreira, procurador-geral do BC. Segundo ele, como era imposs�vel que os assaltantes depositassem o dinheiro num banco sem levantar suspeitas, optaram por comprar diversos bens. “O Banco Central � a v�tima nessa hist�ria e estamos fazendo todo o poss�vel para reaver esses valores. O assalto foi um esquema sofisticado, envolvendo profissionais do crime”, diz Ferreira.
Diante da quantidade expressiva de compras feitas com o dinheiro do assalto, o Judici�rio recebeu 110 a��es. Dessas, 67 s�o pessoas que querem impedir o leil�o dos bens comprados dos criminosos. A d�vida � se fizeram o neg�cio de boa-f�. At� a �ltima sexta-feira, o BC tinha leiloado 65 itens de maior valor. Juntos, renderam � autoridade monet�ria R$ 4,3 milh�es — volume quase 50% maior comparado a maio de 2010. De todo montante levado, R$ 25,3 milh�es retornaram aos cofres p�blicos — o equivalente a 15,3% de tudo que foi subtra�do.
Ferreira espera recuperar muito mais que isso, sobretudo quando tiver levado a leil�o os bens identificados como adquiridos com o lucro do crime. O procurador admite, contudo, que parte desses recursos jamais ser�o repostos. “Identificamos quase tudo que os bandidos compraram, mas algo pode ter escapado. Em alguns casos, compraram, por exemplo, uma fazenda por valor muito superior ao pre�o de mercado. Quando lev�-la a leil�o, s� conseguiremos o valor padr�o”, explica.
A fortuna levada do BC era formada por 3,5 toneladas de notas usadas de R$ 50. Na �poca do assalto davam para comprar 7.163 carros populares, de R$ 23 mil cada. O dinheiro era tanto que os assaltantes levaram dois dias para conseguir tir�-lo do cofre pelo t�nel sob o pr�dio do BC.
Filme
Quase todos os envolvidos no roubo hist�rico foram mortos ou presos. Cinco dos assaltantes, entre eles um dos mentores do crime, Luiz Fernando Ribeiro, foram sequestrados e assassinados. Segundo a Pol�cia Federal, os sequestradores eram policiais. Isso ficou evidente na Opera��o Toupeira, na qual a quadrilha de Fortaleza financiava crime semelhante ao cometido no Cear�. Um bando havia escavado um t�nel para assaltar o Banco do Brasil em Porto Alegre (RS). O roubo s� n�o ocorreu porque federais descobriram que policiais de S�o Paulo tinham ido ao Sul extorquir os criminosos. Essa hist�ria est� contada no filme Assalto ao Banco Central, a ser lan�ado no segundo semestre.
Hist�ria na telona
Walkiria Barbosa, produtora da Total Enterteinment, est� ansiosa pelo lan�amento do seu filme Assalto ao Banco Central, que tem apoio da norte-americana Fox. “Quando saiu a not�cia do assalto na imprensa fiquei louca”, relembra, antes de saber o desafio que tinha pela frente. “S� para montarmos um t�nel cenogr�fico, tivemos de contar com a ajuda de ge�logos e especialistas em perfura��o. Foi uma coisa complexa”, conta. Walkiria n�o usou os nomes originais dos criminosos para evitar que entrassem na Justi�a contra a produtora.