Com cerca de 100 anos de atraso, a energia el�trica chegou, a partir desta quinta-feira, para parte dos moradores da comunidade quilombola da Ilha da Marambaia, na Ba�a de Sepetiba. Como o sistema inaugurado s� foi instalado nas casas mais antigas, ficaram fora as fam�lias constitu�das pelos jovens, que n�o s�o reconhecidos como novos n�cleos pela Marinha, administradora da ilha.
Acess�vel somente pelo mar, a comunidade de descendentes de escravos tem cerca de 270 fam�lias, das quais 95 foram contempladas pelo programa Luz para Todos, do Minist�rio de Minas Energia.
Apesar de comemorar a possibilidade de retirar da sede do �rg�o militar os freezeres que eram usados para o pescado, os moradores querem que sistema funcione para todos.
"Eu vou querer instalar uma geladeira, um r�dio e uma televis�o. A�, a minha filha vai querer fazer isso na casa dela e meu filho tamb�m. N�o sei como vai ficar porque, com certeza, o rel�gio [monof�sico] n�o vai aguentar", reclamou a representante da associa��o de moradores, V�nia Guerra. Ela divide uma casa, com dois "puxadinhos", com os filhos.
At� a chegada da eletrifica��o, a comunidade era abastecida por um gerador a �leo da Marinha. Sem geladeira em casa, ferro el�trico e computador, a energia era suficiente para assistir � televis�o e ligar um r�dio. Mas s� at� �s 22h para quem n�o tinha aparelhos funcionando � bateria ou com minigeradores. Para carregar o celular, era preciso caminhar cerca de 1 quil�metro at� o quartel.
Apesar da certifica��o da Funda��o Palmares e do Instituto de Coloniza��o e Reforma Agr�ria (Incra), o quilombo de Marambaia trava uma disputa pela regulariza��o de 1,6 mil hectares dos 8,1 mil hectares da ilha com a Marinha. Os militares querem instalar uma base de submarinos no local e recorreram � Justi�a para expulsar os quilombolas, al�m de impedir reforma nas casas.
Para intermediar a situa��o enquanto n�o sai a decis�o judicial, a Secretaria de Pol�ticas de Igualdade Racial (Seppir) investe em programas como a eletrifica��o, disse a secret�ria de comunidades tradicionais, Ivonete Carvalho. "De um lado, temos os quilombolas e, de outro, a Marinha. Respeitamos todos os argumentos, sem deixar a comunidade de lado."
A regulariza��o fundi�ria de comunidades quilombolas est� prevista na Constitui��o Federal. Por�m, como o caso envolve diverg�ncias com �rg�o do pr�prio governo, passa por uma reavalia��o na C�mara de Concilia��o da Advocacia-Geral da Uni�o, sem prazo final.
A eletrifica��o em Marambaia custou R$ 10,5 milh�es e foi poss�vel com investimento dos governos federal e estadual, em parceria com a Ampla, concession�ria de energia. O sistema levou cerca de tr�s anos para ser implantando e teve um alto custo porque precisou de 9 quil�metros de cabos submarinos.