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Estado de Minas

Portadores da doen�a de Chagas sofrem com a car�ncia de medicamentos


postado em 06/02/2012 08:40 / atualizado em 06/02/2012 08:51

Posse (GO) — A enfermeira R�bia Rodrigues da Silva coordena o posto do Programa Sa�de da Fam�lia (PSF) na cidade goiana, na divisa com a Bahia. Est� acostumada a atender moradores de Posse com a doen�a de Chagas e a tentar encaminhamentos para centros m�dicos especializados, em Bras�lia e em Goi�nia. “Aqui, � dif�cil achar uma fam�lia que n�o tenha Chagas.” Os pais e um irm�o de R�bia t�m a doen�a. A fam�lia da enfermeira, a exemplo dos pacientes da unidade do PSF, n�o teve privil�gios: ningu�m consegue o medicamento indicado para casos agudos e cr�nicos. “O que nos dizem � que n�o est� fabricando mais. Fico preocupada com meus pais e meu irm�o.”

O que “dizem” a R�bia e o que vive sua fam�lia s�o o reflexo de uma falha grave do governo brasileiro e do desinteresse da ind�stria farmac�utica por uma doen�a associada exclusivamente � pobreza, nada lucrativa. Por sete meses, pelo menos, o Laborat�rio Farmac�utico do Estado de Pernambuco (Lafepe) deixou de produzir o benznidazol, praticamente o �nico medicamento utilizado no tratamento de casos agudos e at� mesmo cr�nicos da doen�a de Chagas. A interrup��o da produ��o ocorreu entre abril e outubro do ano passado. Os problemas gerados pela paralisia quase passaram despercebidos, n�o fosse o manifesto de setores da comunidade cient�fica e de entidades do terceiro setor, como os M�dicos sem Fronteiras.

A ind�stria farmac�utica desistiu de mais uma doen�a da pobreza, e isso j� faz nove anos. Desde 2003, a Roche Farmac�utica n�o fabrica o rochagan, nome ainda usado por quem tem Chagas para denominar o benznidazol. A licen�a foi transferida para um laborat�rio p�blico, o Lafepe, que s� produziu os primeiros lotes do medicamento cinco anos depois. Suspensa a fabrica��o no ano passado, o problema ganhou contornos internacionais. O Lafepe � o �nico no Brasil e no mundo a produzir o benznidazol. Praticamente todos os pacientes do mal de Chagas, a maioria deles na Am�rica Latina, dependem do medicamento produzido em Pernambuco.

“A situa��o chegou a um ponto cr�tico”, admite o diretor-presidente do Lafepe, Luciano Vasquez Mendez. “Se a mat�ria-prima n�o chegasse, haveria colapso no abastecimento.” O Correio apurou que houve, sim, desabastecimento. Munic�pios do interior do pa�s, como Posse, deixaram de receber o benznidazol ao longo do ano passado. S�o exatamente locais com grande quantidade de doentes cr�nicos e com possibilidade de novos casos da fase aguda da doen�a. O acompanhamento, o custeio da produ��o e a regula��o dos estoques de benznidazol s�o responsabilidades do Minist�rio da Sa�de. Apesar de o presidente do Lafepe ter admitido ao Correio que a produ��o do benznidazol foi paralisada por sete meses, o Minist�rio da Sa�de diz que “n�o � verdade” que o medicamento deixou de ser produzido. “N�o h� desabastecimento e, at� este momento, n�o h� registro de falta localizada do referido medicamento”, sustenta, por meio da assessoria de imprensa.

Sofrimento coletivo

A doen�a de Chagas � uma realidade em 40 das 120 casas que formam o povoado de Nova Vista, em Posse (GO). Os moradores doentes t�m acesso a um posto de sa�de instalado no distrito, mas a unidade s� consegue oferecer atendimento e medica��o para hipertens�o arterial. O diagn�stico de Chagas, para boa parte deles, ocorreu em raz�o da pesquisa do instituto norte-americano Texas Biomedical.

A agente de sa�de do povoado, Ana de Sousa Almeida, de 52 anos, consegue custear um tratamento especializado. Uma raridade no local. Ana sabe que tem Chagas h� 10 anos. Desenvolveu megaes�fago e uma cardiopatia. Para se tratar, vai a Goi�nia uma vez por semana, um percurso de mais de 500km. “N�o tenho plano de sa�de. Ent�o junto um dinheirinho e fa�o as consultas por �rg�o. Numa semana o cora��o, na outra o es�fago.” Quase todos os moradores perderam pais ou irm�os em decorr�ncia das complica��es da doen�a. “Sei que vou morrer do mesmo jeito”, diz Ana.

Na regi�o do Bacopario, tamb�m zona rural de Posse, fam�lias inteiras foram acometidas pelo mal. Jesumar Rosa da Concei��o nasceu no Bacopario, tem 32 anos, vai ser pai pela segunda vez e h� cinco anos est� na fila do INSS para obter aposentadoria por invalidez. A doen�a de Chagas o obrigou a parar de trabalhar. “S� planto um milho para comer.” A m�e de Jesumar morreu com Chagas, aos 48 anos. O av� tamb�m.

O sogro e a sogra de Jesumar t�m a doen�a. “Descobri quando os gringos vieram aqui. Mas doen�a de Chagas a gente n�o trata, n�o”, diz Salvelena dos Santos Silva, 50. O marido dela, Regino Pereira da Silva, 57, s� descobriu o problema h� dois anos. J� sentia o cora��o “batendo forte”. O diagn�stico veio com os “gringos”. Regino parou de trabalhar. “Ainda teimo, mas n�o aguento mais. O m�dico disse que meu cora��o est� bem estragado.” A mulher e o filho de Jesumar escaparam do protozo�rio Trypanosoma cruzi, que transmite a doen�a. O beb� que nascer� nos pr�ximos meses precisar� de acompanhamento cont�nuo.

 


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