Nando Parrado era um jovem atleta uruguaio que viajava para jogar Rugby no Chile. No meio do caminho o avi�o caiu na Cordilheira dos Andes, deixando poucos sobreviventes, que provavelmente morreriam tomados pelo frio e sem ajuda pr�xima. O improv�vel aconteceu e ap�s dois meses e meio perdidos, os 16 sobreviventes foram resgatados. � para contar essa hist�ria que Nando Parrado foi a Natal, onde profere palestra em evento empresarial. Como um dos palestrantes mais renomados do mundo, o uruguaio d� muito mais que li��es sobre neg�cios. Fala sobre a vida e como encar�-la quando se est� bem perto da linha t�nue que a separa da morte.
Como passar sua experi�ncia para um p�blico empresarial?
N�o � uma palestra empresarial, mas os empres�rios devem ficar muito comovidos. Porque os empres�rios quando a palestra termina dizem 'Meu Deus, estou confundindo isso com minha vida'. E eu falava que minha palestra � curta, cinco ou seis minutos, mas traz informa��o que coloca as pessoas em uma situa��o limite. Como reagiriam as pessoas em uma situa��o desse tipo.
Como � tomar decis�es em uma situa��o limite como aquela?
A vida � muito r�pida. Todo mundo deseja viver uma vida boa, sem problemas e enfermidades. Mas a vida algumas vezes muda muito r�pido. E se voc� quer sobreviver deve mudar r�pido. As decis�es mais importantes da minha vida j� foram tomadas. Nos �ltimos 40 anos eu liderei uma empresa, criei outras quatro empresas e todas v�o muito bem. Mas em nenhuma delas pude atingir um limite ou uma press�o mental de decis�o que possa se comparar com um minuto ali. Uma decis�o para saber se eu vivo ou morro � bem diferente de abrir uma empresa, fechar uma empresa, ou contratar e despedir empregados. Se voc� morre n�o h� empresa, n�o h� fam�lia, n�o h� nada. Se a empresa faliu, voc� vai fazer outra coisa; abrir uma nova empresa, um restaurante, mas quando se morre n�o � assim. � muito diferente. E eu pude fazer essas empresas liderando da mesma forma que as pessoas pensam que eu liderei. Quando se v� de fora � uma coisa, e de dentro outra. Palestrantes falam da minha lideran�a, montanhistas dizem que sou o maior montanhista da hist�ria. Eu me pergunto: 'eu?'. Talvez eu fiz uma coisa extraordin�ria, mas quando voc� faz uma coisa n�o se d� conta. Gente de fora se d� conta e olha de uma forma diferente. Sou a mesma pessoa de antes, com os mesmos medos, d�vidas, qualidades, mas que vivi uma experi�ncia diferente e felizmente com um final feliz. Me chamam para falar nas grandes universidades em enfrentar crises, trabalho em equipe e lideran�a. Eu somente queria viver.
Naquele momento, qual foi a decis�o mais dif�cil?
Foram muitas decis�es e que tinham de ser tomadas a cada dia. Pegar a esquerda ou direita era uma decis�o, mas as decis�es mais importantes s�o de como sobreviver. Se alimentar do corpo de amigos. A gente pensa sobre esse tema com a mente da cidade. Se a decis�o � justa ou n�o � justa. A dois ou tr�s caras que eram muito religiosos eu perguntei: 'voc�s querem viver ou morrer?'. Voc� reza, sim, mas se voc� ficar rezando somente, nada vai acontecer. Uma outra decis�o muito dif�cil foi no dia que come�amos a expedi��o final, pois ali voc� deixa o grupo para morrer. Agora voc� sabe que eu sobrevivi, mas n�o era poss�vel. N�o v�amos terra. Por onde come�ar a andar? Sul, Norte, Leste? Deixar os amigos, o grupo, foi muito dif�cil, pois voc� se sente confort�vel com eles. Mas tive de quebrar essa seguran�a e partir em uma expedi��o kamikaze. N�o h� uma escola para aprender a se lidar com o medo. O medo n�o se vence, se convive com ele. N�o � uma op��o.
Qual foi o impacto daquela experi�ncia?
Todos somos criaturas de experi�ncia. Voc� vai crescendo e acumulando experi�ncia. Fui confrontado a uma coisa dif�cil. Eu n�o brigo mais, j� briguei. N�o discuto mais. Gosto sim de fazer coisas e quando encontro algo dif�cil penso muitas coisas. Antes talvez eu n�o teria a seguran�a que tenho agora. Penso que sou o mesmo cara de antes, pois tenho os mesmos medos e tenho muita sorte.
O acontecimento mudou de alguma forma sua concep��o sobre a vida?
Eu amo a vida. Em 40 anos eu nunca fiquei chateado. Mas estava nos Estados Unidos quando os avi�es bateram no World Trade Center e pensei 'lutei tanto pela vida dos meus amigos'. Conceber pessoas que matam por religi�o me fez ficar muito chateado. Pensar que h� gente que mata por religi�o e poder � algo que me incomoda. Minha mulher est� comigo h� 33 anos e me diz 'voc� nunca fica chateado ou deprimido'. Sou contente a cada dia. O fato de tomar �gua, por exemplo, depois que voc� fica dois meses e meio sem beber. Quando se fica enterrado em uma avalanche, sem respirar e sufocado. Quando voc� respira sente prazer. S�o coisas muito simples que se deve desfrutar. Tamb�m desfruto de carros, boas roupas e restaurantes. N�o sou um guru, sou um ser humano. �gua, carro, trabalhar, amigos. A vida � muito curta para desperdi�armos. Voc� tem de ser positivo.