No lugar de barracos de madeira, espa�os de educa��o ambiental e de lazer. O que antes era um territ�rio insalubre agora se transforma em ecotrilha. Esses s�o alguns dos atrativos do Parque da Rocinha - primeira �rea do tipo dentro de uma favela - que ser� inaugurado em dezembro deste ano, ap�s um in�cio de projeto conturbado, com direito a ato p�blico de rep�dio e at� o constrangimento do governo perante a ONU.
A ideia de cria��o do parque surgiu h� tr�s anos, em meio a protestos contra a decis�o do governo de levantar muros de conten��o em algumas favelas da cidade - os chamados "ecolimites". Autoridades alegavam que a obra serviria para conter a ocupa��o desenfreada das favelas em dire��o aos remanescentes de Mata Atl�ntica da regi�o. Opositores viam na medida uma forma autorit�ria de limitar a mobilidade dos moradores.
Passada a pol�mica, o parque agora � visto com bons olhos pela comunidade. A �rea, de 9 mil m², trar� atividades esportivas, educativas e culturais. Foram investidos R$ 24 milh�es, do Fundo Estadual de Conserva��o Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam). Al�m de ter ecotrilha, ciclovia, pared�o de escalada, arvorismo e uma quadra poliesportiva, o espa�o ainda trar� biblioteca, anfiteatro, parque infantil e uma academia para a terceira idade.
"N�s fizemos um trabalho com a comunidade, uma parceria chamada 'oficina do imagin�rio', onde os pr�prios moradores deram sugest�es e n�s incorporamos o que poderia ser adaptado no projeto", disse o diretor-presidente da Empresa de Obras P�blicas (Emop), �caro Moreno J�nior. De acordo com o arquiteto da Emop Anderson Caf�, 90% das instala��es foram sugeridas pela pr�pria comunidade.
Churrasco
As cinco churrasqueiras instaladas no local (a 2ª maior demanda dos moradores) prometem ser um dos espa�os mais disputados. Caf� era particularmente contra a cria��o de churrasqueiras dentro de um parque ecol�gico, mas acabou convencido. "Disseram que mesmo que n�o tivesse a churrasqueira eles poderiam fazer churrasco, trazendo uma port�til. Ent�o incorporamos a proposta at� por medida de seguran�a."
Foi de Caf� a ideia de homenagear os moradores da Rocinha, na grande maioria de origem nordestina, com o "red�dromo", um espa�o cenogr�fico com fachadas de casas t�picas do sert�o e �reas para descansar nas mais de 20 redes que ser�o colocadas no local. Nessa Pra�a de Cultura Nordestina haver� ainda a interven��o de grafiteiros, com imagens da literatura de cordel.
Passado
O parque foi constru�do sobre um local conhecido como "cobras e lagartos", uma �rea insalubre, que registrava os maiores �ndices de incid�ncia de tuberculose do Brasil. Para a constru��o, foram remanejadas cerca de 120 fam�lias que ocupavam o local em pequenos barracos de madeira.
Os plat�s e percursos abertos pelos antigos moradores serviram de base para a instala��o dos equipamentos de lazer. "Essa obra se acomoda aos espa�os de ocupa��o j� existentes. N�o derrubamos sequer uma �rvore", disse Caf�.
Antes do parque, a cria��o de espa�os verdes dentro da favela era restrita a algumas poucas iniciativas locais, como as da ONG Rocinha Mundo da Arte, que transformou um pequeno terreno baldio de 50 m² em um jardim comunit�rio.
A iniciativa foi elogiada como exemplo de projeto sustent�vel durante a Rio+20, e agora eles t�m recursos do Programa das Na��es Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para levar o trabalho adiante.
Os moradores aguardam, ansiosos, pela inaugura��o do parque. "Quando estiver pronto, acho que vai ser um lugar bom para chegar com as crian�as, passar o domingo assando uma carne, porque nem todo mundo tem condi��o de sair da favela para curtir", disse o auxiliar Gilmarques Lopes.
Um dos funcion�rios da obra, Carlos Alves de Moura, j� faz planos para o in�cio das atividades. Ele espera reunir, ainda antes da inaugura��o, 20 bicicletas por meio de doa��es de empres�rios locais, para serem utilizadas gratuitamente pelas crian�as da comunidade na futura ciclovia. J� conseguiu tr�s.
O m�sico Manoel Atan�sio, morador da Rocinha h� quase 60 anos, espera que o projeto traga tamb�m mais conscientiza��o �s pessoas quanto � preserva��o dos espa�os p�blicos e do meio ambiente. "Vamos procurar manter o parque da melhor maneira poss�vel, porque isso aqui � para a gente."
Em abril de 2009, o governo estadual decidiu construir muros em 13 favelas. A iniciativa reacendeu a discuss�o sobre a rela��o entre as �reas pobres e os bairros nobres do Rio. O governo justificava a medida como forma de conter o avan�o das favelas sobre as �reas verdes e foi criticado at� pela ONU - o perito Alvaro Tirado Mejiam viu uma "discrimina��o geogr�fica". O primeiro muro, com 634m de extens�o, foi erguido na Favela Santa Marta.