A brasileira Marcia Barbosa foi anunciada como uma das cinco escolhidas na 15.ª edi��o dos Pr�mios L'Or�al-Unesco para Mulheres na Ci�ncia, que distribui US$ 100 mil para cada pesquisadora, em reconhecimento por seus estudos. Marcia, que esteve nesta segunda-feira no Rio para a reuni�o anual da Uni�o Internacional de F�sica Pura e Aplicada (Iupap, na sigla em ingl�s), da qual � vice-presidente, v� a premia��o como uma oportunidade de mostrar que "cientistas s�o normais".
"� uma grande chance de mostrar que mulheres podem se dedicar � ci�ncia e ter uma vida normal, ter fam�lia e ter charme. � uma carreira muito divertida. N�s n�o somos louquinhas. O preconceito ainda � muito forte", afirmou a cientista, diretora do Instituto de F�sica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela investir� parte do pr�mio no laborat�rio de Fluidos Complexos e em viagens a trabalho para as quais costuma ser convidada.
Para concorrer ao pr�mio � preciso ser indicado por outros cientistas. O nome de Marcia foi apontado pelos norte-americanos Anneke Senger e Michael Fisher, e o brasileiro Constantino Tsallis pela descoberta de uma anomalia na �gua, que pode explicar desde como ocorrem terremotos ao surgimento de uma doen�a autoimune.
"Anomalia � tudo o que n�o � comum. Como a �gua � muito abundante, a gente n�o presta aten��o de que isso � incomum. A gente n�o v� ferro l�quido, a gente n�o v� nitrog�nio l�quido, n�o tem como comparar. Mas a �gua tem mais de 60 anomalias. A gente � feito de �gua, tudo � feito de �gua. As anomalias na �gua impactam a nossa vida muito fortemente", explica Marcia.
Ela se dedicou � anomalia da difus�o. A cientista faz a compara��o com o tr�nsito: quando aumenta o n�mero de carros nas ruas, o tr�fego fica lento. Na �gua ocorre o oposto. "Quando a temperatura est� razoavelmente alta e come�a a comprimir a �gua, ou seja, o n�mero de part�culas aumenta, essas part�culas andam mais depressa. Isso � pouco usual. A gente descobriu que a �gua se move mais r�pido e a gente conseguiu ver o mecanismo na simula��o em computador", explica.
Esse mecanismo ocorre quando a �gua interage. Se essa intera��o ocorre com uma prote�na, por exemplo, pode afetar a prote�na e desencadear uma doen�a autoimune. "Antes os pesquisadores s� olhavam a prote�na. Mas o comportamento an�malo da �gua explica os sistemas biol�gicos."
Marcia lembra que a crosta terrestre tamb�m � composta de �gua e a altera��o da temperatura pode provocar tanto aumento quanto diminui��o de volume. "Isso pode ser significativo quando a gente vai olhar essas perfura��es de petr�leo. A maior parte das anomalias acontece quando a �gua � retirada sob press�o negativa, ou quando � injetada, sob forte press�o. Entender como a �gua se comporta � fundamental para evitar que se fa�a besteira."
Filha de um militar eletricista, Marcia passou a inf�ncia consertando objetos com o pai. No ensino m�dio, no Col�gio Estadual Marechal Rondon, em Canoas (RS), tornou-se respons�vel pelo laborat�rio da escola. Descobriu a voca��o para a ci�ncia e contrariou os planos da fam�lia, que sonhava com uma m�dica ou engenheira. Quando perguntada por que nunca aceitou os in�meros convites para atuar fora do Pa�s, responde: "Sempre estudei em escola p�blica. Esse povo pagou toda a minha educa��o. N�o seria correto da minha parte, agora que estou podendo produzir, ir embora."
Al�m de Marcia, foram premiadas na categoria Ci�ncias F�sicas Francisca Nneka Okeke, da Universidade da Nig�ria (Nig�ria); Pratibha Gai, da Universidade de York (Reino Unido); Reiko Kuroda, da Universidade de Ci�ncias de T�quio (Jap�o); e Deborah Jin, do Instituto Nacional de Padr�es e Tecnologia e Universidade do Colorado (EUA).