S�o Paulo – Desde o come�o deste ano at� a �ltima quinta-feira, 85 policiais foram mortos em todo o Estado de S�o Paulo. O dado oficial, confirmado pela Pol�cia Militar, ainda n�o contabiliza a morte de um policial em folga, ocorrida na noite da �ltima quinta-feira na capital paulista. Segundo a Pol�cia Militar, 67 destes policiais mortos eram da ativa e 18 aposentados. O n�mero j� � bem superior ao que foi registrado em todo o ano passado. Em 2011, de acordo com a PM, 56 policiais foram assassinados, tanto da ativa quanto os aposentados. Em 2010 foram 71 policiais militares, informou o �rg�o, que n�o comenta o balan�o.
Na �ltima quinta-feira, o governador de S�o Paulo Geraldo Alckmin informou que 117 pessoas foram presas nos �ltimos dois meses sob suspeita de participa��o nos ataques contra os policiais militares. Segundo o governador, outros 28 suspeitos est�o sendo procurados e 19 morreram em confrontos com a pol�cia. “O governo n�o retroage. N�o vai voltar um mil�metro. O que ganha um criminoso quando ataca a pol�cia? Ele (criminoso) est� querendo criar intimida��o”, disse o governador, defendendo a a��o policial no enfrentamento contra o crime no estado.
Tamb�m entre janeiro e setembro deste ano, 28 pessoas morreram em confrontos com policiais civis e 369 por policiais militares, totalizando 397 pessoas mortas em confrontos com policiais no per�odo. Isso significou aumento de 8,5% em compara��o ao ano passado. Nos mesmo per�odo de 2011, 30 pessoas morreram em confronto com policiais civis e 333 por policiais militares, totalizando 363 pessoas mortas em confrontos.
Os n�meros da secretaria tamb�m revelaram aumento de 96% no n�mero de homic�dios na cidade de S�o Paulo no m�s de setembro em compara��o com o mesmo per�odo do ano passado. Em setembro, a capital registrou 135 casos de homic�dios, enquanto no mesmo m�s de 2011 foram registrados 69 casos.
No acumulado entre janeiro e setembro, a alta foi de 22% na capital, com 920 casos de homic�dios e 982 v�timas (o n�mero de v�timas � maior porque pode haver mais mortes em um mesmo boletim de ocorr�ncia). Em todo o estado, no mesmo per�odo, o aumento foi de 8%.
Em entrevista concedida na manh� de sexta-feira, o secret�rio de Seguran�a P�blica Antonio Ferreira Pinto disse n�o acreditar que a morte de policiais decorra de uma retalia��o de organiza��es criminosas. “O que est� incomodando � o combate efetivo ao tr�fico de drogas. H� essa rea��o deles (criminosos), mas sem aspecto de retalia��o”, disse. “A estrat�gia � exatamente essa: com policiamento mais efetivo. O combate � efetivo e temos certeza de que vamos reverter esse quadro adverso no momento”, disse ele.
Durante a entrevista, o secret�rio disse que a estrat�gia de combate � viol�ncia em S�o Paulo est� correta. “N�o h� estrat�gia dando errada. A estrat�gia tem dado certo”, disse Ferreira Pinto.
Ele tamb�m descartou a necessidade de as For�as Armadas auxiliarem as a��es policiais neste momento no estado. “S�o Paulo � auto-suficiente. A pol�cia de S�o Paulo � preparadam, tanto a civil quanto a militar”, falou.
Segundo o secret�rio, a maior parte dos autores dos homic�dios contra os policiais j� foi presa. “Temos apenas 10 (criminosos) computados que reagiram e acabaram morrendo”, disse.
Em entrevista � Ag�ncia Brasil, o coronel reformado da PM paulista Jos� Vicente da Silva Filho, consultor de seguran�a e professor do Centro de Altos Estudos de Seguran�a da Pol�cia Militar de S�o Paulo, tamb�m analisa como correta a estrat�gia utilizada pela pol�cia no estado. “Neste ano, a pol�cia vem fazendo uma repress�o muito severa ao tr�fico e distribui��o de drogas nas ruas da cidade o que tem suscitado uma a��o mais intensa dos criminosos incomodados com isso”, falou.
Segundo ele, tamb�m � preciso analisar os n�meros referentes �s mortes de policiais, que indicam que a maior parte n�o ocorreu em consequ�ncia a confrontos com organiza��es criminosas. “O que a pol�cia tem percebido – e conversei sobre isso recentemente com o secret�rio e com o comandante-geral da PM (Roberval Ferreira Fran�a) – � que h� uma variedade muito grande. N�o se pode colocar tudo numa �nica cesta de casos e atribuir uma causa comum a isso. Temos a� uma quantidade expressiva de policiais que reagiram a um assalto e morreram, que somam mais de 20 casos, e casos de policiais que estavam executando algum trabalho no seu hor�rio de folga (como vigilantes particulares, por exemplo) e acabaram morrendo. E temos tamb�m os casos com caracter�sticas de execu��o, que � um outro grupo”, disse.
Para o coronel, o aumento no n�mero de mortes de policiais neste ano se deve a dois principais fatores: “Um � a intensifica��o muito grande da pol�cia ao tr�fico de entorpecentes. Outro aspecto � que a pol�cia vem mantendo o ritmo pesado de pris�o de criminosos”, disse. Segundo ele, o que pode estar ocorrendo tamb�m � que alguns criminosos t�m aproveitado a onda de viol�ncia para “fazer a��es contra seus principais desafetos”.
“Historicamente, o que se percebe � que o grande instrumento que existe para a pol�cia reduzir crimes � a rea��o competente dela ao criminoso. O bandido tem de ter medo da pol�cia. Medo de ser apanhado, de ser preso”, defendeu o coronel.
J� a soci�loga e pesquisadora-associada do N�cleo de Estudos da Viol�ncia da Universidade de S�o Paulo (NEV-USP), Camila Dias, acredita que os n�meros de mortes de policiais no estado revela “um contexto de desequil�brio das rela��es entre criminosos, sobretudo do PCC (Primeiro Comando da Capital), e a pol�cia”.
Segundo ela, os n�meros de mortes de policiais e civis s�o altos porque decorrem “de uma guerra entre a pol�cia militar e o PCC”. Para ela, “Isto produziu um perverso c�rculo vicioso cuja express�o � a eleva��o das taxas de pessoas mortas, sobretudo com caracter�sticas de execu��o sum�ria”.
Para Camila, h� erros na pol�tica de seguran�a p�blica estadual. “H� um 'mais do mesmo' que envolve o aumento do encarceramento e investimentos na Pol�cia Militar, com compra de equipamentos e armas e n�o se busca uma solu��o que v� al�m disto. Isto, ali�s, n�o se limita a S�o Paulo”, disse ela.
Camila defende que uma das solu��es para evitar esses conflitos � fazer uso da intelig�ncia policial e de t�cnicas de investiga��o para identificar os respons�veis pelas mortes. “Mas n�o basta identificar e prender os acusados pelas mortes dos policiais. � evidente que isso � importante. Mas � fundamental, tamb�m, identificar os respons�veis pelas mortes de civis que aumentam exponencialmente quando ocorre execu��o de policiais e, muitas vezes, esse aumento se d� horas depois, no mesmo bairro. � preciso, assim, investigar seriamente esses crimes, principalmente se eles tiverem o envolvimento de policiais como muito deles parecem ter”.