A segunda noite de atentados em Santa Catarina foi ainda mais violenta que a primeira. Da madrugada de ter�a para quarta-feira, os criminosos realizaram ataques em Navegantes, Crici�ma, Florian�polis, Itaja� e Blumenau. Na lista de crimes, est�o �nibus incendiados, apedrejados e tiros contra pres�dios. Por outro lado, a pol�cia deteve 23 pessoas.
De acordo com o delegado-geral de Pol�cia Civil, Aldo Pinheiro, os depoimentos colhidos com os detidos refor�am o eixo de trabalho das investiga��es at� aqui."Uma parte dos atentados ocorre por a��o de organiza��es nos pres�dios e outra parte � de v�ndalos ou oportunistas que se aproveitam da situa��o para confrontar o Estado", disse.
Colombo fez coro �s autoridades policiais e entende que parte dos crimes pode ser motivada pelo recrudescimento do Estado nas cadeias. "No ano passado tivemos mais de 500 fugas e 11 mortes. Em 2012, foram 125 fugas e apenas duas mortes. Estamos preparados e trabalhando para dar toda a seguran�a � popula��o", declarou.
Diante da onda de viol�ncia que assola Santa Catarina, o Minist�rio P�blico do Estado montou um grupo de trabalho para atuar na intelig�ncia de combate ao crime. A ideia � agir em conjunto com as Pol�cias Civil e Militar e outros �rg�os de seguran�a para apontar de onde partiu a ordem para os atentados, quem comanda as a��es e, com base nessas informa��es, montar uma estrat�gia para coibir novos ataques.
O procurador-geral de Justi�a, Lio Marcos Marin, acredita que at� o in�cio da pr�xima semana as investiga��es ter�o resultados significativos. "Por enquanto, h� muita especula��o e poucas afirma��es. Os fatos s�o muito recentes. Precisamos de mais alguns dias para dar a resposta precisa � sociedade", disse Marin.
Marin n�o acredita que os atentados possam ter origem em alguma fac��o criminosa aos moldes do Primeiro Comando da Capital (PCC), de S�o Paulo, que atue nos pres�dios catarinenses. Na opini�o dele, o que existe em Santa Catarina s�o pequenos grupos, com um certo grau de organiza��o, que se beneficiam do vazamento de informa��o para fora do sistema prisional. "Ao nosso ver, n�o ocorre uma organiza��o nas dimens�es em que se imagina ou que � noticiado", opinou.
Linhas de investiga��o
As investiga��es do Minist�rio P�blico seguem na linha de que a viol�ncia dos �ltimos dias � uma retalia��o dos presos. Na primeira hip�tese, seria uma rea��o ao corte de regalias nas pris�es, desagradando aos detentos. Na segunda hip�tese, os atentados seriam uma resposta a maus-tratos e torturas supostamente impostas por agentes prisionais. "Nada disso foi comprovado, mas as investiga��es j� come�aram", disse.
Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) catarinense, Paulo Roberto de Borba, a crise instalada na seguran�a p�blica do Estado exp�e a necessidade de uma revis�o completa no modelo de seguran�a adotado at� hoje. "Quando ouvimos de um ministro da Justi�a, que ele preferia morrer a ser preso, � porque algo est� muito errado", disse, em refer�ncia a fala do ministro Jos� Eduardo Cardozo a empres�rios.
Borba ressalta que o momento de viol�ncia aguda ocorre tamb�m em outras regi�es do Pa�s e n�o � um fato isolado de Santa Catarina "A seguran�a p�blica � uma abordagem estadual e nacional, precisa ser feita de maneira integrada. No momento atual, temos que ter calma para resolver a crise. Depois, precisamos repensar toda a seguran�a p�blica", resumiu.
Os ataques, at� agora, n�o feriram ningu�m da popula��o. Os comerciantes da capital seguem o ritmo normal de trabalho e n�o sofreram qualquer amea�a ou imposi��o de toque de recolher por parte dos criminosos.
Segundo Marcos Arzua, diretor executivo da Federa��o do Com�rcios de Santa Catarina (Fecom�rcio-SC), o movimento nas lojas continua igual, o volume de vendas segue dentro do esperado para esta �poca do ano e nenhum impacto foi sentido no dia a dia das lojas. "N�s acreditamos que o epis�dio dos atentados seja um caso espor�dico. N�o � o tipo de crime que costuma ocorrer em Santa Catarina. Acreditamos que as medidas p�blicas v�o surtir efeito rapidamente e tudo voltar� ao normal", afirmou.
Arzua ressalta que n�o h� uma orienta��o direta aos comerciantes para mudarem o comportamento por causa dos atentados, no entanto, afirma que se os empres�rios perceberem qualquer manifesta��o de viol�ncia "devem prezar pela seguran�a deles pr�prios, dos empregados, dos clientes e do estabelecimento".
A �nica autoridade policial at� agora a reconhecer a exist�ncia de uma fac��o criminosa nos pres�dios catarinenses � o delegado Renato Hendges, presidente da Associa��o dos Delegados de Pol�cia (Adepol) em Santa Catarina e com atua��o na Pol�cia Civil h� mais de quatro d�cadas. Para ele, a origem da crise tem como nascedouro as condi��es do sistema prisional. "Negar que n�o existe essa organiza��o � uma hipocrisia. S�o cinco ou seis l�deres, bandidos perigosos que comandam a organiza��o. Essa organiza��o tem um comando verticalizado e a��es criminosas em v�rios n�veis", disse.
No entanto, faz quest�o de frisar que as a��es em Santa Catarina n�o t�m liga��o alguma com os ataques do PCC em S�o Paulo. "Aqui � uma rea��o ao tratamento nas pris�es. Eles resolveram fazer um rebeli�o externa. N�o tem nada a ver com o PCC", garante.
Hendges ainda afirma que o modo das autoridades lidarem com essa organiza��o � uma das origens da s�rie de atentados. "Quando a organiza��o ainda era um embri�o, as autoridades tiraram o l�der de uma unidade e o colocaram em pris�es de Crici�ma, Joinville, Chapec�, Blumenau e Itaja�. O resultado foi que esse criminoso construiu uma rede de relacionamentos muito forte", acusa.
O delegado acredita que � necess�rio uma mudan�a profunda no sistema prisional. Hoje, segundo ele, s�o 10,5 mil vagas para 17 mil presos, al�m de outros 10 mil mandatos de busca ainda n�o realizados pela pol�cia. "Um dia estoura", ressaltou.
Segundo ele, as primeiras medidas para ordenar a situa��o s�o simples. Instalar nos pres�dio o parlat�rio (divis�o de vidro com interfone), bloqueadores de celular e detector de metal em cada pris�o. "Cedo ou tarde esses atentados v�o parar, mas e a�? A estrutura continuar� a mesma. � preciso mudar o sistema e instituir o regime diferenciado", conclui.