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Estado de Minas

Turistas se refugiam em cidade onde o mundo n�o tem fim

Um n�mero recorde de turistas � esperado em Alto Para�so, na Chapada dos Veadeiros, para o dia 21 de dezembro, data prevista no calend�rio maia como o final dos tempos. A bela regi�o est� a salvo, segundo m�sticos


postado em 19/12/2012 07:49 / atualizado em 19/12/2012 08:15

A aura mística das cachoeiras atrai turistas com estilo de vida alternativo ou cansados da rotina das grandes metrópoles (foto: Minervino Júnior/Encontro/DA Press)
A aura m�stica das cachoeiras atrai turistas com estilo de vida alternativo ou cansados da rotina das grandes metr�poles (foto: Minervino J�nior/Encontro/DA Press)

Dois homens conversam sentados � mesa, em um restaurante de Alto Para�so (GO), na Chapada dos Veadeiros, a 230 km de Bras�lia. O assunto � improv�vel. “O povo diz que o mundo vai acabar. T� preparado?”, pergunta o mais jovem entre eles, que est� na casa dos 30 anos, mas com a fei��o envelhecida pela barba amarelada e longa. A resposta vem de pronto. “O mundo acaba todo dia para algu�m, para quem morre, talvez. Mas n�o duvido nada se uma onda gigante sair pegando tudo no caminho”, avaliou o outro, um senhor de 70 e poucos anos, que parece ter sa�do h� pouco do Woodstock.

O munic�pio de Alto Para�so est� dividido entre os que acreditam nas profecias do calend�rio maia, que, segundo interpreta��es de estudiosos, previu o fim do mundo para 21 de dezembro de 2012, e os que se irritam somente de ouvir falar no tema por consider�-lo uma alucina��o coletiva. Baseados nesse calend�rio, m�sticos apontaram Alto Para�so como o lugar onde a humanidade sobreviver� � cat�strofe, por quest�es geogr�ficas e esot�ricas.

Independente mente da cren�a individual, � fato que a profecia – que � controversa, chegou a ser contestada por uma ala de adeptos das cren�as maias – mudou a rotina de Alto Para�so e atraiu centenas de pessoas para a regi�o. O mercado imobili�rio do pacato munic�pio nunca foi t�o movimentado.

Belezas divulgadas: a profecia maia mudou a rotina de Alto Paraíso e atrai cada vez mais turistas, que se deleitam em paisagens como o Vale da Lua (foto: Minervino Júnior/Encontro/DA Press)
Belezas divulgadas: a profecia maia mudou a rotina de Alto Para�so e atrai cada vez mais turistas, que se deleitam em paisagens como o Vale da Lua (foto: Minervino J�nior/Encontro/DA Press)
Corretores de im�veis de plant�o agradecem. S� esse ano, eles venderam mais de 200 propriedades para pessoas que temem o fim do mundo ou simplesmente descobriram a exist�ncia de um lugar calmo e cheio de belezas naturais gra�as a essa divulga��o. Anteriormente, a conta n�o passava de 10 im�veis vendidos anualmente. “Se antes o metro quadrado valia R$ 50, hoje se aproxima dos R$ 100. Tudo gra�as � cren�a no fim do mundo”, conta Nilton Kalunga, dono de uma corretora.

Alto Para�so jamais esteve t�o destacado ao redor do globo. Em outubro, uma equipe da televis�o francesa passou semanas no munic�pio para produzir um document�rio sobre esse assunto. Al�m disso, a cidade foi destaque em notici�rios nacionais como “o lugar onde o mundo n�o acabar�”. Tamanho burburinho atraiu uma comunidade inteira de japoneses e descentes vindos de S�o Paulo, e ainda outros estrangeiros de pelo menos 30 nacionalidades que compraram casa ou montaram acampamento ali.

Atualmente, pelo menos 30% da popula��o local s�o de gringos, de acordo com a prefeitura. “Os japoneses que est�o aqui realmente acreditam na possibilidade do fim do mundo. Alguns s�o traumatizados pelos tsunamis e terremotos e sentem-se seguros nessa regi�o longe do mar e elevada”, explica um novo morador, que preferiu n�o se expor. Nas pr�ximas semanas, a previs�o de fim do mundo deve alterar de vez o dia a dia de Alto Para�so, com a proximidade do suposto apocalipse.

A regi�o sobrevive principalmente do turismo. Em segundo lugar, vem a agricultura. Em noites de semana, somente grilos fazem barulho nas ruas da cidade tranquila, que s� v� agita��o e forasteiros aos s�bados, domingos e feriados.

Belezas naturais são o maior atrativo de Alto Paraíso: a Cachoeira dos Cristais é uma das mais próximas e fáceis de visitar (foto: Minervino Júnior/Encontro/DA Press)
Belezas naturais s�o o maior atrativo de Alto Para�so: a Cachoeira dos Cristais � uma das mais pr�ximas e f�ceis de visitar (foto: Minervino J�nior/Encontro/DA Press)
O cen�rio se transformar� em 21 de dezembro. Milhares de pessoas se preparam para passar a data fat�dica em Goi�s. A expectativa da Secretaria de Turismo de Alto Para�so � de receber 10 mil turistas na regi�o. A popula��o local � de 7,3 mil habitantes. Portanto, haver� mais visitantes do que moradores.

Se depender da programa��o organizada pela secretaria e por empres�rios locais, enquanto o resto do mundo estiver se acabando entre chamas e inunda��es, Alto Para�so dan�ar� ao som de m�sica eletr�nica e Raul Seixas (haver� festas com esses temas), al�m de promover um passeio cicl�stico com nome de Corrida do Fim do Mundo.

“Nossa equipe percorreu o com�rcio local e principalmente as pousadas para saber sobre o movimento previsto a partir do dia 21. Preparamos tudo para receber essa quantidade de pessoas. O que nos preocupa � o abastecimento de energia el�trica e de �gua, que provavelmente ser� insuficiente”, diz a secret�ria de Turismo de Alto Para�so, Fernanda In�s.

Em 2000, quando houve outra previs�o de fim do mundo, na virada do mil�nio, mais de 3 mil turistas chegaram a Alto Para�so. Restaurantes n�o tinham comida o suficiente para oferecer, faltou energia el�trica e n�o havia quartos para todos nas pousadas. Moradores deixaram suas resid�ncias e alugaram-nas para visitantes, com intuito de fugir do caos de cidade grande que invadiu as vilas. A administra��o local trabalha para que em 2012 o “fim do mundo” seja diferente.

Pousadas compraram geradores de energia e ampliaram o n�mero de leitos. Entre as seis maiores hospedarias da cidade, quatro j� est�o lotadas para esse per�odo, desde julho. “Estamos tranquilos, pois temos gerador de energia. Mas foi necess�rio refor�ar o abastecimento de alimentos e de pessoal para receber a quantidade esperada de turistas”, conta Luciana Yoda, dona da pousada Casa Rosa, uma das maiores de Alto Para�so, que j� tem 80% de ocupa��o reservada para 21 de dezembro.

A cren�a de que o lugar estar� a salvo de cat�strofes naturais se explica pela localiza��o geogr�fica de Alto Para�so. A altitude dessa �rea da chapada � de 1,3 mil metros, aproximadamente. � o ponto mais alto de toda a regi�o Centro-Oeste. Al�m disso, a cidade fica em cima de uma placa de quartzo com cerca de 4 mil metros quadrados, o que traria energia diferente ao local.

O paralelo 14, um dos c�rculos tra�ados paralelamente � linha do equador, que determinam a latitude de um lugar, seria o respons�vel por trazer seres extraterrestres a Alto Para�so, o que explica a presen�a de discos voadores de brinquedo espalhados por toda a cidade.

Essa aura atrai turistas – e tamb�m novos moradores – com estilo de vida alternativo ou cansados da rotina das grandes metr�poles, como a paulista Tatiana Galliac, que chegou a Alto Para�so para ficar alguns dias e est� l� h� dois meses. “Essa energia diferente potencializa tudo. N�o acredito nem desacredito na profecia.” E diz ainda que, como Alto Para�so est� em uma altitude privilegiada, poderia sobreviver a desastres como inunda��es: “A Terra � um organismo vivo e a posi��o planet�ria influencia em tudo, estamos todos conectados. O fim do mundo, para mim, � o caos, a viol�ncia”, reflete.

Durante a semana, beleza e tranquilidade: a cidade só vê a agitação de forasteiros aos sábados, domingos e feriados (foto: Minervino Júnior/Encontro/DA Press)
Durante a semana, beleza e tranquilidade: a cidade s� v� a agita��o de forasteiros aos s�bados, domingos e feriados (foto: Minervino J�nior/Encontro/DA Press)


A regi�o reserva surpresas inusitadas ao visitante desde a chegada. Logo na estrada, passa-se por debaixo de um arco de concreto branco que lembra uma nave espacial. Discos voadores, extraterrestres, casas em formato de c�pula e at� moradias subterr�neas s�o comuns por l�.

De acordo com a prefeitura, existem cerca de 40 grupos m�sticos e esot�ricos em Alto Para�so. Habita��es ou templos em formato de gota s�o heran�a da Cavaleiros de Maitreya, grupo formado por seguidores do profeta conde de Saint-Germain, figura m�stica da Pensilv�nia que alguns acreditavam ter o elixir da juventude.

Outro atrativo da regi�o � S�o Jorge, uma vila com 500 habitantes e sem asfalto, a 30 km de Alto Para�so. Ao todo, a regi�o tem 66 pousadas, 14 �reas de camping, al�m de 37 casas para temporada. S�o 32 restaurantes em Alto Para�so, a maioria com card�pio que atende tamb�m aos vegetarianos, e 16 em S�o Jorge. Em geral, as acomoda��es s�o simples e as op��es de alimenta��o tamb�m n�o oferecem requinte. Quando o assunto � originalidade e inova��o, o visitante tem muito para ver.

H� uma pousada em constru��o que ter� os quartos em formato de nave espacial, sem telhas em cima e feita somente em concreto e vidro. O hotel foi projetado assim para evitar que telhas voem em poss�veis vendavais apocal�pticos. Na Chappada, a maior pousada da cidade, o visitante � recepcionado por um disco voador que brilha � noite. L� dentro, h� v�rios ETs de brinquedo, al�m de quadros com astros do rock e do cinema.

Excentricidades � parte, os maiores atrativos da Chapada dos Veadeiros s�o as dezenas de cachoeiras, trilhas e o Vale da Lua, onde as rochas esculpidas pelo movimento das �guas lembram o solo lunar. Existem v�rias op��es de passeios, inclusive com esportes radicais, como rapel e escalada. Entre as cachoeiras, uma das mais pr�ximas, a 7 km do centro de Alto Para�so, � a dos Cristais. Como na maioria, � preciso pagar R$ 10 para chegar at� as quedas d’�gua. A mais alta, conhecida como V�u da Noiva, � como um presente para os que conseguem concluir a caminhada.

As cachoeiras mais belas e gratuitas est�o no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, declarado Patrim�nio Mundial Natural em 2001 pela Unesco. Essas, por�m, demandam guias e preparo f�sico do visitante. L�, um dos pontos mais visitados � o Vale da Lua, a caminho da vila S�o Jorge. A entrada tamb�m custa R$ 10, pois � uma �rea de propriedade particular. A trilha de 900 metros em meio � mata leva a uma paisagem incompar�vel.

Se o visitante estiver disposto a esticar o passeio, h� ainda o munic�pio de Cavalcante, tamb�m famoso por suas belezas naturais, 90 km depois de Alto Para�so. Ali, vive a maior popula��o quilombola do pa�s. A natureza plena e a diversidade cultural s�o provas de que, sem ou com misticismo, viver a experi�ncia da Chapada � renovador.

Mais visitantes do que moradores: a expectativa da Secretaria de Turismo de Alto Paraíso é de receber 10 mil turistas onde vivem 7,3 mil habitantes (foto: Minervino Júnior/Encontro/DA Press)
Mais visitantes do que moradores: a expectativa da Secretaria de Turismo de Alto Para�so � de receber 10 mil turistas onde vivem 7,3 mil habitantes (foto: Minervino J�nior/Encontro/DA Press)
Como chegar � Chapada dos Veadeiros

A DF 345 e a GO 118 ligam a capital � Chapada dos Veadeiros. O percurso de carro dura em m�dia 2h30 e � bem sinalizado, al�m de ter asfalto em boas condi��es.

Duas empresas fazem a linha Bras�lia-Chapada dos Veadeiros (passagens custam cerca de R$ 35 o trecho):

- Real Expresso: 0800-617323 www.realexpresso.com.br

- Santo Ant�nio: (61) 3328-0834

Informa��es sobre programa��es, atrativos, vagas em pousadas
e casas para temporada: Centro de Apoio ao Turista (CAT) (62) 3446-1159.


Calend�rio Maia

A civiliza��o maia foi uma cultura mesoamericana pr�-colombiana. Um conjunto de s�mbolos esculpidos em pedra forma o famoso calend�rio, que tem in�cio em 11 de agosto de 3114 a.C. Nele, o m�s (chamado de uinal) tem 20 dias. Um ano ocidental corresponde a 18 uinals. De acordo com estudiosos, o calend�rio maia tem uma dura��o limitada de 5.200 anos e o fim desse ciclo foi transcrito como o dia 21 de dezembro de 2012.

Em julho deste ano, uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos anunciou a descoberta de um calend�rio maia mais antigo que os at� ent�o documentados. Com a descoberta, pretendiam desmontar a teoria de quem acredita no fim do mundo em 2012. A cren�a, por�m, j� estava disseminada.


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