Quatro pessoas est�o presas – dois s�cios da Boate Kiss, Mauro Londero Hoffmann e Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko; e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e produtor Luciano Augusto Bonilha Le�o – por suspeita de terem contribu�do para o inc�ndio, na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), que provocou a morte de 231 jovens, na segunda maior trag�dia com fogo da hist�ria do pa�s. � noite, o juiz Afif Sim�es Neto determinou liminarmente o bloqueio de todos os bens dos s�cios da Boate Kiss. A a��o, proposta pela Defensoria P�blica do Rio Grande do Sul, visa garantir futuras indeniza��es a familiares e v�timas.
De acordo com o delegado Sandro Meinerz, que preside as investiga��es, eles tiveram as pris�es tempor�rias decretadas pelo juiz Regis Adil por cinco dias. Al�m de tomar o depoimento de Hoffmann e Sphor, que deixaram a cidade logo ap�s o in�cio do fogo, a pol�cia apura o suposto sumi�o das imagens do sistema de seguran�a da casa de shows. Peritos da Pol�cia Civil, que trabalham no local desde a manh� de ontem, querem saber se as imagens foram apagadas ou se as c�meras n�o estavam gravando no momento do inc�ndio.
Atuando em diferentes frentes para juntar o quebra-cabe�a da trag�dia, a pol�cia inclui tamb�m nas investiga��es a an�lise das postagens em redes sociais. “O trabalho do grupo de intelig�ncia de Porto Alegre, com o apoio da pol�cia de Santa Maria, coleta informa��es tamb�m nas redes sociais. Qualquer tipo de depoimento ou informa��o est� sendo buscado para que possa servir de provas futuras”, afirmou o delegado Emerson Wenddi, do setor de intelig�ncia da Pol�cia Civil de Porto Alegre.
A busca de ind�cios de responsabilidade se estendeu tamb�m ao carro de Kiko Spohr, que abandonou sua caminhonete F-250 branca no estacionamento de um supermercado em frente � boate. “Ele disse que deixou o local de carona, por medo de retalia��es”, informou o delegado Meinerz. A per�cia isolou o carro e tamb�m um pequeno reboque que continha instrumentos da banda. Na madrugada, policiais arrombaram um cadeado que fechava o reboque. A suspeita era de que poderia haver mais sinalizadores, mas s� foram encontrados instrumentos musicais. Outros carros estacionados no subsolo foram numerados com etiquetas pelos policiais, pois podem ser de v�timas da trag�dia.
LARANJA Pela manh�, um dos donos da boate, Kiko Spohr confirmou � pol�cia que o alvar� de funcionamento da casa estava vencido, mas que j� havia providenciado a renova��o. A suspeita da pol�cia � de que o estabelecimento, palco da trag�dia, esteja registrado em nome de laranjas, que seriam a m�e e a irm� de Spohr. Quando foi localizado pelos policiais, o comerciante estava internado em um Hospital de Cruz Alta, onde se recupera por ter inalado fuma�a, sob cust�dia do estado. Ele estava na boate no momento do inc�ndio, no entanto seu estado de sa�de � regular e ele deve ser liberado em dois dias, quando ser� levado para a cadeia de Santa Maria.
Segundo o delegado Meinerz, durante todo o tempo Spohr se esquivou da responsabilidade pela trag�dia. Ele atribuiu o in�cio do fogo aos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que usaram um equipamento conhecido como Sputnik, cujas fa�scas atingiram a espuma do isolamento ac�stico, no teto da boate, dando in�cio ao fogo. Ele negou que os seguran�as tenham tentado evitar a sa�da dos jovens da casa.
O outro s�cio da Kiss, Mauro Hoffmann, chegou � Delegacia de Pol�cia Regional da cidade acompanhado por sua mulher e seu advogado. Ele apenas disse : “N�o tenho parte nisso. N�o contratava nem demitia pessoas. N�o tinha poder gerencial, era apenas s�cio financeiro da Kiss, com 50% das a��es”. Confessou, no entanto, que � dono de outra boate na cidade, a Absinto Hall. Esquivando-se mais uma vez, o empres�rio ressaltou que o uso de pirotecnia � expressamente proibido em sua outra casa, mas “nem sempre as bandas informam o que v�o apresentar no show”.
Os dois integrantes do grupo, o vocalista Marcelo Santos e Luciano Le�o, produtor do grupo, foram presos em Mata (RS), de acordo com o Tribunal de Justi�a do estado. No entanto, eles optaram por se manifestar oficialmente s� ap�s a conclus�o do inqu�rito. O delegado Meinerz explicou que “as pris�es s�o para possibilitar as investiga��es dos fatos em todas as suas nuances”.
PROVAS ADULTERADAS O Minist�rio P�blico estadual disse ontem que suspeita de que houve adultera��o de provas que comprovariam supostas irregularidades na Boate Kiss. De acordo com procuradores, os donos da boate n�o forneceram imagens das c�meras internas e tampouco repassaram os registros da caixa registradora, que poderiam comprovar o n�mero de pessoas que entraram no local durante a noite. Segundo o depoimento de 17 testemunhas e imagens analisadas pela per�cia, devia haver mais de 1,5 mil pessoas no local. A pol�cia afirma que a capacidade m�xima aprovada para a boate � de mil pessoas.
Os promotores acham que ainda n�o h� evid�ncias para responsabilizar agentes p�blicos, como fiscais da prefeitura, por exemplo, por permitir a realiza��o da festa e o funcionamento da casa. Ao lado da Pol�cia Civil, o que o Minist�rio P�blico quer � identificar os respons�veis pela s�rie de erros que potencializou a trag�dia, como a falta de uma sa�da de emerg�ncia e de sinaliza��o luminosa. Podem ser responsabilizados pela trag�dia os donos da boate, empresas de seguran�a, integrantes da banda, prefeitura e Corpo de Bombeiros.
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) acompanhou ontem os enterros de parte das v�timas da trag�dia. “O primeiro momento era de resgate. A segunda fase foi a luta para preservar a sa�de dos que ficaram feridos. Entramos agora na terceira fase, que � a apura��o. Queremos que o caso seja investigado � exaust�o, que dele possam decorrer mudan�as na legisla��o federal, estadual e municipal”, afirmou o governador. (Com ag�ncias)