Bras�lia – � medida que o luto pelos mortos de Santa Maria se transforma em revolta diante da trag�dia anunciada, a troca de acusa��es e as tentativas de se esquivar da responsabilidade se intensificam. Assim que as l�grimas deram lugar aos gritos por justi�a, representantes da Prefeitura de Santa Maria, do governo do Rio Grande do Sul e do Corpo de Bombeiros come�aram a protagonizar um jogo de empurra. O inc�ndio que aterrorizou o Brasil completou uma semana no s�bado, mas o script das entrevistas das autoridades segue o mesmo roteiro de insensatez. Em todas as declara��es dadas at� o momento, as autoridades fogem das responsabilidades e insistem em transferir para os outros a culpa pelo acontecimento, eximindo-se de qualquer falha pr�pria.
A troca de acusa��es n�o se restringe aos integrantes do poder p�blico, em um pa�s infelizmente j� acostumado com o descaso das autoridades em situa��es de cat�strofe. No meio desse fogo cruzado, os donos da Boate Kiss e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que teriam soltado um sinalizador no espa�o fechado, tamb�m tentam como podem escapar das imputa��es pela maior trag�dia da hist�ria do Rio Grande do Sul e uma das mais chocantes do pa�s. O Estado de Minas elencou as principais desculpas adotadas pelos envolvidos com a fiscaliza��o das atividades urbanas e com o monitoramento das condi��es de seguran�a. O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), apressou-se em afirmar que o Corpo de Bombeiros deveria fiscalizar os equipamentos anti-inc�ndio da boate. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, garantiu que a prefeitura deveria ter interditado a boate em agosto, quando venceu o alvar�.
S�o dos donos da Boate Kiss as principais desculpas. Os empres�rios tentaram culpar os m�sicos da banda Gurizada Fandangueira, que teriam realizado o espet�culo pirot�cnico, e tamb�m declararam que a opera��o de salvamento dos bombeiros foi desastrosa. Alegaram ter agido de acordo com as normas e reclamaram da demora na aprova��o do plano de preven��o a inc�ndios, que tramitava no Corpo de Bombeiros. Declararam tamb�m que os militares erraram ao “usar civis” para auxiliar no resgate �s v�timas, o que teria, segundo eles, potencializado o n�mero de mortos na boate ga�cha.
Em meio � troca de acusa��es, a Pol�cia Civil investiga o caso para estabelecer a parcela de responsabilidade dos envolvidos.
Enquanto isso...
...A dif�cil volta � rotina
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a maior ferida da trag�dia, tenta voltar aos trilhos hoje. N�o � f�cil. � a pior segunda-feira do ano. Desde o inc�ndio da Boate Kiss, a institui��o, que perdeu 114 alunos – quase metade das v�timas – estava de portas fechadas. Na entrada principal, um grande arco foi completamente coberto por panos pretos. Alunos plantaram flores. Apenas a parte administrativa estava funcionando. �s 9h, a reabertura da UFSM aos alunos ser� marcada por um grande ato ecum�nico no espa�o anexo � reitoria. Familiares dos estudantes, amigos e professores v�o homenagear os universit�rios mortos no inc�ndio da casa noturna. Algumas turmas praticamente desapareceram. Diretores, professores e coordenadores de curso n�o sabem ainda como v�o conseguir retornar. Muitos est�o contando com a ajuda de psic�logos. (Jo�o Oliveira)