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Estado de Minas

Padre usa a internet para denunciar o sofrimento causado pela seca no nordeste


postado em 12/02/2013 07:38

Padre Djacy Brasileiro percorre cidades da Paraíba para mostrar as mazelas da seca no Nordeste (foto: Padre Djacy Brasileiro/divulgacao )
Padre Djacy Brasileiro percorre cidades da Para�ba para mostrar as mazelas da seca no Nordeste (foto: Padre Djacy Brasileiro/divulgacao )

“Quando o jumento e o mandacaru come�am a morrer � sinal de que a coisa est� feia." Para quem mora no Sul, como os nordestinos muitas vezes se referem ao Sudeste brasileiro, essa afirma��o pode parecer um pouco sem sentido, mas quem vive no sert�o sabe muito bem o que isso representa. Caso do autor da frase, o padre Djacy Brasileiro, 47 anos, nascido e criado no Vale do Pianc�, sert�o da Para�ba, que vem denunciando a seca que se abate sobre o povo do Nordeste.

Ele n�o fala no p�lpito da par�quia de Pedra Branca, cidade com pouco mais de 4 mil habitantes, localizada a 567 quil�metros da capital Jo�o Pessoa, onde � sacerdote. Para clamar por socorro contra os efeitos do que j� � considerada a pior estiagem das das �ltimas quatro d�cadas, padre Djacy tem feito uma peregrina��o pelos locais mais atingidos pela falta de chuvas. Tudo � registrado em fotos postadas nas redes sociais. Animais mortos, a terra esturricada, a peleja para buscar �gua, a tristeza de quem est� perdendo o pouco que j� tem. As imagens feitas pelo padre s�o comoventes e j� rodaram o mundo.

Muitas ilustram v�deos no Youtube de lamento e den�ncia contra a seca, que parece nunca ter solu��o. Nada escapa do olhar do padre Djacy, defensor ferrenho da transposi��o do Rio S�o Francisco. A obra come�ou a ser feita no governo Lula, mas devido a problemas com empreiteiras, entraves no licenciamento ambiental e outras burocracias ela caminha a passos lentos. Por isso, a luta do momento do padre Djacy � conseguir uma audi�ncia com a presidente Dilma Rousseff. Para ele, se Dilma n�o se empenhar de verdade, "com o cora��o e o pulso firme", a transposi��o vai continuar no papel.

Enquanto espera quem sabe um dia se encontrar com a presidente, o padre tenta se aproximar de outras autoridades. No final do ano passado, conseguiu uma audi�ncia com o secret�rio nacional de Irriga��o do Minist�rio da Integra��o Nacional, Guilherme Orair, mas queria mesmo era se encontrar com o titular da pasta, Fernando Bezerra. Quem intermediou o encontro foi o ator Jos� de Abreu, militante nas redes sociais e rec�m-filiado ao PT. Abreu conheceu a hist�ria do padre por meio do Twitter e o ajudou a conseguir a audi�ncia, al�m de bancar do pr�prio bolso as passagens da Para�ba ao Distrito Federal. Por meio das redes sociais j� conseguiu tamb�m doa��es da Alemanha para as v�timas da seca, al�m de hospedagem e tratamento em S�o Paulo para um dos paroquianos dele.

"A cada dia que passa, a cada nova seca, a situa��o � mais calamitosa, mais cr�tica, mais ca�tica. E para este ano as perspectivas n�o s�o nada boas. Quase n�o choveu neste come�o de ano e a �gua que caiu n�o deu para encher os reservat�rios e a�udes. Nem os jumentos, animais resistentes, s�mbolos da vida no sert�o, est�o aguentando", disse. Segundo o religioso, o sert�o virou um "verdadeiro c�u aberto de animais mortos". Ele enfatiza: "Os abutres fazem festas. � a festa da carni�a".

Corrente Al�m da tentativa de conseguir uma audi�ncia com a presidente, padre Djacy encabe�a uma campanha para arrecadar donativos para as v�timas da seca. "Conseguimos no fim do ano umas tr�s toneladas de doa��es. Pode parecer muito, mas quando fomos distribuir acabou em 30 minutos." A entrega foi feita em Pedra Branca, onde fica a par�quia dele.

Na Para�ba, lideran�as pol�ticas lan�aram no in�cio do ano uma campanha batizada de SOS Seca. Padre Djacy era um dos convidados do evento, mas n�o conseguiu discursar. "Imagine lan�ar uma campanha contra a seca no hotel mais luxuoso da Para�ba, com uma festa que consumiu muitos recursos. Ficava s� pensando o que podia ser feito com o gasto daquela festan�a", critica ele, que n�o mede palavras para reclamar das a��es de combate � seca e do tratamento diferenciado que, segundo ele, � dado �s trag�dias naturais no Sul e no Nordeste.

"As enchentes no Rio foram destaque em todos os notici�rios e o governo se apressou em ajudar. O Nordeste enfrenta, h� cerca de um ano, uma estiagem violenta e n�o h� nenhuma como��o”, diz ele, um cr�tico tamb�m das medidas adotadas pelos governos da Para�ba e federal de socorro �s v�timas da seca. “At� agora nem sequer uma feira do governo federal e estadual chegou �s m�os das v�timas da seca”, reclama.

Candidatura a deputado


Na Para�ba, rolam boatos de que padre Djacy prepara sua candidatura a deputado em 2014. Ele nega com veem�ncia. "Os cr�ticos dizem que vou ser candidato, que estou apenas conquistando eleitores antes de disputar algum cargo. N�o h� nada disso. N�o sou filiado a partido, n�o tenho essa inten��o. Estou nessa luta desde 1994 e nunca me candidatei. � que com as redes sociais a minha voz passou a ser mais ouvida. E isso incomoda", acredita.

Padre Djacy tamb�m lan�ou no ano passado, antes do in�cio oficial da campanha, uma cartilha de orienta��o para o eleitor sertanejo. Nela, o sacerdote chama pol�ticos de urubus e carniceiros e alerta: "Vender voto leva para a cadeia e o inferno". A revolta do padre � contra a explora��o eleitoreira dos efeitos da seca. Nessa prega��o conta com um aliado de peso: o delegado da Pol�cia Federal que cuidou das investiga��es de crimes eleitorais na Para�ba, Derly Brasileiro, um de seus sete irm�os. "A ind�stria da seca que vai abastecer as elei��es de 2014 j� est� a todo o vapor, com a distribui��o de benesses para a popula��o, abandonada assim que as urnas s�o abertas", denuncia.

20 milh�es de atingidos
� assustador o relato do deputado federal Ruy Carneiro (PSDB-PB) sobre a seca do Nordeste, a “maior e mais devastadora seca dos �ltimos 40 anos, uma das mais inclementes de todas as 73 j� registradas na regi�o, desde 1559”. Segundo ele, no ano passado, pela primeira vez desde 1912 deixou de chover entre mar�o, abril, maio e junho. “No semi�rido dos estados do Piau�, Cear�, Rio Grande do Norte, Para�ba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e no Norte de Minas, 1.046 munic�pios est�o em estado de emerg�ncia, com mais de 20 milh�es de nordestinos atingidos pela seca”, destaca.

De acordo com o parlamentar, hoje o sertanejo tem que optar entre comer e beber �gua. Para matar a sede, as fam�lias t�m de desembolsar para uma “carrada de �gua” entre R$ 100 e R$ 150. “Mais do que o repasse mensal da bolsa estiagem enviada pelo governo.” Ele cita ainda perdas de cerca de 80% da produ��o agr�cola e redu��o pela metade do rebanho, pois nesta estiagem os agricultores n�o puderam nem contar com a palma forrageira, usada para alimentar o gado, pois sua planta��o foi quase toda destru�da pela praga da cochonilha do carmim. De acordo com ele, o Minist�rio da Integra��o estima preju�zos da ordem de R$ 16 bilh�es em todo o Nordeste por causa da estiagem.

Para piorar a situa��o, meteorologistas de 17 institui��es p�blicas de pesquisas, controle e gerenciamento de �guas, reunidos em Campina Grande (PB) em dezembro, afirmaram que as chuvas este ano ser�o irregulares e abaixo das m�dias hist�ricas e insuficientes para a recupera��o das reservas h�dricas. “Estamos entrando num ciclo muito pr�ximo do ciclo dos anos 50, marcado por grandes secas”, alerta.


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