No pior epis�dio de viol�ncia entre traficantes e policiais da Unidade de Pol�cia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho desde a ocupa��o da favela na zona norte do Rio pelas for�as de seguran�a, em outubro, um morador morreu e outros dois foram baleados num confronto na noite de quinta-feira. Dois policiais militares e uma menina de 10 anos ficaram levemente feridos. Moradores acusam os policiais de terem feito os disparos que atingiram as v�timas. A pol�cia nega. Cinco pistolas e tr�s fuzis que usados pelos PMs foram apreendidos para serem periciados. Foi a primeira vez em que houve tiroteio com bandidos na comunidade desde a ocupa��o. O Jacarezinho ganhou uma UPP em janeiro.
Em depoimento na 25.ª Delegacia de Pol�cia (Rocha), os PMs disseram que a confus�o come�ou ap�s eles abordarem um grupo de jovens em atitude suspeita na localidade conhecida como Pontilh�o, na Rua do Rio, por volta das 19 horas. Os suspeitos teriam reagido, iniciando um tumulto. Traficantes que estavam num beco come�aram a atirar na dire��o dos policiais, que reagiram.
Durante o tiroteio, Alielson Nogueira, de 21 anos, foi atingido por um tiro na nuca e morreu no Campo do Ab�bora. O local fica ao lado do cont�iner e na dire��o oposta de onde os criminosos atiraram. Ele n�o tinha antecedentes criminais, segundo a Pol�cia Civil. "Somos de S�o Jo�o da Barra (norte do Estado). Meu filho veio para o Rio h� cinco anos para trabalhar como catador, leva um tiro e � acusado de ser traficante? Meu filho estava com colegas de trabalho lanchando numa barraca de cachorro-quente. Essa UPP � para proteger ou matar o povo?", afirmou nesta sexta-feira o vendedor de verduras Ali�sio Barreto, pai de Alielson. O rapaz morava no Jacarezinho com a namorada de 20 anos, que est� gr�vida.
Ainda em meio ao tiroteio, Ivan Martins dos Santos Filho, de 23 anos, foi atingido por uma bala perdida nas costas. Luis Carlos Gomes, de 13, foi baleado na perna. Os dois foram hospitalizados. Ainda segundo os PMs, teve in�cio, ent�o, uma confus�o generalizada na Rua do Rio. Moradores arremessaram paus e pedras contra os policiais, que reagiram com spray de pimenta e armas n�o letais. O cont�iner que serve de base da UPP e tr�s viaturas foram danificados. Dois policiais foram feridos por pedradas. Uma menina de 10 anos foi atingida no rosto por estilha�os de uma bomba de efeito moral.
Enquanto isso, outro grupo de moradores tentou fechar o tr�nsito na Avenida Dom H�lder C�mara, uma das principais da regi�o, mas foi impedido por PMs do Batalh�o de Choque. O policiamento ficou refor�ado durante toda a madrugada. Pela manh�, o com�rcio abriu e moradores transitavam normalmente pelas ruas.
"Vamos ouvir os depoimentos dos feridos e aguardar os laudos da per�cia feita no local do crime e nas armas dos policiais para tentar descobrir de onde sa�ram os tiros que atingiram as v�timas", explicou o delegado Antenor Martins, da 25ª DP.
Confrontos
Confrontos com traficantes, como o que aconteceu no Jacarezinho, e mortes s�o comuns em outras favelas "pacificadas", como nos Complexos da Penha e do Alem�o e na Mangueira, na zona norte, e nos Morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro, na regi�o central. De acordo com o doutor em Sociologia e coordenador do Laborat�rio de An�lise da Viol�ncia da Universidade do Estado do Rio (Uerj), Ign�cio Cano, nessas comunidades, o processo de pacifica��o precisa de ajustes.
"Cada favela tem uma realidade diferente. H� comunidades onde a intera��o entre a UPP e a popula��o � boa e n�o h� qualquer registro de epis�dios de viol�ncia. Em outras, a rela��o � meio tensa, mas pac�fica. Mas h� favelas onde a situa��o � de confronto aberto. Nessas, a UPP est� longe do perfil de pol�cia comunit�ria: as coisas s�o impostas de fora para dentro, sem di�logo com os moradores. Isso depende do perfil do comandante da UPP. Para evitar esse problema, � necess�ria a institucionaliza��o de um f�rum de interlocu��o permanente com a sociedade nessas comunidades".
Mesmo com as dificuldades, Cano elogia as UPPs. "Mesmo nas favelas que ainda t�m casos de viol�ncia, o n�mero de homic�dios cai. O projeto gerou tal imagem positiva que virou ref�m do seu sucesso. Qualquer pequeno problema faz com que as pessoas se perguntem se o modelo est� em risco. � ilus�o achar que vamos zerar todos os crimes nestes locais."
Em nota, a Secretaria de Seguran�a P�blica do Estado afirmou que, em algumas comunidades, "o crime regulava as rela��es comerciais e sociais h� d�cadas". "Logo, apresentar o Estado de Direito e mudar a cultura da popula��o � um processo longo. Os benef�cios da pacifica��o compensam a m�dio e longo prazo todas as dificuldades do processo. O valor do direito de ir e vir, dos servi�os que passam a ser ofertados pelo Estado e concession�rias e, principalmente, do direito � vida n�o podem ser mensurados."