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Estado de Minas VAIDADE QUE MATA

Busca pelo corpo perfeito impulsiona mercado ilegal de anabolizantes

Anabolizantes, suplementos e vitaminas viram febre na busca pelo corpo perfeito e supera��o na atividade f�sica, mas podem levar � morte. Mercado clandestino cresce


postado em 14/04/2013 10:42 / atualizado em 14/04/2013 10:51

Janete com a foto do filho Gleison:
Janete com a foto do filho Gleison: "o hom�o grand�o" n�o resistiu �s inje��es de horm�nios e morreu com 29 anos (foto: Carlos Vieira/DBDAPress)
 

A cada not�cia de morte por anabolizantes, Janete Santos Marciel sacava o telefone para advertir o filho Gleison. E ele sempre garantia � m�e que n�o estava mais usando as ampolas que transformaram o menino magricela de 17 anos em um “hom�o grand�o” — que � como ela se recorda do segundo dos quatro filhos. Gleison Santos Marciel, de fato, havia parado de injetar horm�nios sint�ticos e vitaminas em forma de �leo. S� que tarde demais. As subst�ncias aplicadas fizeram crescer, al�m dos m�sculos, �rg�os vitais do corpo do rapaz. Um certo dia, depois de almo�ar na casa de Janete, na 114 Sul Gleison pediu para deitar um pouco. E n�o se levantou. Foi encontrado pela m�e j� desmaiado no quarto, depois de soltar um grito estridente. Quatro dias de interna��o se passaram, entre esperan�a e desespero, at� que a vaidade desmedida, aliada � falta de informa��o e de cuidado, tiraram a vida de Gleison, aos 29 anos, em 2007. “O cora��o, o ba�o, o f�gado, tudo cresceu dentro dele”, explica Janete. Era dif�cil, para ela, acreditar que nunca mais ouviria as palavras carinhosas do garoto que gostava de montar som em festas, estava animado com o emprego novo em um shopping da cidade e sonhava ter a pr�pria academia de muscula��o. O rapaz deixou uma filha e a certeza de que aquelas inje��es que ele se aplicava s�o mortais.

“Eu nunca mais fui a mesma pessoa. Eu era vaidosa, alegre. Agora virei isso aqui”, diz Janete. A dor da baiana de 56 anos � a mesma de tantas fam�lias destro�adas pelos efeitos de uma busca cada vez mais insana pelo “padr�o de beleza ideal”. Nunca foi t�o ferrenha a corrida por m�sculos desenhados e barrigas chapadas. Mesmo os que renegam a pecha de marombeiros t�m se curvado a subst�ncias nem sempre permitidas ou usadas com seguran�a, sob o argumento de ganhar o g�s necess�rio para terminar uma prova de rua ou acompanhar a turma do pedal na trilha de final de semana. Seja qual for a justificativa, o fato � que o com�rcio clandestino de anabolizantes, suplementos alimentares e vitaminas explodiu no Brasil. O tema ser� tratado em uma s�rie de reportagens que o Estado de Minas publica a partir de hoje.

Dados da Pol�cia Federal mostram que de 2010 a 2012 aumentou em 125% a apreens�o de medicamentos contrabandeados, entre os quais est�o os anabolizantes, muitos com venda proibida no pa�s ou falsificados. Chefe da Delegacia Fazend�ria da Pol�cia Federal, Hugo Correia chama aten��o para o fato de a maioria das 739 mil unidades de produtos confiscadas pela PF no ano passado ter rela��o com a vaidade masculina. “� interessante porque sempre se diz que a mulher � mais ligada � beleza, mas, entre os itens apreendidos est�o, em maior quantidade, os anabolizantes, os suplementos alimentares e os rem�dios para disfun��o er�til”, conta o delegado.

A popularidade dos produtos que prometem melhorar a performance f�sica � tanta que j� se fala no meio m�dico em vigorexia, um dist�rbio psiqui�trico que causa distor��o da pr�pria imagem diante do espelho, levando � pr�tica exagerada de exerc�cios f�sicos em busca do corpo perfeito. “Nessa corrida desvairada, muitos se esquecem de que � preciso ter a qualidade gen�tica para chegar ao shape (corpo) propagado como padr�o de beleza. As pessoas n�o entendem e pagam um pre�o muito alto por usar subst�ncias perigosas e sem qualquer orienta��o. At� vitamina em excesso pode trazer problemas graves”, alerta Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exerc�cio e do Esporte.

Tudo pelo futebol Atra�do pela aparente inofensividade de um produto que prometia apenas complementar a nutri��o, Wilson Sampaio J�nior abreviou uma carreira promissora no disputado mercado do futebol. Rec�m-contratado pelo pernambucano Santa Cruz, o rapaz de 18 anos sonhava chegar � elite do esporte. Em maio de 2011, ele come�ou a tomar um suplemento oferecido pelo estagi�rio de uma conceituada academia do Recife. O vendedor assegurou que as c�psulas milagrosas eram naturais e que dariam muito mais pique para Wilson durante os treinos.

Com os conselhos ouvidos nos corredores da academia, o jovem jogador de futebol come�ou a tomar o suplemento Jack3D, cuja subst�ncia principal � a dimetilamilamina (DMAA). Wilsinho, como era conhecido, consumiu o produto por menos de um m�s. “Ele estava se sentindo bem, levantando peso. Meu filho era muito saud�vel, n�o se queixou de nenhum mal-estar”, relembra a funcion�ria p�blica Marcelle Rhiva Sampaio, 43 anos. Em maio de 2011, ela encontrou o filho morto no banheiro. “O Wilsinho havia feito um exame de cora��o em janeiro e tudo estava perfeito. Meu filho tinha acabado de fazer 18 anos e, quando contamos que ele estava tomando um suplemento para jogar futebol, um m�dico nos aconselhou a fazer o exame no IML”, comenta Marcelle.

“Mas como � uma subst�ncia nova, os t�cnicos do instituto n�o est�o acostumados a analis�-la e nem t�m equipamentos para identific�-la. Por isso, n�o ficou reconhecido que o Jack3D levou meu filho � morte, apesar de sabermos que foi isso o que aconteceu”, acrescenta a m�e. Pouco depois da morte do jovem pernambucano, a Anvisa proibiu a venda do Jack3D no Brasil e vetou o com�rcio de qualquer suplemento com a subst�ncia DMAA. “Apesar da proibi��o, eu continuo a encontrar o produto na prateleira de lojas. Quando acho algum, fa�o sempre a den�ncia”, se queixa Marcelle. (Colaborou Etore Medeiros)


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