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Estado de Minas

No Rio de Janeiro, a luta contra o racismo passa pelo sal�o de beleza


postado em 23/05/2013 14:46 / atualizado em 23/05/2013 15:16

Salão de beleza voltado para clientes negros no Rio de Janeiro(foto: AFP PHOTO/CHRISTOPHE SIMON )
Sal�o de beleza voltado para clientes negros no Rio de Janeiro (foto: AFP PHOTO/CHRISTOPHE SIMON )

Nada como um bom penteado para combater o racismo arraigado na sociedade brasileira, usando como armas principais tesouras e hidratantes para os cabelos.


Na periferia do Rio de Janeiro, uma rede de sal�es de beleza que se dedica exclusivamente a cortes de cabelo no estilo afro faz um grande sucesso.


Qual � a f�rmula do �xito desta empresa que transforma o "afro" em cachos suaves, e que nega categoricamente a cren�a popular de que o cabelo crespo � ruim? O crescimento econ�mico do Brasil, que na �ltima d�cada permitiu que 40 milh�es de brasileiros integrassem a classe m�dia por meio de programas sociais do governo.


Dos 194 milh�es de brasileiros, 50,7% s�o negros ou mulatos, e os donos do Beleza Natural, esta peculiar rede de sal�es de beleza, estimam que 70% das mulheres brasileiras t�m cabelo crespo.


"Voc� � linda porque � negra"

"Este sal�o � para a consumidora esquecida, invis�vel, para levantar a autoestima da cliente de baixa renda. Uma mulher acostumada a servir, que merece ser servida, e bem servida", explica � AFP a presidente da empresa, Leila Velez, uma mulata de 38 anos que aos 16 era gerente de um McDonald's no Rio.


Velez criou com dificuldades o Beleza Natural h� 20 anos junto com familiares. Hoje dirige as 13 filiais da empresa e uma f�brica de produtos para os cabelos, que conta com 1.700 funcion�rios.


A f�brica produz 250 toneladas de produtos de uso capilar por m�s, incluindo o "super relaxante" de cachos criado por sua cunhada Zica Assis, uma ex-empregada dom�stica que fez experimentos durante dez anos com frutas, como o a�a�, at� chegar � f�rmula do produto na varanda de sua casa, em uma favela.


Os lucros da rede, que tem sal�es localizados da periferia a �reas nobres da cidade, cresceram 30% anualmente nos �ltimos oito anos, segundo Velez, que n�o revela os resultados da empresa.


Seu sucesso � tamanho que caravanas com centenas de mulheres vindas de outros estados chegam a cada fim de semana para que as viajantes sejam atendidas nos sal�es.


"Acredito que 100% de seu sucesso esteja ligado � quest�o da ra�a. Existem no Brasil, devido a uma carga cultural, muitas mulheres negras que n�o aceitam seu cabelo porque n�o � liso, que � o ideal de beleza mais conhecido", explicou � AFP Victor Cunha da Almeida, professor da escola de neg�cios da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coautor de uma tese sobre o "Beleza" e sua aposta na "base da pir�mide" social, a classe C, que chega a 54% da popula��o.


"A� est� a diferen�a do Beleza Natural, que n�o quer alisar o seu cabelo, quer dom�-lo, suavizar os cachos. Diz a mulher: 'voc� � linda porque � negra, � linda porque tem os cabelos assim'".


Bruna Mara, uma cliente, confirma. "Sempre usava o cabelo liso; aqui me convenceram de que meus cachos poderiam ficar bonitos, e � mais natural", confessa esta secretaria de 24 anos.


Princesas

"N�o havia locais onde uma mulher negra com cabelo crespo fosse tratada como princesa", ressalta o professor Cunha.


Quando algu�m entra no mundo do Beleza Natural, decorado em vermelho e rosa, cheio de espelhos e focos luminosos, com flores frescas e caf�, sente-se em qualquer bairro rico do mundo, ou em um cen�rio de novela.


"Temos espelhos de corpo inteiro, porque muitas clientes n�o t�m isso em suas casas", explica Velez.


Jos� Jorge de Carvalho, antrop�logo especialista em quest�es raciais da Universidade de Bras�lia, ressalta que, apesar de ser visto no exterior como um exemplo de diversidade, o Brasil "� um pa�s muito racista".


"Estes sal�es de beleza fazem parte de um esfor�o de combate ao racismo, para melhorar a auto-estima das mulheres negras de classes popular", afirma Carvalho, que lamenta o elevado uso no Brasil de pranchas para alisar o cabelo, algumas delas esquentadas diretamente no fogo e que "fritam o cabelo".


Uma nova classe m�dia

Atualmente, a rede de sal�es atende 90.000 mulheres por m�s.


"Esta � a nova classe m�dia, produzindo para a nova classe m�dia", comemora Marcelo Neri, ministro interino de Assuntos Estrat�gicos, em declara��es � AFP.


As rendas das popula��es negra e parda brasileira foram as que mais cresceram entre 2001 e 2009, 43% e 48% respectivamente, contra 21% para os brancos, segundo Neri, especialista na classe m�dia brasileira.


No entanto, as desigualdades ainda s�o enormes: 125 anos depois da aboli��o da escravatura, os brancos no Brasil recebem em m�dia quase o dobro do que os negros.


Ser atendido no "Beleza" � acess�vel, mas n�o barato. Custa em m�dia 80 reais (10% do sal�rio m�nimo), e para mant�-lo em casa s�o necess�rios produtos que custam 50 reais mensais.


Apesar disso, a maioria paga em dinheiro, outro sinal do aumento real de poder aquisitivo da nova classe m�dia brasileira.


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