O papa Francisco, primeiro l�der latino-americano da hist�ria da Igreja, est� prestes a visitar o maior Pa�s cat�lico do mundo. Se fosse rodar al�m do Rio e de Aparecida, o pont�fice certamente conheceria um pa�s de desigualdades - incluindo a� o acesso dos fi�is aos padres. Dados oficiais da Igreja mostram que a regi�o mais cat�lica do Brasil, o Nordeste, com 72,2% da popula��o professando essa religi�o, � a que menos tem padres em rela��o ao tamanho da sua popula��o.
Os n�meros s�o da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e foram compilados pela reportagem. E revelam um Brasil dividido: enquanto no Paran� h� um padre respons�vel por 5,9 mil habitantes, essa m�dia chega a ser mais de duas vezes maior no Maranh�o: 13,7 mil pessoas por sacerdote. O Estado nordestino, vale lembrar, tem propor��o de cat�licos bem acima da m�dia nacional - 74% ante 64%.
L�, a regi�o com mais falta de padres � o entorno da cidade de Caxias, na fronteira com o Piau�. S�o quase 700 mil habitantes, mas s� 30 padres para atend�-los - ou seja, uma m�dia de 21,9 mil habitantes para cada religioso. O problema se agrava na zona rural, onde h� povoados cuja igreja s� recebe missa uma ou duas vezes por ano.
Esse � o caso de Estiva, um lugarejo com cerca de 30 casas erguido � beira da BR-316, a 52 km de Teresina. Os moradores dali s� veem um padre duas vezes por ano - no festejo de Nossa Senhora de F�tima e na missa anual, que neste ano foi rezada em maio. "Os moradores t�m de ir para outro povoado para batizar seus filhos", afirmou a professora Concei��o Brito, que leciona no local. "Agora est� mais f�cil. Antigamente, j� teve �poca que, se chovesse, s� haveria casamento ou batizado um ano depois", contou Jos� Ribamar Silva, morador da regi�o.
Equil�brio
Ao analisar os dados, � poss�vel distinguir dois perfis de regi�es onde h� poucos padres por habitantes. Al�m de cidades do interior do Nordeste e seu entorno, como Caxias (MA) e Salgueiro (PE), h� munic�pios com maior concentra��o de evang�licos, normalmente na periferia das grandes capitais. Guarulhos (SP), Nova Igua�u (RJ) e Duque de Caxias (RJ) est�o nesse grupo. A regi�o com maior propor��o de habitantes por padre no Brasil � justamente Guarulhos, onde h� um padre para cada 24,4 mil habitantes.
"Uma das explica��es para haver mais padres no Sul e Sudeste do Brasil � que s�o os locais com a maior parte da organiza��o eclesi�stica. Mas existe uma preocupa��o da CNBB no sentido de trabalhar para uma melhor distribui��o dos padres pelo territ�rio", explicou o padre Antonio Manzatto, professor de Teologia da Pontif�cia Universidade Cat�lica de S�o Paulo (PUC-SP).
Apesar dessa disparidade, os n�meros mostram que nunca houve tantos padres quanto agora no Brasil. Em 1970, eram 13 mil sacerdotes, n�mero que pulou para 22 mil em 2010. O per�odo de maior crescimento foi justamente de 2000 para c�.
"De fato n�s hoje temos um n�mero de padres como nunca tivemos, sobretudo de brasileiros. At� os anos 1980, metade do clero do Brasil era de estrangeiro, eram padres mission�rios", afirmou ao Estado o cardeal arcebispo de S�o Paulo, d. Odilo Scherer. Para ele, esse n�mero tende a continuar crescendo nos pr�ximos anos. "A Igreja precisa continuar a fazer o que sempre fez a Pastoral das Voca��es: zelar para formar bem os jovens, os cat�licos, as fam�lias, para que possam despertar voca��es." (colaborou Ernesto Batista, especial para O Estado).