O filme poderia se chamar "Como ser um turista duro no Rio de Janeiro". Os peregrinos que chegaram � capital fluminense para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) fazem malabarismo e muita conta para se manter durante a semana do evento. Enquanto taxistas e donos de restaurantes da zona sul se queixam de que a "vida" n�o foi alterada pela visita do papa Francisco, gerentes de supermercados, quitandeiros e lojistas de bugigangas comemoram a chegada dos novos clientes.
Como outros jovens do interior do Pa�s, o eletricista Fernando Mazzini, 27 anos, de Piracicaba (SP), ganhou um cart�o-refei��o dos organizadores do evento com limite de 30 reais por dia. Mazzini e quatro amigos foram alojados na casa de uma professora em Realengo (zona oeste). � no bairro do sub�rbio que ele prefere se alimentar, sempre em grupo. Na noite deste domingo, 21, uma rodada de pizza e refrigerantes para dez pessoas custou cem reais. "A pizza em Realengo est� mais barata do que na minha cidade", diz.
A cabeleireira Amanda Alves, 25 anos, e a assistente administrativa Fernanda Ara�jo, de 24, tamb�m de Piracicaba, decidiram comprar alimentos em supermercados. Nesta segunda-feira, fizeram uma "extravag�ncia" econ�mica. Entraram numa pequena loja de roupas da Avenida Nossa Senhora de Copacabana e compraram shorts de praia por 25 reais. "Vamos entrar na �gua sem problema", disse Fernanda, que trouxe 500 reais do pr�prio bolso.
Na hora do almo�o na Urca, Ipanema ou Flamengo, cart�es-postais da capital, os peregrinos passam sem parar pelos restaurantes de mesas vazias e far�o as refei��es nas cal�adas. O desempregado Vanderson Lafaiete, de 20 anos, de S�o Paulo, faz um esfor�o para n�o passar o limite do cart�o. Lafaiete desfrutado a promo��o de uma lanchonete que d� desconto de 100% no segundo hamb�rguer. Pela manh�, toma caf� na par�quia da �rea onde est� hospedado, em Realengo. Ele contou com a ajuda dos pais para custear a viagem de �nibus para a cidade.
O professor mo�ambicano Crispin Estev�o, 24 anos, de Maputo, hospedado no Morro do Pav�o-Pav�ozinho (zona sul), pediu dinheiro emprestado ao chefe para pagar a viagem. A sorte � que Estev�o trabalha para a pr�pria par�quia. Um padre adiantou-lhe 50 mil meticales (US$ 1.700). Quando voltar � capital de Mo�ambique, trabalhar� durante um ano sem receber sal�rio. "O dinheiro vai me fazer falta, claro. Mas j� est� valendo a pena estar aqui", afirma, sorridente. "Meu pa�s � pobre. Parece imposs�vel uma pessoa pegar 50 mil para vir para a Jornada. Quis mostrar que � poss�vel. � muito emocionante. O Brasil � o pa�s de cores e alegria que eu imaginava, pela TV e pelo futebol. Em todas as novelas, eu via o Cristo-Rei."
O mec�nico Joseph Pickett, 32 anos, de Brisbane, na Austr�lia, diz que s� disp�e de 300 d�lares para gastar na semana que ficar� no munic�pio. Pickett e amigos compram todas as manh�s garraf�es de �gua num supermercado da Rua Gustavo Sampaio, em Copacabana, para abastecer pequenos recipientes que levam nas mochilas. � no estabelecimento que se abastecem tamb�m de enlatados. No bairro, um prato executivo n�o sai por menos de 20 reais.
O estudante espanhol Guillem Falgueras, 17 anos, de Barcelona, � h�spede na casa de uma fam�lia na Barra da Tijuca (zona oeste). Nos primeiros dias no Rio, Guillem avaliou que os pre�os cobrados no com�rcio est�o "razo�veis". "N�o posso falar muito porque minha �nica refer�ncia � a Espanha, que passa por uma crise financeira e social. L�, a gente tamb�m enfrenta dificuldades para viver."