Gustavo Werneck
Papa Francisco replantou no pa�s as sementes da alegria, irrigou no cora��o do povo a �rvore da solidariedade e agora leva consigo frutos da f� brasileira. Entre a chegada, na segunda-feira, e a partida ontem, para Roma, fica na mem�ria uma viagem hist�rica, plena de carisma, corpo a corpo com pessoas de todas as idades e palavras fortes contra a corrup��o. Se o legado � dos melhores, qual seria, ent�o, a impress�o de Francisco sobre os peregrinos que o acolheram, sobre a prec�ria infraestrutura encontrada no Rio de Janeiro (RJ) e a como��o popular dominante na ruas? “O aparato, como o tr�nsito, quebra de protocolos e de rituais durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) � o que menos importa. Afinal, o papa, argentino, est� acostumado com a Am�rica Latina”, diz o professor da Faculdade Jesu�ta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, padre Jo�o Batista Lib�nio.
Autor de mais de 40 livros, o jesu�ta Lib�nio est� certo de que o entusiasmo da juventude falou mais alto no cora��o do Santo Padre: “Ele vai levar tamb�m a imagem de que os pol�ticos n�o pensam no futuro do pa�s, s�o ego�stas. Com as recentes manifesta��es nas ruas, descartando-se, claro, atos de vandalismo, o papa Francisco viu uma gera��o nova que avan�a e tem for�a para mudar os destinos do Brasil”, avalia. “Pelos discursos proferidos em v�rias ocasi�es, de um campo de futebol na Favela da Varginha � varanda do Pal�cio Guanabara, o papa mostrou que a Igreja deixar� de ser autorreferente e menos eclesi�stica, para ser de humanidade. � importante destacar que � ‘de’ humanidade, baseada nos valores que constituem o ser humano, e n�o simplesmente ‘da’ humanidade”, completa.
Na avalia��o do padre jesu�ta, o l�der dos cat�licos percebeu que a juventude � v�tima da cultura atual, dos atropelos da economia, da inseguran�a e do risco de n�o ter emprego no futuro. “Nesse aspecto est� a necessidade de solidariedade, de n�o se ter uma vis�o negativa do mundo. As manifesta��es nas ruas do pa�s tiveram o car�ter de reivindica��o por educa��o, sa�de etc. O papa d� apoio e incentiva a participa��o dos jovens – isso � o novo”, diz Lib�nio.
As condi��es clim�ticas adversas e os problemas na organiza��o e log�stica do megaevento cat�lico, criticadas at� pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, n�o devem ficar na cabe�a do pont�fice, acredita o vice-chanceler da Arquidiocese de Belo Horizonte, padre Nivaldo Magela de Almeida Rodrigues. “Antes de tudo, a JMJ � uma jornada de f� e a maior recorda��o ser� a de um povo fervoroso. O papa conhece bem os problemas do Brasil, presidiu em 2007 o comit� de reda��o do documento final da 5ª Confer�ncia Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (Celam) em Aparecida (SP). “Trata-se de um homem sens�vel, de grande cora��o, atento �s quest�es da Igreja em toda a Am�rica Latina. Todo mundo viu sua preocupa��o com os que sofrem, os enfermos, as pessoas em trajet�ria de risco social, como os detentos e drogados”, diz o vice-chanceler.
COMO��O O jornalista mineiro J. D. Vital vem acompanhando pela tev� a trajet�ria de Francisco no Rio e se diz encantado com o que v�. “O Brasil se rendeu ao papa, ele se tornou unanimidade, causou uma aproxima��o. Vai levar para Roma o melhor da alma brasileira”, diz Vital. Como��o nacional � o termo mais correto para mostrar o sentimento das pessoas, acredita o autor do livro Como se faz um bispo e estudioso de temas ligados � Igreja e Vaticano. “O papa veio num momento muito significativo para a Igreja, quando o n�mero de cat�licos vem caindo. Mas isso � s� estat�stica, importante mesmo � a for�a do povo nas ruas, n�o sabemos se praticantes ou n�o”, revela.
Atuante durante a semana passada na Cidade da F�, no Riocentro, em evento da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o frei Fl�vio Henrique, de Juiz de Fora, na Zona da Mata, destaca o “cora��o afetuoso do papa. “Ele n�o se preocupou com o tumulto nas ruas, pois recebeu boa acolhida. O fundamental � o seu comprometimento com a causa social e pol�tica. Ele pediu para as pessoas n�o desanimarem nem desistirem de lutar contra a corrup��o. � uma pessoa l�cida e vai levar, como melhor lembran�a, a boa vontade do povo brasileiro”, observa o religioso, da comunidade da Obra Pequenos Monges do Pater Noster.
VOLTA PARA CASA
O QUE FRANCISCO P�DE VER E SABER DO BRASIL
1) Os pol�ticos n�o pensam no futuro e s�o ego�stas
2) Os jovens t�m for�a para mudar o Brasil
3) O povo nas ruas reivindica melhorais na sa�de, educa��o e outros setores
4) O brasileiro � um povo fervoroso
5) A passagem do pont�fice por Aparecida (SP) e Rio de Janeiro (RJ) provocou como��o nacional
6) A sua presen�a foi unanimidade, com elogios at� da ala esquerdista da Igreja
7) Boa vontade do povo brasileiro
8) O melhor da alma brasileira
9) Boa acolhida, apesar dos problemas no tr�nsito e mudan�a, de �ltima hora, de locais das cerim�nias
10) Participa��o em uma verdadeira jornada de f�
Elogios do Vaticano
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, elogiou a organiza��o da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) pelo sucesso da transfer�ncia da infraestrutura da vig�lia e da missa de ontem de Guaratiba para Copacabana. "Penso que tudo funcionou verdadeiramente muito bem", disse em coletiva para encerramento do evento, citando como exemplo as tendas para distribui��o de 800 mil h�stias. Lombardi disse tamb�m que o papa ficou muito satisfeito com o an�ncio do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de transformar o que seria o Campus Fidei, em Guaratiba, em um bairro popular. "� bom projeto, que o papa apreciou muito", disse. Ele comentou, ainda, a decis�o de s� realizar a pr�xima JMJ, em Crac�via, daqui a tr�s anos, dadas as dificuldades de prepara��o de um evento de grande propor��es como esse. "S� no Brasil se pode fazer em dois anos", brincou.