O primeiro r�u interrogado na segunda etapa do julgamento do Massacre do Carandiru, ex-capit�o Valter Alves Mendon�a, prestou esclarecimentos hoje em plen�rio sobre sua atua��o durante a rebeli�o do Pavilh�o Nove da Casa de Deten��o. Ele disse que ao, entrar no segundo andar (terceiro pavimento), viu clar�es de disparos de armas de fogo vindos dos presos, ouviu estampidos e sentiu o impacto de tiros no escudo que carregava. Valter informou ainda que, ap�s o confronto, chegou a recolher duas armas que pertenceriam aos presos. Nenhum disparo, segundo ele, teria sido efetuado de fora para dentro das celas. Durante o julgamento, que come�ou ao meio-dia no F�rum Criminal da Barra Funda, Valter disse que era capit�o da 3� Companhia do 1� Batalh�o de Choque das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota). Ele integrava o turno vespertino, que inciava os trabalho �s 15h e encerrava �s 23h, tendo como responsabilidade cuidar das ocorr�ncias de maior destaque. Ele contou que, naquele 2 de outubro de 1992, foi informado sobre um princ�pio de rebeli�o no Carandiru, mas orientou sua tropa, que fazia patrulhamento na zona norte da cidade, para que n�o se aproximasse do pres�dio e aguardasse ordens. Valter disse que por volta das 15h daquele dia, foi acionado pelo comandante da opera��o na Casa de Deten��o para que desse apoio para conter a rebeli�o. O ex-capit�o e sua tropa chegaram no pres�dio �s 16h. L�, Valter disse ter percebido o nervosismo do ent�o diretor do Carandiru, Jos� Ismael Pedrosa. %u201CEle andava de um lado para o outro, eu percebi que ele [Pedrosa] queria interven��o. Disse que o Pavilh�o Nove estava incontrol�vel%u201D. Segundo Valter, a maior preocupa��o do ex-diretor era que a rebeli�o chegasse ao Pavilh�o Oito, onde estariam os presos mais perigosos, e tamb�m que houvesse fuga em massa. Nesse momento, o coronel Ubiratan Guimar�es recebeu, por telefone, autoriza��o do secret�rio de Seguran�a P�blica, Pedro Franco de Campos, para ingressar no pres�dio. Segundo Valter, o chefe de seguran�a Moacir dos Santos j� tinha conversado com os presos e teria dito que o di�logo seria imposs�vel. Assim, os policiais definiram a estrat�gia de entrada das tropas. � frente, estava o 2� Batalh�o de Choque com escudeiros e o efetivo da Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam), com cerca de 130 homens. Atr�s, seguiram as tropas do 3o Batalh�o, tamb�m com escudeiros. De acordo com Valter, a Rota ficou por �ltimo, com 14 equipes. O ex-capit�o declarou que comandou a metade do efetivo, com 7 equipes. Segundo ele, a Rota ingressou no segundo andar (terceiro pavimento). Valter relatou que, assim que entrou no pres�dio, num espa�o de 40 metros entre o port�o e o p�tio de acesso, havia outra barricada em chamas sendo apagada pelos bombeiros. A fuma�a preta, contou ele, entrou pelos corredores e fez com que a visibilidade ficasse reduzida. Nesse momento, ele disse que encontrou quatro corpos, um deles sem cabe�a. Ao ser questionado pela promotoria sobre o porqu� de ter contado apenas hoje da exist�ncia de um preso sem cabe�a, Valter disse que %u201Ctalvez, naquela �poca, n�o tenha achado relevante contar%u201D. Portando uma submetralhadora 9 mil�metros e um escudo (sem nenhum equipamento de prote��o individual), Valter disse ter ingressado com sua equipe de 30 homens em um corredor de 5 metros de largura e 40 metros de comprimento. Esse teria sido o �nico lugar onde o ex-capit�o e sua tropa teriam atuado. %u201CPassamos por muita �gua e chegamos no primeiro andar. Eu subi para o outro lance de escada, tinha mais obst�culos e ingressamos no segundo andar. Ao dar os primeiros passos, a 7 metros, eu vi clar�es e estampidos no meu escudo. Neste momento, efetuei disparos. O sargento Cavalcante tomou um tiro e caiu gritando de dor. Eu recolhi duas armas e tentei prosseguir%u201D, disse Valter. O ex-capit�o disse que entrou em dois confrontos com os presos e chegou a ser ferido. Levei pauladas e estiletadas. A paulada foi na perna e fui cortado por estiletes no bra�o%u201D. Contra sua equipe, nos dois confrontos, ele diz que foram disparados oito tiros. Valter declarou que n�o viu disparos do corredor, feitas por policiais, para dentro das celas. %u201CFiquei l� [no corredor] por 15 minutos, no m�ximo%u201D, disse ele. Ap�s o ocorrido, Valter disse que levou presos e policiais feridos em sua viatura ao Pronto-Socorro de Santana. %u201CEu fui medicado e liberado, retornei para o pres�dio, mas n�o pude mais entrar%u201D. O ex-capit�o disse, al�m disso, que recolheu de 10 a 12 presos mortos. Quanto aos policiais, Valter disse que viu dois sargentos, dois soldados e um major serem feridos no confronto. Valter informou ainda que duas armas de presos foram apreendidas por ele. Toda a a��o para reprimir a rebeli�o em 1992 resultou em 111 detentos mortos e 87 feridos, ficando conhecida como o maior massacre do sistema penitenci�rio brasileiro. Nesta etapa, est�o sendo julgados 25 policiais militares acusados. At� segunda-feira (29), falava-se em 26 r�us, mas o Tribunal de Justi�a (TJ-SP) confirmou ontem (30) que um deles j� morreu. At� agora, a segunda fase do julgamento j� ouviu testemunhas como o ex-governador de S�o Paulo Luiz Antonio Fleury Filho, o ex-secret�rio de Seguran�a P�blica Pedro Franco de Campos e o perito Osvaldo Negrini Neto. Se o cronograma for mantido, amanh� (1), o julgamento continua com a leitura de pe�as e exibi��o de v�deos. Para sexta-feira (2), est� programado o in�cio da fase de debate entre acusa��o e defesa. A decis�o dos jurados deve sair na madrugada de sexta-feira para s�bado (3).
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Ex-capit�o da PM diz que presos do Carandiru entraram em confronto e efetuaram disparos
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