O jovem A. tem 24 anos e mora em um pa�s mu�ulmano. O fato de vir de fam�lia cat�lica faz de sua casa alvo de constantes amea�as. O sonho do av� era, um dia, ver um papa pessoalmente. A. o realizou ao vir ao Rio para a Jornada Mundial da Juventude, h� um m�s. Assim como outros 40 peregrinos de pa�ses onde existem a persegui��o religiosa e os conflitos armados, o rapaz, jurado de morte s� por participar do evento, n�o quer ir embora: est� pedindo ref�gio ao governo brasileiro.
Os peregrinos s�o jovens na casa de 20 anos, egressos de tr�s pa�ses: Paquist�o, Serra Leoa e Rep�blica Democr�tica do Congo. Os congoleses fogem da viol�ncia em seu pa�s e se abrigaram com conterr�neos j� radicados no Rio. Os demais est�o espalhados em par�quias. Alguns trazem marcas de tortura no corpo; hist�rico de mortes de familiares e de humilha��es s�o comuns.
Para acelerar a adapta��o ao novo pa�s, eles t�m aulas de portugu�s duas vezes por semana, duas horas por dia. A comunica��o � toda em ingl�s. Os jovens se mant�m e se alimentam com a ajuda da Igreja, de fi�is e de volunt�rios. O contato com a fam�lia, raro, � por telefone e internet. Ao Estado, pediram para n�o terem o nome nem a nacionalidade publicados, por temerem pela seguran�a dos que ficaram para tr�s.
“Aqui as pessoas s�o muito felizes, cada um tem sua religi�o. � o para�so. Na minha comunidade, se voc� � crist�o, e n�o mu�ulmano, n�o te d�o nem um copo d’�gua. Sou coagido o tempo todo a virar mu�ulmano, mas podem cortar a minha cabe�a que eu n�o viro, pois tenho muito orgulho da minha f�”, disse outro rapaz, de olhar perdido.
“Mataram meu pai e minha irm� quando ela tinha 7 anos. Minha m�e teve de fugir da nossa cidade. Sofro muita press�o psicol�gica, o que pode ser pior do que tortura f�sica”, relatou outro, para quem a vida de refugiado, ainda que melanc�lica, se prenuncia melhor do que a de medo que tinha antes.
Processo
Assim que a Jornada Mundial da Juventude acabou, no dia 28 de julho, os jovens pediram ajuda a religiosos com quem mantiveram contato. J� marcaram entrevistas na Pol�cia Federal, para dar in�cio ao processo por que passam todos os candidatos a refugiados. Os casos ser�o analisados pelo Comit� Nacional para Refugiados (Conare), presidido pelo Minist�rio da Justi�a. A C�ritas de S�o Paulo tem outros cinco casos. Se forem aprovados, os estrangeiros ter�o os vistos trocados.
Segundo Andres Ramirez, representante no Brasil do Alto Comissariado da Organiza��o das Na��es Unidas para Refugiados (Acnur), s�o situa��es-limite, que se enquadram na Lei 9.474, que disp�e sobre o tema e estabelece que “ser� reconhecido como refugiado todo indiv�duo que por fundados temores de persegui��o por motivos de ra�a, religi�o, nacionalidade, grupo social ou opini�es pol�ticas encontre-se fora de seu pa�s de nacionalidade e n�o possa ou n�o queira acolher-se � prote��o de tal pa�s”.