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Estado de Minas

Primeiro hotel '6 estrelas' do pa�s est� abandonado

Planejado para ser o primeiro 6 estrelas do Pa�s, o Warapuru Resort est� abandonado h� cinco anos


postado em 20/10/2013 08:43 / atualizado em 20/10/2013 11:39

Incrustado no alto de um morro em Itacar�, entre coqueirais e esp�cies nativas da Mata Atl�ntica, o luxuoso Warapuru Resort foi tomado por uma fauna peculiar. Pela grandiosa recep��o, voam passarinhos. Entre as paredes revestidas de m�rmore, do ch�o ao teto, com vista para a Praia da Engenhoca, vivem pequenos roedores, escondidos em um emaranhado de fios e materiais de constru��o. De frente para o mar, o maquin�rio enferrujado parece a postos - como se os oper�rios tivessem sa�do apressados, mas com clara inten��o de retornar.

Os 40 bangal�s, “escondidos” entre a mata nativa para garantir m�xima privacidade aos h�spedes, est�o lotados de teias de aranha e folhas mortas apodrecendo nos espelhos d’�gua. Perdidas no meio da floresta, essas grandes constru��es de ard�sia, madeira e vidro, em diferentes est�gios de finaliza��o, s�o hoje cen�rio de beleza e desola��o.

Planejado para ser o primeiro 6 estrelas do Pa�s, o Warapuru Resort est� abandonado h� cinco anos. Estima-se que mais de R$ 180 milh�es foram gastos nas instala��es: recep��o, beach club, 40 bangal�s, al�m de 17 casas particulares e uma cinematogr�fica estrada sobre a copa das �rvores. Todo esse patrim�nio se deteriora, inacabado, enquanto aguarda o desfecho de uma intrincada trama envolvendo falta de dinheiro, problemas judiciais, fal�ncia da incorporadora e desentendimento entre credores.

O portugu�s Jo�o Vaz Guedes, cuja fam�lia fundou a construtora Somague, respons�vel por obras de infraestrutura em Portugal, idealizou o Warapuru. Descrito como “vision�rio” e “megaloman�aco”, Vaz Guedes encomendou o projeto ao escrit�rio londrino de arquitetura e design Anouska Hempel - respons�vel por hot�is boutique em Londres e Amsterd�.

“Quando me pediu para assumir esse projeto, Jo�o me levou at� o local e disse: Fique a� por um momento, Anouska, e me diga o que fazer”, contou Anouska Hempel em entrevista ao Estado, de Londres. De sua inspira��o, nasceu uma “cidadela” de m�rmore no meio da floresta, “influenciada pelas culturas maia e eg�pcia”. “� um trabalho de grandeza minimalista em um lugar, muito, muito poderoso”, entusiasma-se.

No Brasil, o escrit�rio de arquitetura Bernardes+Jacobsen, foi contratado em 2003 junto com o escrit�rio da arquiteta Cassia Cavani, que cuidou do desenvolvimento. Segundo Cassia, tudo - da disposi��o dos bangal�s e casas �s estradas - foi pensado para interferir o m�nimo poss�vel na vegeta��o local.

Ela lembra de ter tido diverg�ncias t�cnicas com o escrit�rio londrino e discuss�es acaloradas com Vaz Guedes. Ainda assim, espera ver o hotel pronto. “Apesar dos problemas que tivemos, � um trabalho especial. Se algu�m, algum dia precisar da minha colabora��o serei a primeira a ajudar.”

Um dos pontos mais criticados por pessoas pr�ximas a Vaz Guedes, que n�o quiseram se identificar, � justamente a contrata��o do escrit�rio de Anouska Hempel. Ao ouvir “o canto da sereia”, de uma design celebridade sem conhecimento arquitet�nico e pr�diga em gastar dinheiro, o empres�rio portugu�s teria come�ado a selar o destino da empreitada.

Outro passo em falso teria sido a contrata��o do executivo de origem su��a Bernard Mercier como CEO. Mercier n�o deixou boas recorda��es em Itacar�. � lembrado como uma pessoa “arrogante”, “intrat�vel” e “incompetente” - para ficar nos adjetivos mais leves.

A extravag�ncia tropical, no entanto, foi um sucesso de p�blico e cr�tica. Assim que o projeto foi lan�ado, em 2004, com abertura prevista para 2007, a revista do The New York Times descreveu o Warapuru como “o ref�gio mais exclusivo do Brasil” e a prestigiada revista Wallpaper o chamou de “esconderijo ao estilo James Bond”.

J� as 17 vilas, de diferentes dimens�es e a partir de US$ 1.2 milh�o, foram todas vendidas logo ap�s o lan�amento. A maioria dos compradores, formada por empres�rios estrangeiros e rica�os oriundos do mercado financeiro, ainda n�o sabe quando poder� passar f�rias por l�.

Lan�ado com pompa e estardalha�o, o Warapuru Resort hoje amarga um duro anonimato e futuro incerto. Fora do sul da Bahia, pouco se ouve falar no empreendimento.

Crise acelerada


Os problemas do Warapuru Resort come�aram quando um decreto estadual liberou a obra como sendo de “interesse p�blico”. “Utilidade p�blica s�o casos muito espec�ficos, ditados ora pela lei da Mata Atl�ntica, de 2006, ora pelo c�digo florestal. N�o como aconteceu nesse caso”, diz a promotora Aline Salvador, da Regional Ambiental de Ilh�us do Minist�rio P�blico da Bahia.Com o decreto em m�os, estranhamente calcado em artigos da Constitui��o que preveem desapropria��o para reforma agr�ria, a obra deslanchou no in�cio de 2004.

Mas, novamente, a busca por uma “facilidade” se mostraria um grande erro. Por estar em �rea de preserva��o ambiental, era necess�rio um Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima). A lei exige o EIA-Rima para empreendimentos com ou mais de 50 hectares. Os respons�veis julgaram escapar da exig�ncia ao registrar o empreendimento com 49,9 hectares.

Segundo a promotora, os subterf�gios para evitar o estudo foram t�o escandalosos que acabaram motivando a a��o civil p�blica proposta pelo Minist�rio P�blico Estadual, que culminou com o embargo pelo Ibama, levantado, em mar�o de 2007, pelo ministro Gilmar Mendes, do STF. O ministro acatou um pedido da Procuradoria-Geral da Bahia, sob o argumento de que a interrup��o da obra causaria desemprego e reduziria em 35% toda a receita tribut�ria do munic�pio.

Pouco depois, a obra foi retomada, mas com um grande �nus financeiro, at� parar definitivamente em meados de 2008 por falta de dinheiro.

Tentativas de acordo

O investidor americano Mark Bakar, da Makai Ventures, n�o tem d�vida de que, se for conclu�do, o Warapuru estar� entre os maiores projetos hoteleiros do mundo. “N�o h� nada comparado no Brasil, mas h� grande risco de n�o conseguirmos ressuscit�-lo”, disse ao Estado, de San Francisco, Calif�rnia.

Bakar � especialista em recuperar projetos imobili�rios em dificuldades. Ex-acionista da luxuosa rede Aman Resorts, grupo hoteleiro presente em 15 pa�ses, a primeira vez que ele ouviu falar do Warapuru foi em 2004, quando passava f�rias em B�zios.

Em 2007, Jo�o Vaz Guedes foi procur�-lo nos Estados Unidos em busca de investidores. Desde ent�o, ao lado do empres�rio mineiro Gustavo Ribeiro, ele tenta encontrar sa�das.

H� dois anos, com a fal�ncia, as tratativas ficaram ainda mais complexas. Em maio de 2011, a Caciel Ind�stria e Com�rcio, fornecedora de servi�os de marcenaria, pediu a fal�ncia da incorporadora Harmattan, de Vaz Guedes, por uma d�vida de R$ 1,09 milh�o. A fal�ncia foi decretada.

Entre os credores, o Banco Fibra, de Ricardo Steinbruch, det�m 50% do cr�dito da massa falida. Os outros dois maiores credores s�o a Funchal Ltda. e o fundo de investimentos Itacar� Capital. Ap�s mais de cinco anos de negocia��es, eles fizeram uma proposta de compra com a condicionante de iniciar os pagamentos assim que a renova��o da licen�a ambiental fosse concedida. O Itacar� Capital n�o aceitou a proposta.

Segundo Ribeiro, um or�amento indicou que seriam necess�rios outros R$ 100 milh�es para terminar o hotel. Ele, por�m, acredita que o valor possa diminuir com uma readequa��o da planta a uma vis�o mais modesta. O empres�rio Jo�o Vaz Guedes foi procurado, mas n�o retornou o pedido de entrevista.


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