Internet, telefones celulares, cart�es de banco e novas tecnologias em geral n�o est�o transformando somente o cotidiano dos empregos e do mercado formal. Est�o mudando tamb�m o mundo do crime, que ficou menos violento para as v�timas e mais lucrativo para os ladr�es. � o que mostra a s�rie de pesquisas de vitimiza��o feita ao longo de dez anos em S�o Paulo pelo Insper. Os dados da �ltima rodada, que ser�o divulgados nesta semana, foram obtidos com exclusividade pelo Estado.
“O estudo mostra que houve uma altera��o clara no padr�o de vitimiza��o ao longo do tempo. Hoje em dia os crimes relacionados a cart�es de cr�dito, fraudes banc�rias e sites de compras s�o bem mais comuns. Esses crimes s�o menos violentos e os criminosos correm menos riscos, mas envolvem uma perda maior de dinheiro”, diz o professor Naercio Menezes Filho, que coordenou a pesquisa. “A pol�cia e o Judici�rio precisam se atualizar para lidar com esse crime.”
Como resultado, atualmente h� mais pessoas que sofreram esse tipo de estelionato do que v�timas de roubo - crimes contra o patrim�nio com viol�ncia. Em 2003, segundo o estudo, 5,4% dos entrevistados relataram que foram roubados na capital pelo menos uma vez nos 12 meses anteriores � pesquisa, total que caiu para 4,6% em 2013.
“Os dados levantam a hip�tese de que talvez a notifica��o de roubo esteja crescendo mais do que o crime propriamente”, diz o soci�logo Renato S�rgio de Lima, conselheiro do F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica. Segundo estat�sticas da Secretaria da Seguran�a P�blica de S�o Paulo, os casos de roubo s�o crescentes. “Os boletins eletr�nicos podem ter ajudado (a aumentar a notifica��o). A aparente contradi��o entre dados oficiais e respostas de entrevistados revela como a pesquisa � importante”, afirma Lima.
Estudos de vitimiza��o s�o considerados a melhor ferramenta para retratar a fotografia da cena criminal na sociedade, uma vez que nem todas as v�timas registram oficialmente na pol�cia os crimes que sofreram. A subnotifica��o cria o que especialistas chamam de cifras negras. As tr�s pesquisas de vitimiza��o do Insper s�o de 2003, 2008 e 2013. Ao todo, foram 10.967 entrevistados na cidade.
Os dados mostram tamb�m que um em cada tr�s paulistanos - 32,5% dos entrevistados - foi v�tima de algum tipo de crime no ano anterior � pesquisa, excluindo agress�o verbal e acidentes de tr�nsito. Os estelionat�rios - fraudes em cart�o de cr�dito, dinheiro falso ou cheque sem fundo - vitimaram 18,67% dos entrevistados.
Entre 2004 e 2010, a SSP fazia pesquisa de vitimiza��o periodicamente, mas abandonou o uso da ferramenta. O soci�logo Tulio Kahn, que trabalhou na Coordenadoria de An�lise e Planejamento da SSP, diz que a pesquisa do Insper detecta informa��es parecidas a alguns dados que vinham sendo coletados nas pesquisas do governo, como a diminui��o na sensa��o de inseguran�a e a redu��o na quantidade de armas em posse da popula��o.
Conforme estat�sticas do Insper, em 2003, tinham armas de fogo em casa 2,6% dos entrevistados, total que caiu para 1,5% neste ano. O medo de sofrer viol�ncia diminuiu entre 2003 e 2008, mas voltou a crescer em 2013. Em 2012, houve a alta dos homic�dios resultante do conflito entre policiais e integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
“A redu��o do medo era percebida principalmente nas periferias, como resultado da queda da taxa de homic�dio”, diz Kahn. “A vitimiza��o complementava registros oficiais e era instrumento importante para orientar o trabalho da pol�cia.”
Subnotifica��o
Entre as informa��es importantes reveladas pela pesquisa est� a subnotifica��o. Apenas 36,7% das pessoas que foram v�timas de roubo, por exemplo, informaram sobre o crime � pol�cia. O total diminui ainda mais quando perguntados quantos foram � delegacia prestar queixa: s� 28,8%.
“A Pol�cia Militar normalmente faz o primeiro atendimento, via 190. Alguns acabam desistindo de ir � delegacia. Isso mostra que seria mais produtivo um boletim de ocorr�ncia unificado”, diz o cientista pol�tico Leandro Piquet Carneiro, da Universidade de S�o Paulo (USP).