Depois de 37 anos da sua morte, Jango recebe honras f�nebres de chefe de Estado, em cerim�nia com presen�a de Dilma e Lula, al�m de familiares (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Depois de 37 anos da sua morte, Jango recebe honras f�nebres de chefe de Estado, em cerim�nia com presen�a de Dilma e Lula, al�m de familiares
Bras�lia – Em 5 de dezembro de 1976, morria em uma fazenda na prov�ncia de Mercedes, na Argentina, o ex-presidente da Rep�blica Jo�o Goulart. Na ocasi�o, os preparativos f�nebres se resumiram a um tamponamento com algod�o da boca e das narinas, para impedir o fluxo de l�quidos. Os mandat�rios militares n�o permitiram que Jango retornasse a Bras�lia. Dias depois do falecimento, o corpo foi enterrado numa cerim�nia simples, no jazigo dos Goulart, em S�o Borja (RS). Ontem, quase 37 anos depois, Jango recebeu as honras f�nebres devidas a um chefe de Estado. A urna contendo os restos mortais do ex-presidente foi recebida em cerim�nia no come�o da tarde de ontem, na Base A�rea de Bras�lia.
A chegada dos despojos de Jango foi saudada com a execu��o do Hino Nacional e da Marcha F�nebre e com o disparo de 21 tiros de canh�o. Al�m da presidente Dilma Rousseff, participaram os antecessores Luiz In�cio Lula da Silva, Fernando Collor de Mello e Jos� Sarney, al�m de diversos parlamentares e integrantes do primeiro escal�o do governo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se recupera de uma diverticulite e n�o compareceu. Usando trajes de gala, militares das tr�s for�as receberam o corpo do ex-presidente. A fam�lia de Jango acompanhou toda a cerim�nia ao lado das autoridades. Ao fim do evento, a presidente Dilma e a vi�va de Jango, Maria Thereza Goulart, depositaram uma coroa de flores sobre a urna mortu�ria.
Democracia Dilma deixou o local sem falar � imprensa. No Twitter, a presidente escreveu que a exuma��o e a cerim�nia representavam uma "afirma��o da democracia" no pa�s. "Hoje � um dia de encontro do Brasil, com a sua hist�ria. Como chefe de Estado da Rep�blica Federativa do Brasil participo da recep��o aos restos mortais de Jo�o Goulart, �nico presidente a morrer no ex�lio, em circunst�ncias ainda a serem esclarecidas por exames periciais (...). Este � um gesto do Estado brasileiro para homenagear o ex-presidente Jo�o Goulart e sua mem�ria", afirmou.
O professor de hist�ria contempor�nea da Universidade de Bras�lia Ant�nio Jos� Barbosa concorda. Ele lembra que, durante muito tempo, Jango foi considerado uma personagem menor da hist�ria nacional. "Jango foi o �nico presidente brasileiro condenado a morrer no exterior. O que aconteceu com ele � talvez uma das coisas mais dolorosas para um personagem hist�rico, que � ser relegado ao esquecimento, em que ele esteve durante muitos anos. Houve um esfor�o para apagar Jo�o Goulart da mem�ria coletiva do povo brasileiro", diz.
O professor lembra que Jango foi eleito vice-presidente duas vezes, numa �poca em que presidente e vice concorriam em pleitos diferentes e podiam ser, inclusive, de partidos opostos. "Em 1955, ele foi eleito vice com quase 500 mil votos a mais que o presidente Juscelino Kubitschek. E em 1960 foi eleito novamente vice-presidente, desta vez com J�nio Quadros. Isso mostra que ele era um pol�tico admirado, reconhecido pela popula��o. Enquanto presidente, ele tentou dar uma ‘face humana’ ao capitalismo brasileiro." Durante muito tempo, ele foi visto pela historiografia como um personagem menor. “A despeito dos seus m�ritos, ele era visto pela esquerda como ‘frouxo’ demais, e pela direita como uma marionete de Moscou", analisa o professor.