Quem caminha por Bras�lia encontra poesia estampada em locais inimagin�veis. Os versos deixaram os livros e est�o nas paradas de �nibus, nas passagens subterr�neas, nos postes, em meio-fios, nas cal�adas, nas ca�ambas de lixo e em tapumes de obras. Basta um olhar atento para encontrar. No entanto, muitas vezes, as mensagens sem assinatura n�o encontram destinat�rio. Passam despercebidas na correria da cidade.
A agricultora Rita Lopes, 48 anos, deixou a pequena cidade de Pedra Branca do Amapari, no Amap�, e desembarcou em Bras�lia na �ltima semana. Ao atravessar o Eixo Monumental, uma das vias centrais da capital, reparou em uma mensagem. “Li o cartaz com ‘Mais amor por favor’ e pensei: � isso! � o que falta. As pessoas aqui andam correndo, n�o olham para o lado, n�o enxergam o outro. Acho que olhar a pessoa ao lado � se preocupar com ela, � dar amor”, diz.
Conterr�neo de Rita, o funcion�rio p�blico Andr� Lopes, 27 anos, tamb�m se encantou. “A vida � t�o corrida. N�s nos esquecemos de dizer o que sentimos. De falar ‘Eu te amo’. Mensagens assim, no meio da cidade, s�o muito bacanas. A gente olha e pensa. A poesia alcan�a a gente no meio da correria e nos faz refletir”, garante. O radialista Luiz Polesi, 53 anos, tamb�m notou o cartaz. “Achei muito bacana. Poesia � sempre bom. N�o acho nota 10, acho nota 11”, afirmou. Polesi, que mora da cidade paulista de Taquaritinga, acredita que os poemas s�o uma interven��o diferente e atraem a aten��o das pessoas. “� bonito. Deixa a cidade mais bonita. N�o � como os rabiscos que ningu�m entende”, ressalta, referindo-se �s picha��es.
A poesia de parede � comum nas grandes cidades de todo o mundo. Os versos s�o curtos e objetivos. Temas simples da vida s�o abordados sem profundidade, mas sem perder a dose de reflex�o inerente � poesia em geral. Para muitos artistas, as interven��es s�o uma rea��o �s propagandas que bombardeiam quem passa pelos grandes centros urbanos. Em Bras�lia, os versos ganham particularidades. Falam da solid�o, do concreto, das ruas sem esquinas. A maioria dos poemas n�o � assinada. Os grupos de arte urbana disponibilizam os versos para download, como o brasiliense Coletivo Transverso. � uma arte que pode ser feita por todos e tem todos como p�blico.