
O conflito atual exp�e um clima de tens�o j� vivido 125 anos atr�s. No final do s�culo 19, a Freguesia de Humait� era alvo frequente de ataques de �ndios e os moradores decidiram mud�-la para o local atual. O tempo arrefeceu os �nimos. At� semanas atr�s, os 1.446 integrantes das etnias tenharim, parintintin e mura, que habitam a Terra Ind�gena Tenharim Marmelos, eram presen�a constante em lojas, restaurantes, pra�as e locais de divers�o de Humait�. Apareciam de carro ou moto, faziam compras, iam a restaurantes e lanchonetes. Desde os incidentes, em que tamb�m os ped�gios dos �ndios na Transamaz�nica foram queimados, n�o se v� um �ndio pelas ruas. Eles est�o acuados nas matas da reserva, enquanto um grupo de 140 ind�genas permanece asilado no 54º Batalh�o de Infantaria de Selva de Humait�.
No domingo, 29, � tarde, a Justi�a Federal, atendendo a pedido do Minist�rio P�blico Federal, determinou que “a Uni�o e a Funai” adotem “medidas de seguran�a, no prazo de 24 horas”, para proteger as �reas ind�genas. Na pr�tica, as for�as de seguran�a j� est�o agindo. No comando da 17ª Brigada de Porto Velho, o general Ubiratan Poty diz que “n�o h� um conflito �tnico” entre brancos e �ndios na cidade, mas admite que o desaparecimento das tr�s pessoas “gerou uma rea��o” que j� foi controlada e “tudo tende a voltar ao normal.” A Pol�cia Federal e a For�a Nacional est�o rastreando a floresta com helic�pteros e c�es farejadores em busca dos desaparecidos, sem resultados.
O delegado da PF Alexandre Alves, que dirige as investiga��es, disse que os trabalhos v�o continuar at� tudo ser esclarecido. “Al�m do aparato que temos na �rea, trabalhamos com o servi�o de intelig�ncia.” A popula��o, no entanto, n�o faz concess�es. “Enquanto n�o houver uma resposta para o que aconteceu l�, � melhor que os �ndios n�o apare�am por aqui”, diz o gar�om Edemilton Silva Palheta, de 27 anos.
'Seres humanos'
A funcion�ria p�blica Marlene Souza conta que muitos �ndios est�o integrados na vida da cidade. “Temos �ndio aqui que � professor, a gente os respeita como seres humanos, mas como podemos confiar neles depois do que aconteceu? Revoltada, a popula��o � capaz de tudo”, alertou. O almoxarife Edvan Fernandes Fritz, de 29 anos, admite que n�o gosta dos �ndios. “Eles v�m � cidade, enchem a cara, fazem baderna e fica por isso. Agora que o povo reagiu, eles pegaram o peco (fugiram)”, disse. “�ndio � protegido pelo governo que nem bicho, ent�o tem de ficar no mato, n�o tem que viver em dois mundos, no nosso e no deles.” Segundo Fritz, o desaparecimento dos tr�s amigos foi o estopim. “O cacique deles caiu da moto porque era um p� inchado (b�bado).”
Para o madeireiro Elias Trepak, de 60 anos, a cobran�a de ped�gio pelos �ndios, na Transamaz�nica, est� na raiz do problema. “Temos dois Brasis: um, esse em que a gente vive; o outro, um Brasilzinho que o governo reservou para os �ndios.” Segundo ele, h� mais de seis anos os �ndios controlam a Transamaz�nica nos 140 quil�metros da reserva e n�o se faz nada.
As marcas da revolta ainda est�o espalhadas pela cidade. Da sede da Funai e da Casa de Sa�de do �ndio s� ficaram escombros. A dona de casa Wilma Oliveira da Paix�o, de 24 anos, viu quando a multid�o chegou, tombou e incendiou uma viatura e come�ou a depredar o pr�dio. “Logo algu�m jogou uma bola de fogo, a� come�aram a incendiar tudo.” A carca�a da viatura continua na rua e o barco afundou no Rio Madeira, ap�s o inc�ndio.
Solu��o
A assessoria do prefeito de Humait�, Jos� Cidinei Lobo do Nascimento (PMDB), acredita que o conflito s� acaba com o esclarecimento da morte do cacique Ivan Tenharim e do desaparecimento dos tr�s civis.
Procurado, o cacique Ivanildo Tenharim, que acompanha os �ndios no Batalh�o do Ex�rcito, disse que n�o estava em condi��es de falar com a imprensa. Um �ndio que est� escondido na casa de uma amiga, na cidade, e que se identificou como Damasceno, disse que os ind�genas na reserva est�o sem energia e passam priva��es. Segundo ele, a receita do ped�gio � fonte de recursos para as fam�lias ind�genas, que n�o podem explorar a floresta e recebem do governo federal um aux�lio insuficiente.