Jamile tem 9 anos e o sorriso escurecido por c�ries. Os molares e pr�-molares tamb�m est�o esburacados. Ela � uma �ndia terena da aldeia Lim�o Verde, em Aquidauana. Nunca tinha ido ao dentista, apesar de uma profissional do Polo de Assist�ncia Ind�gena atender ali tr�s vezes por semana. Como outros terenas, Jamile sofre com dores de dente desde cedo - a etnia, apesar de ter mais acesso � sa�de bucal, tem maior �ndice de c�ries quando comparada a guaranis e caiov�s.
A constata��o faz parte de pesquisa que a Funda��o Oswaldo Cruz est� produzindo no Mato Grosso do Sul, segundo Estado do Pa�s em n�mero de ind�genas (s�o 73 mil, ante 178 mil no Amazonas), para tra�ar o perfil das doen�as bucais entre �ndios. Por um ano, dentistas que j� atuam com sa�de ind�gena coletaram os dados de 1,7 mil pessoas das tr�s etnias. O estudo pode ajudar a nortear os cuidados de que eles precisam.
Pelo �ndice CPO-D, que contabiliza o n�mero de dentes cariados, perdidos ou obturados, os caiov�s tinham menos de um dente afetado (0,9). Entre os guaranis, a m�dia ficou em 1,5. J� os terenas alcan�aram 2,2, acima da m�dia na popula��o brasileira n�o ind�gena (2,07).
“Os terenas t�m hist�ria de contato que acaba integrando de forma mais r�pida com nosso tipo de alimenta��o. Eles t�m n�vel de escolaridade e de renda um pouco maior que as demais etnias. T�m acesso maior � alimenta��o industrializada, sem ter os mesmos benef�cios que n�s temos, como fluoreta��o na �gua de abastecimento p�blico”, acredita Arantes.
O dentista Edson Albuquerque Pontes, de 54 anos, que atua em aldeias h� tr�s e � um dos treinados para coletar os dados em campo, conta que mais de 70% das c�ries s�o do tipo interproximal - provocadas por restos de comida entre os dentes, onde a escova n�o alcan�a.
Envergonhada, Jamile confirma que s� escova os dentes quando acorda. Foi feita campanha preventiva sobre a import�ncia do fio dental, com distribui��o do item de higiene. “Na nossa visita seguinte, descobrimos que as crian�as estavam usando o fio dental para soltar pipas”, conta Pontes. “O desafio � transmitir no��es de preven��o”, afirma o dentista.