
Levantamento feito pela pesquisadora Sannie Muniz Brum com 35 comunidades de pescadores em �rea de reserva de desenvolvimento sustent�vel, na regi�o do Baixo Rio Purus, no Amazonas, constatou que botos-vermelhos, conhecidos tamb�m como botos-cor-de-rosa, est�o sendo mortos e usados como isca para a pesca do peixe piracatinga (Callophysus macropterus).
Sannie � pesquisadora do Instituto Piaga�u (IPI) e colaboradora da Associa��o Amigos do Peixe-boi (Ampa). O projeto teve apoio da Funda��o Botic�rio de Prote��o � Natureza. Sannie alerta que, no longo prazo, essa pr�tica pode acabar levando � extin��o do "golfinho da Amaz�nia". “As medidas t�m que ser tomadas agora. Sen�o, � extin��o”, disse Sannie nesta quinta-feira (13) � Ag�ncia Brasil.
A coordenadora adjunta do Centro Nacional de Pesquisa e Conserva��o de Mam�feros Aqu�ticos (CMA) do Instituto Chico Mendes de Conserva��o da Biodiversidade (ICMBio), Carla Marques, disse que, em comit�s internacionais, o governo brasileiro tem sido cobrado sobre a preserva��o dos botos da Amaz�nia.
O problema, disse, � que n�o h� pessoal suficiente para exercer uma fiscaliza��o cont�nua na regi�o. O ICMBio fiscaliza as �reas dentro das unidades de conserva��o e o Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renov�veis (Ibama) se encarrega de fiscalizar fora dessas unidades. “Dentro do instituto tem uma pol�tica de tentar evitar que ocorram essas pr�ticas, mas o ICMBio n�o tem o poder de pol�cia”.
Carla Marques informou que t�m sido feitas campanhas pelo governo em conjunto com o Centro de Estudo e Pesquisa da Amaz�nia (Cepam). O �rg�o do Minist�rio do Meio Ambiente tem conhecimento da utiliza��o do golfinho como isca para pesca, o que � ilegal, e est� articulando a��es para coibir a pr�tica em parceria com o Ibama e o pr�prio minist�rio. “A gente tem feito algumas a��es de fiscaliza��o em conjunto com o Ibama, mas as a��es s�o pontuais. A Amaz�nia � um mundo inteiro. A gente n�o consegue coibir tudo”.
Carla admitiu que esse � um problema de dif�cil solu��o e que ocorre em outros pa�ses. Ela acredita que para resolver o problema, s� com fiscaliza��o. “Est� todo mundo pensando em tentar mitigar esse problema, mas � de dif�cil solu��o pela falta de pessoal que se tem. Os dois �rg�os t�m pouco contingente para atender a uma regi�o como a Amaz�nia”. Ela relatou, inclusive, que algumas a��es ocorrem em parceria com a Pol�cia Federal e as pol�cias locais. “Mas s�o pontuais. A gente n�o consegue estar presente o tempo todo. E a pesca continua”.
Al�m de uma fiscaliza��o mais rigorosa e permanente, a pesquisadora Sannie Brum defendeu a necessidade de se levar �s comunidades que habitam em �reas protegidas informa��es para que saibam que � crime e ilegal usar botos-vermelhos como isca para a pesca. “� preciso que haja uma conscientiza��o. Eles [pescadores] sabem que � proibido, que n�o podem fazer”. � preciso que haja uma coibi��o efetiva para que decidam parar essa pr�tica. “Educar e trazer informa��es s�o medidas para a conscientiza��o dos pescadores”.

Segundo a pesquisadora, a mortalidade do golfinhos � elevada na regi�o do Baixo Purus devido � atividade de pesca da piracatinga. Considerando 15 toneladas pescadas somente na regi�o, de acordo com relato dos pr�prios pescadores, a estimativa � que at� 144 botos-cor-de-rosa sejam mortos por ano para virar isca. “� um absurdo”.
A situa��o se agrava considerando que os golfinhos t�m uma reprodu��o lenta. As f�meas t�m uma gesta��o de cerca de dez meses e, ap�s o nascimento, podem cuidar dos filhotes por at� quatro anos. Com isso, a inser��o de novos botos na natureza � demorada. Sannie diz que a morte de uma grande quantidade desses animais pode inviabilizar a manuten��o da esp�cie.
Para a pesquisadora, a fiscaliza��o � importante, mas constitui o primeiro passo. “Ela tem que ser mais efetiva e aberta � discuss�o”. Ela reiterou a necessidade de uma grande campanha de educa��o ambiental nas comunidades, para que os moradores entendam a import�ncia que o boto tem para o meio ambiente e para ele mesmo. Hoje, disse, o pescador v� o boto como um concorrente para suas atividades de pesca. “A gente precisa mudar isso. E s� muda com educa��o”.
Sannie Brum pretende come�ar uma nova pesquisa para descobrir o que pode ser usado como alternativa de isca para a pesca da piracatinga. A coordenadora adjunta do CMA, Carla Marques, informou que esse � um tipo de peixe que se alimenta de carne morta ou em putrefa��o. Por isso, � rejeitado como alimento pelos pr�prios pescadores.
Sannie Brum explicou que apesar disso, eles vendem o produto para mercados de S�o Paulo, do Paran� e do Nordeste e, inclusive, para outros pa�ses, como a Col�mbia. Para isso, usam o nome fantasia de “douradinha”. Como � vendido sob a forma de fil�, a piracatinga acaba sendo comprada pelos consumidores que o confundem com um peixe nobre, a dourada