S�o Paulo, 10 - "Uma trag�dia ou uma hist�ria de supera��o?" Essa � a pergunta estampada no cart�o pessoal de David Santos Sousa, de 22 anos. No domingo, 9, ele completou um ano sem o bra�o direito, decepado enquanto andava de bicicleta, rumo ao trabalho, na ciclofaixa da Avenida Paulista, por um carro que tinha ao volante um homem embriagado. O condutor arremessou o membro em um rio.
Sem emprego desde ent�o, Sousa busca um novo sentido � vida. Entrou num curso de Administra��o do Servi�o Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), no qual se forma no fim deste semestre, mas sem grande entusiasmo. "Gosto mesmo � do que eu fazia antes, o rapel", afirma com tom nost�lgico na voz.
Na manh� do atropelamento, ele seguia de bike para mais um dia de servi�o, como limpador de janelas de arranha-c�us. Fazia quase dois anos que se pendurava por cordas a dezenas de metros de altura, atividade que se tornou mais do que uma obriga��o: um gosto. "Agora, j� n�o posso voltar a esse tipo de atividade profissional."
Registrado, Sousa tinha um sal�rio de R$ 1,5 mil, quase o dobro do que passou a receber com o aux�lio mensal do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O rendimento atual � completado por um pequeno acr�scimo do sindicato das empresas de limpeza de S�o Paulo, que tamb�m lhe fornece duas cestas b�sicas por m�s.
Alma de ciclista
Morador de Cidade J�lia, bairro da periferia paulistana no limite com Diadema, Sousa n�o desistiu de pedalar, mesmo com o trauma de um ano atr�s. Longe disso. Todos os dias, vence com a bicicleta os 21 km que separam sua pequena casa, onde mora com um amigo, da Escola Roberto Simonsen, do Senai, no Br�s, centro. "Vou em 40 minutos."
Quem o v� pedalando por a� n�o deixa de se impressionar com sua habilidade. Anteontem, o Estado o acompanhou - de carro - por cerca de uma hora nas ruas da zona sul. Subindo ladeiras, o jovem chegava a atingir 20 km por hora. Nas descidas, a velocidade subia a 55 km.
"Para andar de bike, o bra�o que perdi n�o faz falta, aprendi a me virar com o esquerdo mesmo e at� virei canhoto." A pr�tese que ganhou de um empres�rio de Sorocaba s� � usada quando ele n�o anda de bicicleta.
Depois do atropelamento e da interna��o no Hospital das Cl�nicas, al�m de se matricular no ensino t�cnico, o rapaz come�ou a aprender a lutar muay thai. Improvisou um saco de pancadas na garagem de casa. Veste a faixa de prote��o na m�o e coloca a luva sem a ajuda de ningu�m.
O passo mais decisivo no sentido de dar um rumo � sua nova vida, por�m, � a aposta em uma carreira de palestrante. � por isso que imprimiu seus cart�es. "No ano passado, fiz algumas palestras em empresas e escolas. Quero intensificar isso neste ano." E por que decidiu trilhar o caminho motivacional? "Por problemas pequenos, muitas pessoas querem jogar tudo para o alto, parar de trabalhar, de estudar. Elas se esquecem de que t�m uma vida grandiosa pela frente."