Para 65% do brasileiros, mulher de roupa curta merece ser atacada, diz IPEA

A maioria dos brasileiros concorda com a ideia de que marido que bate na esposa deve ir para a cadeia, revela pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 27, pelo Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea). Batizado de Sistema de Indicadores de Percep��o Social (SIPS), o trabalho se baseou na entrevista de 3.810 pessoas, residentes em 212 munic�pios no per�odo entre maio e junho do ano passado. A pesquisa mostra que 91% dos entrevistados concordam total ou parcialmente com a pris�o dos maridos que batem em suas esposas. O estudo alerta, no entanto, que � prematuro concluir, com bases nesses dados, que a sociedade brasileira tem pouca toler�ncia � viol�ncia contra a mulher. "H� uma ambiguidade do discurso", afirmam os autores.

Dos entrevistados, 63% disseram concordar com a ideia de que "casos de viol�ncia dentro de casa devem ser discutidos somente entre membros da fam�lia". Causou espanto entre os pr�prios pesquisadores o fato de que 65% disseram concordar com a frase "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas", algo que deixa claro para autores do trabalho a forte tend�ncia de culpar a mulher nos casos de viol�ncia sexual. Para autores, um n�mero significativo de entrevistados parece considerar a viol�ncia contra a mulher como uma forma de corre��o. A v�tima teria responsabilidade, seja por usar roupas provocantes, seja por n�o se comportarem "adequadamente."

A avalia��o tem como ponto de partida o grande n�mero de pessoas que diz concordar com a frase: se mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros. O trabalho indica que 58,5% concorda com esse pensamento. A resposta a essa pergunta apresenta varia��es significativas de acordo com algumas caracter�sticas. Residentes das regi�es Sul e Sudeste e os jovens t�m menores chances de concordar com a culpabiliza��o do comportamento feminino pela viol�ncia sexual. A pesquisa n�o identifica caracter�sticas populacionais que determinem uma postura mais tolerante � viol�ncia, de forma geral. Os primeiros resultados, no entanto, indicam que morar em metr�poles, nas regi�es mais ricas do Pa�s, ter escolaridade mais alta e ser mais jovem aumentam a probabilidade de valores mais igualit�rios e de intoler�ncia � viol�ncia contra mulheres. Autores avaliam, por�m, que tais caracter�sticas t�m peso menos importante do que a ades�o a certos valores como acreditar que o homem deve ser cabe�a do lar, por exemplo.

A pesquisa do Ipea tamb�m revela que a maior parte dos brasileiros se incomoda em ver dois homens ou mulheres se beijando. Dos entrevistados, 59% relataram desconforto diante da cena. A rela��o afetiva entre pessoas do mesmo sexo tamb�m n�o tem uma aceita��o expressiva. Das pessoas ouvidas, 41% disseram concordar com a frase "um casal de dois homens vive um amor t�o bonito quando entre um homem e uma mulher" e 52% concordam com a proibi��o de casamento gay. O levantamento identificou, no entanto, um avan�o na aceita��o do princ�pio da igualdade dos direitos de casais homossexuais e heterossexuais. Metade dos entrevistados concorda com a afirma��o de que casais de pessoa do mesmo sexo devem ter mesmos direitos de outros casais.