A Articula��o Nacional dos Comit�s Populares da Copa (Ancop) e os demais movimentos sociais que participam do Encontro dos Atingidos – Quem Perde com os Megaeventos e Megaempreendimentos, em Belo Horizonte, planejam protestos e mobiliza��es durante o Mundial.
Hoje, participantes do encontro, das 12 cidades-sede da Copa do Mundo, discutiram estrat�gias de mobiliza��o para fazer do evento um espa�o de protesto e reivindica��o. “N�s fomos bem surpreendidos pela realiza��o dos atos [manifesta��es durante a Copa das Confedera��es], no ano passado, e queremos que eles voltem a ocorrer”, disse Val�ria Pinheiro, da Ancop e do Comit� Popular da Copa do Cear�.
“N�s queremos juntar as diversas articula��es de movimentos sociais, populares, sindicatos e todos os setores que neste momento est�o comprometidos em levar uma mensagem de luta para o povo brasileiro para que a gente de fato organize uma jornada unit�ria”, disse o integrante da dire��o nacional da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), Sebasti�o Carlos.
O integrante do Movimento Passe Livre de S�o Paulo, uma das organiza��es que convocaram os atos que ocorreram durante a Copa das Confedera��es, Eudes Oliveira, acredita que temas, como mobilidade urbana, devem incentivar a participa��o popular. “As obras de infraestrutura n�o foram feitas. Pelo contr�rio, o transporte n�o melhorou, as pessoas est�o todos os dias sofrendo com transporte ruim, lotado”.
Marcelo Edmundo, da Central dos Movimentos Populares (CMP), destacou que a discuss�o sobre novas leis que possam vir a coibir manifesta��es tamb�m deve ser recha�ada nos atos, como o Projeto de Lei 499/2013, que define como terrorismo o ato de provocar ou infundir terror ou p�nico generalizado, e que voltou � tona ap�s a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, em fevereiro deste ano. Muitos avaliam que essa proposta pode coibir as manifesta��es no pa�s.
“N�s estamos diante da maior amea�a contra os movimentos populares”, disse Edmundo.
A ideia dos movimentos � que os atos comecem antes do Mundial. A Ancop convocou os movimentos para participar do Dia Internacional de Luta contra a Copa, marcado para o dia 15 de maio. No Distrito Federal e em S�o Paulo, a��es est�o em planejamento. “Exigimos nosso direito � cidade e nossa liberdade de manifesta��o”, reitera o Comit� de S�o Paulo, por meio de convoca��o que circula nas redes sociais.
Durante o encontro, os participantes criticaram os gastos com a Copa do Mundo. De acordo com a Matriz de Responsabilidade do evento, estima-se a aplica��o de R$ 25,6 bilh�es nas cidades-sede.
Economista do Instituto de Pol�ticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), Sandra Quintela alerta que as d�vidas dos munic�pios em fun��o do evento poder�o resultar em crises nos pr�ximos tr�s anos. “As cidades foram estimuladas a se endividar”, diz, destacando que, durante a prepara��o do Mundial, foram autorizadas, pela Lei 12.348, a tomar novos empr�stimos, mesmo se a d�vida total delas j� estivesse acima da receita l�quida real.
Sandra Quintela aponta como negativas mais duas medidas tomadas para viabilizar a Copa: as isen��es fiscais concedidas ao Comit� Organizador Local (COL), � Fifa e demais empresas ligadas � promo��o da Copa de 2014, assim como a altera��o na Lei de Licita��es, que passou a permitir a uma empresa executar uma obra sem o projeto definitivo.
“Tiveram que fazer v�rios ‘puxadinhos’, arremedos nos projetos, contrata��o de mais servi�os para que as obras fossem feitas a toque de caixa”, critica. Com isso, segundo a economista, aumentou a expectativa de gastos com a Copa, que, h� quatro anos, era de aproximadamente R$ 20 bilh�es. “Os interesses privados foram favorecidos em detrimento do interesse p�blico”.
Os participantes do encontro dizem que os est�dios, como o de Manaus, com capacidade para receber mais de 44 mil pessoas por partida, podem acabar subutilizados, ap�s o Mundial, como ocorreu com as instala��es feitas para os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro.
A economista acredita que esses gastos com infraestrutura e mobilidade seriam feitos no pa�s, independentemente da realiza��o da Copa. O evento, contudo, contribuiu para que fossem feitos de forma acelerada, sem planejamento ou controle social, avalia. “� um modelo todo voltado para o interesse privado. � a cidade produto, cidade mercadoria, pensada para os hot�is, os turistas”.
Integrante da Articula��o Nacional dos Comit�s Populares da Copa, Chico Carneiro avalia que os pequenos comerciantes ficar�o sem espa�o, diferentemente das grandes empresas, que ser�o beneficiadas com os lucros gerados pelo evento. Segundo Carneiro, outro problema � a falta de consultas p�blicas �s comunidades sobre as remo��es decorrentes das obras, o que configura a “perda do processo democr�tico”.
J� o governo federal defende que a Copa deixar� legados, como a melhoria na infraestrutura das cidades, o incremento no turismo e tamb�m ganhos econ�micos para o Brasil. Segundo o Minist�rio do Turismo, na Copa das Confedera��es, os estrangeiros gastaram, em m�dia, R$ 4.854 durante os 14,4 dias em que permaneceram no Brasil.
Estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) aponta que estrangeiros e brasileiros devem gastar R$ 25,2 bilh�es durante os jogos da Copa.