Bras�lia, 05 - A Anistia Internacional lan�ou nesta quinta-feira, 5, num ato em frente ao Congresso, documento de den�ncia de abuso das pol�cias nas manifesta��es pac�ficas de rua. O relat�rio "Eles usam uma estrat�gia de medo: prote��o do direito ao protesto no Brasil", de 24 p�ginas, omite o papel de toda a rede de comando da repress�o e dos blacks blocs nos casos de viol�ncia. A entidade n�o cita o ex-governador do Rio de Janeiro, S�rgio Cabral, e os governadores de Bras�lia, Agnelo Queiroz, e de S�o Paulo, Geraldo Alckmin, que defenderam abertamente as t�ticas usadas pelas pol�cias. Tamb�m ignora os secret�rios estaduais de seguran�a, superiores dos comandantes das tropas.
Ao dar �nfase em casos de abusos, o documento superdimensiona o papel dos policiais que est�o no front dos protestos, como se os agentes tivessem o poder de decidir sobre o uso de g�s e balas de borracha em �reas de hospitais e escolas. As "autoridades locais", como os pol�ticos das grandes cidades aparecem num trecho do documento, s�o cobrados apenas por uma suposta omiss�o de investigar os abusos cometidos pelas tropas. O texto faz parte da campanha da Anistia "Brasil, chega de bola fora!". A entidade vai protocolar, �s 11 horas, no Pal�cio do Planalto, 87 mil assinaturas de apoio � campanha.
Em entrevista ao Estado, Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional, no Brasil, afirma que a proposta do documento � focar no governo federal - que centraliza o comando da seguran�a de grandes eventos, como a Copa do Mundo - e no Congresso - institui��o onde tramitam leis que p�em risco o direito da manifesta��o pac�fica.
Ele ressalta que, embora n�o apare�am no documento, os governadores e secret�rios de seguran�a foram procurados pela entidade para explicar a viol�ncia por parte das pol�cias. "Est� claro para n�s a cadeia de responsabilidades", afirmou. "De forma alguma pode ser atribu�do (o problema da viol�ncia contra manifestantes) ao policial, pessoa que est� na ponta."
Atila Roque citou um estudo da Funda��o Get�lio Vargas, feito neste ano, em que mais de 60% de policiais ouvidos na pesquisa se declararam despreparados para atuar nos protestos. Ele ressaltou ainda que a Anistia se posiciona contra todos os grupos de manifestantes que praticam viol�ncia. O documento, segundo ele, analisa os agentes que det�m o uso leg�timo da for�a. "A Anistia n�o est� desatenta � viol�ncia como um todo. Somos contra a viol�ncia seja de onde for", disse. "� importante ressaltar que essa � uma a��o que vai continuar. Vamos acompanhar de perto nos Estados."
O termo "Black Bloc" s� � citado no documento numa roda de rodap� da p�gina 22, de forma lateral. Nas manifesta��es de rua, o movimento Black Bloc � alvo principal da pol�cia e, ao mesmo tempo, justificativa apresentada pelos agentes de seguran�a para o aumento da repress�o.
O documento da Anistia Internacional analisa o caso do fot�grafo S�rgio Andrade, 32 anos, de S�o Paulo, que perdeu a vis�o do olho esquerdo, atingido por uma bala de borracha disparada pela pol�cia militar. Andrade relata que no dia 13 de junho do ano passado, quando foi atacado, a pol�cia atirou ainda em pessoas que n�o participavam do protesto ao aumento da passagem de �nibus. O texto n�o cita um caso emblem�tico, o da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, atingido no dia 6 de fevereiro deste ano por um roj�o arremessado por um manifestante contra policiais.