A manh� come�ou mal para Thiago (nome fict�cio). Pouco depois do an�ncio do governo estadual de que haveria demiss�es caso a greve dos metrovi�rios n�o cessasse, o jovem de 26 anos recebeu uma liga��o de seu pai. O telegrama do Metr� deu o an�ncio de sua demiss�o. Embora j� previsse que o documento chegaria, hora ou outra, Thiago n�o conseguiu disfar�ar o desolamento com a not�cia. Afinal, h� seis anos ele d� expediente no ambiente subterr�neo do Metr�, of�cio que considera parte de sua vida.
"Quem quer mudar as coisas, que estava indo nos piquetes, organizando greves, melhorando as condi��es, � que acabou prejudicado", lamentou. "Eu me senti um pouco perdido, sem ch�o". Thiago diz que n�o se v� mais fora da empresa. "Depois de tanto tempo, sua vida j� est� moldada, sua identidade � adaptada a ser trabalhador do metr�. Sua rotina. Faz parte da sua vida", contou. � o segundo emprego do rapaz, que s� trabalhou anteriormente em uma loja de roupas, por menos de um ano.
O operador de trens, como se identifica, n�o tem outra op��o de emprego, mas minimiza o problema ao esclarecer que n�o tem fam�lia para sustentar. "Eu n�o sustento fam�lia, de todos os fatores, este n�o � o atenuante. Mas mesmo assim voc� fica sem saber o que fazer", disse. Thiago ainda aguarda revers�o do quadro com o governo.
Ele acredita que as demiss�es foram parte de uma estrat�gia para acabar com a greve sem negocia��o. "Primeiro eles tinham amea�ado todos os operadores de trem. Em seguida, mandaram 60 demiss�es e, pouco tempo depois, informaram que todas as pessoas que n�o voltassem a trabalhar correriam o risco de serem demitidas. Embora n�s saibamos que o governo n�o demitiria todo mundo pr�ximo da Copa, ficamos com medo", relatou.
Inseguran�a � popula��o
"O Metr� quer passar a imagem de uma greve fraca, que n�o tem ades�o. Mas quem est� na cidade sabe o caos no tr�nsito. H� uma quantidade �nfima de usu�rios nas esta��es", disse. Segundo Thiago, os supervisores que passaram a operar os trens n�o receberam treinamento adequado e a popula��o ficou em risco. O operador afirmou que, em duas ocasi�es, supervisores abriram as portas enquanto o trem estava em movimento. "Qualquer trinca no trilho pode resultar em um problema muito grave e n�o h� gente habilitada para operar o sistema. Eu fico revoltado que o Metr� tente jogar a popula��o contra a gente falando besteira", contou.
Piquetes
A principal estrat�gia dos grevistas ao formarem piquetes, segundo Thiago, era a de convencer os supervisores. Segundo o operador, estes funcion�rios est�o mais facilmente sujeitos �s demiss�es, por isso temiam aderir � greve e mantiveram o trabalho. "Eles recebem um treinamento muito b�sico, mas todos se sentem inseguros para operar trem. Isso exige um tempo grande, s�o v�rios problemas. O dia a dia do operador n�o � simples, tem muito macete", explicou. Ele ainda relatou que muitos acabaram se convencendo, mas as amea�as eram muito "contundentes".
Conflitos
Segundo o operador, a Pol�cia Militar agiu com viol�ncia nos atos dos grevistas. "� sempre do mesmo jeito. Eles chegam em poucos, avaliam que n�o podem fazer muita coisa. Ficam s� conversando. At� que vem ordem de cima, chamam a Tropa de Choque para entrar na esta��o e tirar a gente. Vieram por todos os cantos atacando bombas e chegaram na porrada", contou. "N�o h� muito di�logo", disse.
Em nota , o Metr� afirmou que a greve dos metrovi�rios "foi julgada abusiva por unanimidade na Justi�a do Trabalho ap�s amplo processo de negocia��o". J� a Secretaria de Seguran�a P�blica respondeu, por sua assessoria, que "s�o inver�dicas as acusa��es" de Thiago, que "se esconde no anonimato com o objetivo de denegrir a imagem da Pol�cia Militar". Segundo a corpora��o, "a for�a foi usada somente ap�s terem falhado as tentativas de di�logo com os grevistas".