A �nica televis�o que o desempregado Ronaldo da Silva tem para ver a Copa s� passa a cor vermelha e ainda por cima cheia de chuviscos. Fica imposs�vel diferenciar quem est� jogando. Mas esse n�o � o maior problema dele e das demais 207 fam�lias expulsas no dia 11 de abril deste ano do terreno onde pretendiam morar, pertencente � empresa Oi, sucessora da antiga Telerj.
O interesse pela Copa � pequeno e o clima de tristeza entre todos � facilmente percebido. Depois de uma peregrina��o que come�ou em frente � prefeitura e continuou at� a Catedral Metropolitana, onde permaneceram at� o dia 3 de maio, eles acabaram transferidos para uma quadra coberta da Igreja Nossa Senhora do Loreto, na Ilha do Governador, zona norte
No espa�o reduzido, foram armadas dezenas de barracas, cada uma ocupada por uma fam�lia. Al�m dos adultos, pelo menos 70 crian�as est�o alojadas no local, segundo os pr�prios moradores. Algumas ainda beb�s, muitas usando fraldas. Outras, em idade escolar. Mas nem todas indo � escola, pois as unidades que frequentavam ficaram muito distantes.
“A televis�o s� tem chuviscos, mas a sele��o brasileira n�o � a culpada disso. Os culpados s�o os governantes. Minha esperan�a, eu j� perdi. Mas a f� � a �ltima que morre”, desabafou Ronaldo. Apesar de torcer pela sele��o, ele revela que uma poss�vel derrota brasileira n�o ia deix�-lo triste. “Eu n�o queria que o Brasil perdesse, mas se isso acontecesse, ia rachar a cara deles, por tudo o que investiram na Copa, com tanta gente precisando e pessoas morrendo nos hospitais. Tem que lembrar do povo, n�o s� dos gringos”, disse ele, que tem procurado emprego, mas ainda n�o obteve sucesso. Na barraca, moram ele, a mulher Teresa e seis filhos.
A vizinha Maria das Gra�as Brand�o tamb�m admitiu que este ano o interesse pelo futebol ficou em segundo plano. “Sempre que tem Copa, a gente torce pelo Brasil. N�s somos brasileiros. Mas, infelizmente, o clima � este, de tristeza. Eu sempre enfeitei minha casa para a Copa, agora estamos nesta situa��o. Eu tenho cinco netos e duas filhas aqui. N�s n�o queremos luxo, nem riqueza. S� quero uma casa, meu cantinho para ficar”, lamentou, sem conseguir segurar o choro.
Alguns moradores s�o beb�s de colo, como � o caso do pequeno Carlos J�nior, de 4 meses, filho do pedreiro Carlos Alessandro de Souza e de Fernanda. Eles moram em uma barraca bem na entrada da quadra. Quando foram expulsos da �rea da Oi/Telerj, ficaram morando com o beb� na cal�ada. “Eu estou desempregado e atualmente vivo de biscates. N�s ocupamos o pr�dio da Oi porque o aluguel subiu muito e ficamos sem condi��es de pagar. O pouco dinheiro que tinha, investi em madeiramento, mas ficou tudo l�”, contou Carlos. Outros quatro filhos do casal foram espalhados em casas de parentes, para n�o perderem a escola e o Bolsa Fam�lia.
“Estamos todos esquecidos aqui, abandonados. N�o tem clima de Copa. Ficamos sem nada. N�o consegui reconstruir minha vida e at� hoje estou aqui”, lamentou Rosemeri Santos, que est� encostada por motivo de sa�de pela Previd�ncia Social. “N�o d� para ter clima de Copa, nem de alegria, se a gente est� vivendo nesta situa��o prec�ria. Este � o Brasil que a gente vive. A gente � que nem poeira, lixo, que eles varrem e jogam para debaixo do tapete. S� lembram da gente quando precisam do nosso voto”, protestou Vit�ria de Almeida Silva, que mora no espa�o com o marido.
A Secretaria Municipal de Habita��o informou, por meio da assessoria, que no terreno da antiga Oi/Telerj ser� constru�do um conjunto habitacional com cerca de 1.300 apartamentos, mas ainda n�o houve formaliza��o da compra do im�vel. Contudo, a posse das unidades, por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida, ser� feita por sorteio e n�o significa que os ex-ocupantes sejam necessariamente beneficiados. At� 2016, a prefeitura pretende ter 100 mil unidades habitacionais contratadas, entre im�veis entregues e em constru��o.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social informou, em nota, que das 207 fam�lias alojadas na Igreja Nossa Senhora do Loreto, 187 j� foram atendidas e que foram realizadas 158 inscri��es no Cadastro �nico. Tamb�m foram oferecidos cursos de capacita��o profissional, al�m da possibilidade de retirada de segunda via de documentos, pois muitos moradores perderam at� suas identidades quando foram expulsos da �rea que ocupavam. Segundo a prefeitura, o d�ficit habitacional no Rio � 148 mil unidades.